Era de Bronze da banda desenhada

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A Era de Bronze da banda desenhada (no Brasil, histórias em quadrinhos) foi um período de avanços e maturidade artística para as histórias em quadrinhos produzidas nos Estados Unidos, predominantemente no gênero de super-heróis. Sucedendo à "Era de Prata", na qual o gênero havia adquirido um apelo excessivamente infantil e adotado fortes influências da ficção científica, a "Era de Bronze" compreenderia as publicações lançadas entre a década de 1970 e o início da década de 1980, estendendo-se até aproximadamente o ano de 1985.

Era de Bronze da banda desenhada
Outros nomes Era de Bronze
Localização  Estados Unidos
Data 1970 - c. 1985
Anterior Era de Prata
Posterior Era Moderna

Seu término e sucessão é motivo de debate, bem como sua própria existência. Há duas teorias comumente aceitas: uma de que a "Era de Bronze" antecederia a "Era de Ferro" ou "Era Sombria" das histórias em quadrinhos, que se estenderia a partir de 1985 por toda a década de 1990, e outra de que antecederia a "Era Moderna", em vigência desde então. O escritor Grant Morrison, entretanto, sugere em seu livro Supergods que 1970 marcaria o início não da "Era de Bronze", mas sim da própria "Era Sombria", que se estenderia além de 1985 e seria marcada pela tentativa de "levar o mundo real para os quadrinhos".[1]

História

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Início e transição entra "Era de Prata" e "Era de Bronze"

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É comumente aceito que a Era de Prata foi sucedida pela Era de Bronze.[2] O marco de transição entre um período e o outro, entretanto, não é claro, e existem diversas possibilidades tanto para o término de uma quanto para o início da outra.[3] Uma possibilidade seria o ano de 1969, quando teriam sido publicadas as últimas revistas com preço de capa de 12 cents.[4] O pesquisador Arnold T. Blumberg acredita que a transição entre os dois períodos foi gradual, se estendendo desde o final da década de 1960 até 1973, quando foi publicada a história The Night Gwen Stacy Died. Nela, Gwen Stacy, a então namorada do super-herói Homem-Aranha, é morta — um dos mais emblemáticos e memoráveis momentos da história do gênero, segundo Blumberg: "[a morte de Gwen Stacy] é o evento que muitos citam como o mais tocante e mais memorável na memória coletiva dos fãs", disse em artigo de 2003. A história, segue defendendo, representaria o ápice de um ideal que vários profissionais vinham defendendo naquele período de transição: abordar temas mais maduros, ainda que estes estivessem sendo "filtrados" pela "lente simplista dos super-heróis". A morte de Stacy representaria o fim da inocência dos leitores e das histórias mais leves que haviam marcado o período.[5]

O historiador Will Jacobs sugere como marco de transição abril de 1970, mês em que Julius Schwartz, o homem responsável por iniciar a Era de Prata, abandonou o cargo de editor da revista Green Lantern, protagonizada por um dos heróis que ele havia ajudado a reinventar, em favor de Denny O'Neil e Neal Adams[6] O trabalho da dupla é comumente apontado como o término da Era de Prata. Se na década de 1960 o personagem era um dos mais expoentes exemplos do otimismo que permeava as histórias do período, as histórias de O'Neil e Adams retratavam o Lanterna Verde como um personagem que sabia que "os dias felizes" estavam para trás e questões mais sérias eram levantadas. Na coluna "Scott's Classic Comics Corner", um dos jornalistas do site americano Comic Book Resources apontaria diversas possibilidades para esse término. Embora uma das mais aceitas fosse a publicação de Green Lantern/Green Arrow #76, a primeira história de O'Neil e Adams, houve outros eventos significativos naquele mesmo ano.[3]

Tão aceita quanto Green Lantern/Green Arrow #76 como "marco transitório" está a publicação de Conan the Barbarian #1, pela Marvel Comics.[3] A revista, escrita por Roy Thomas, possui ainda maior valor dentro do contexto em que se inseria: "Em 1970, a assim chamada Era de Prata dos quadrinhos norte-americanos encerrava-se de vez. Conforme os veteranos das HQs (alguns dos quais estavam na indústria desde seu nascimento!) se afastavam do gênero, uma nova safra, a primeira composta por fãs de quadrinhos, tomava seu lugar. O expoente maior destes fãs que viraram criadores foi Roy Thomas", disse o jornalista Pedro Hunter em texto publicado em 2001[7] Não apenas revistas, mas atitudes tomadas por certos profissionais naquele ano também poderiam representar o fim da Era de Prata: a aposentadoria do editor Mort Weisinger, até então responsável pelas histórias de Superman, e a saída o emblemático desenhista e escritor Jack Kirby da Marvel seriam outras possibilidades, sugere.[3] Independente de qual evento, especificamente, teria engatilhado a transição, o surgimento de histórias mais "realistas", abordando temas de maior relevância social, seria uma tendência que representaria o início da Era de Bronze.[8]

Para alguns pesquisadores, a Era de Bronze começou em 1969, quando Robin deixa Batman para ingressar na faculdade. E teria terminado em 1985, com a Crise das Infinitas Terras[9] Já outros, a Era de Bronze começa em 1973,[10] tendo como fato relevante o relaxamento do código americano de ética dos quadrinhos, que após a sua revisão em 1971 permitiu, por exemplo, a série de terror da editora, que inclui o surgimento de Blade.[11][12]

Conan, o Bárbaro e uma maior exploração do erotismo

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E o maior erotismo das histórias, como na série de Conan, o Bárbaro, Conan (assim como a Revista MAD) logo seria publicado num formato "magazine, formato maior que os dos comic books (17 x 26 cm) em preto e branco para não sofrer censura do Comics Code.[13]

Questões raciais

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Outras mudanças

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Como característica geral são citadas as várias reformulações de grupo de super-heróis, principalmente os X-Men e os Novos Titãs,[9] o surgimento de super-heróis das minorias e os não super-heróis e a alusão cada vez maior a temas então banidos pelo código, tais como o uso de drogas (Harry Osbourn na Marvel e Ricardito na DC).[10]

Essas mudanças criaram um conjunto de características que diferenciaram o período na história dos quadrinhos, assim como havia acontecido anteriormente com as chamadas Era de Ouro e Era de Prata dos Quadrinhos.

Outras mudanças que são costumeiramente citadas como marcos da transição entre a Era de Prata e a Era de Bronze são:

Retirada de criadores populares, com a aposentadoria de Mort Weisinger,[14] editor das histórias do Superman, e mudança de Jack Kirby para a DC.
Reconfiguração de muitos personagens populares, como um "obscuro" Batman de Denny O'Neil e Neal Adams, que se aproximaria da concepção original dos anos de 1930,[15] várias mudanças em Superman tais como o desaparecimento da Kryptonita e a perda temporária dos poderes da Mulher Maravilha.[16]
A morte de personagens importantes. Além da morte de Gwen Stacy,[10] na DC houve a dos membros da Patrulha do Destino e vários participantes da Legião dos Super-Heróis.

Quanto ao término da Era de Bronze, não há uma data de consenso, predominando para fins de discussão o ano 1985,[9] pois sem dúvida a DC Comics iniciou nesse período uma retomada da liderança do mercado americano que havia perdido durante a fase Marvel da Era de Prata (também chamada de Era Marvel).

No Brasil, as mudanças da primeira fase da Era de Bronze americana (1969-1980) praticamente foram ignoradas, pois nesse período o mercado de quadrinhos nacionais foi dominado pelos personagens infantis, liderados pela Turma da Mônica e Zé Carioca e os demais personagens Disney, além de adaptações de desenhos animados da TV, principalmente da Hanna-Barbera.[17]

Mas houve uma convergência com os americanos, quando começaram a repercutir entre os leitores brasileiros as mudanças estilísticas e temáticas ocorridas nas histórias de super-heróis a partir dos anos 80, graças a um bem feito trabalho de divulgação da Editora Abril que assumiu a publicação da linha de super-heróis no país.[18]

O fim da Era de Bronze

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Durante os anos de 1980 surgiria a arte de uma nova geração de quadrinistas internacionais, das quais se destacaram Frank Miller, Grant Morrison, Alan Moore dentre outros, que fizeram com que os críticos considerassem de fato mais esse período como diferenciado na história do gênero. Muitos o chamaram de Era Moderna dos Quadrinhos.

Os sinais dessa nova fase que viria substituir a Era de Bronze já haviam surgido com a introdução dos chamados Graphic novel, termo popularizado por Will Eisner para apresentar em 1978 seu trabalho Um Contrato com Deus. O celebrado autor achava que comics não se aplicava a referida obra, que, apesar de ser em forma de quadrinhos, não teria nada de engraçada.[19]

Utilizava-se de uma temática adulta e séria (No Brasil sugeriu-se que o termo fosse traduzido para arte sequencial). Frank Miller seria um dos criadores dos anos 80 que apontaram como influência essa obra de Eisner[15] e a popularização do novo formato inclusive para super-heróis seria então uma característica marcante da nova era dos quadrinhos, a Era Moderna.

Se a "Era de Bronze" terminaria entre 1985 e 1986, com a publicação de histórias como Crise nas Infinitas Terras,[20] Watchmen e The Dark Knight Returns, o "realismo" exarcebado do período seguinte o levaria a ser denominado "Era de Ferro"[2] ou "Era Sombria dos quadrinhos".[21][22] O escritor Grant Morrison, em seu livro Supergods, apontaria que 1970 marcaria o início não da "Era de Bronze", mas sim da "Era Sombria", que se estenderia além de 1985 e seria marcada pela tentativa de "levar o mundo real para os quadrinhos".[1][1]

Linha de Tempo

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1969-1979

  • 1969: Robin deixa Batman para entrar na universidade.
  • 1971: O Falcão ganha status e se torna o parceiro do Capitão América.
  • 1972: Marvel começa a publicar The Tomb of Dracula (A tumba de Drácula).[23]
  • 1973: A morte de Gwen Stacy na história The Night Gwen Stacy Died, publicada na revista do Homem-Aranha Amazing Spider-Man #121.
  • 1973: o surreal Howard the Duck faz sua primeira aparição nos quadrinhos e se torna o primeiro protagonista não-super-herói da Marvel a ganhar popularidade. Ele estrelaria série própria em 1976 e tira diária, além de um filme em 1986.
  • 1974: Wolverine estréia em Incredible Hulk #181.
  • 1977: Dave Sim lança os quadrinhos independentes Cerebus, a maior série ininterrupta (300 revistas) de quadrinhos bem como o mais longo trabalho de um artista no gênero.
  • 1978: Após iniciativa de Roy Thomas, a Marvel lança Star Wars, quadrinhos baseados no filme e que rapidamente se tornam na revista mais vendida da época.
  • 1978: DC cancela metade das revistas numa crise editorial apelidada de "Implosão DC".
  • 1979: DC publica The World of Krypton, a primeira mini-série de quadrinhos. A editora ganha maior flexibilidade nos títulos.

1980-1985 (The Grim ou Era Sinistra, também chamada de era do "durão" e "amargo")

  • 1980: Primeira revista da DC Comics (The New Teen Titans) ou Os Novos Titãs, que é bem-sucedida após a crise e revitaliza os super-heróis da editora.
  • 1982: Marvel publica Contest of Champions, (O Torneio dos Campeões), o primeiro evento a reunir todos os maiores super-heróis da Editora.
  • 1982: The G.I. Joe é lançado pela Marvel Comics e se transforma no título mais bem-sucedido da década.
  • 1984: Marvel publica Secret Wars (Guerras Secretas), a primeira mini-série da companhia lançada em conjunto com uma linha de brinquedos inspirada nas histórias.

Artistas da Era de Bronze

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Referências

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Notas


  1. a b c Eduardo Nasi. «Review: Supergods». Universo HQ. Consultado em 8 de outubro de 2011 
  2. a b Marcus Ramone (7 de janeiro de 2015). «Que Era que era?». Universo HQ 
  3. a b c d Scott (16 de setembro de 2008). «Scott's Classic Comics Corner: A New End to the Silver Age Pt. 1». Comic Book Resources (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2011 
  4. Bill Radfored (26 de abril de 2000). «May to see return to Silver Age of comics». The Gazette (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2011 
  5. Blumberg, Arnold T. (2003). «'The Night Gwen Stacy Died:' The End of Innocence and the Birth of the Bronze Age». Reconstruction: Studies in Contemporary Culture. ISSN 1547-4348. Consultado em 8 de outubro de 2011. Arquivado do original em 26 de julho de 2011 
  6. Jacobs, p. 154
  7. Pedro Hunter (11 de junho de 2001). «Os anos clássicos do barbarismo». Omelete. Consultado em 8 de outubro de 2011 
  8. Scott (18 de setembro de 2008). «Scott's Classic Comics Corner: A New End to the Silver Age Pt. 3». Comic Book Resources (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2011 
  9. a b c Leandro Luigi Del Manto (2008). «Esbarrando na Era de Bronze». Supremo - A Era de Bronze. [S.l.]: Devir Livraria 
  10. a b c Sérgio Codespoti (19 de setembro de 2007). «10 razões por que A Morte de Gwen Stacy é a história mais importante do Homem-Aranha». Universo HQ 
  11. Cláudio Roberto Basílio (12 de abril de 2005). «Os Negros nas Histórias em Quadrinhos - Parte 3». HQManiacs 
  12. Vôo noturno - parte 2 - Vampiros nos Quadrinhos
  13. Sérgio Codespoti (8 de maio de 2008). «Quando a nomenclatura faz a diferença». Universo HQ. Consultado em 16 de maio de 2010 
  14. Pedro Hunter (16 de Fevereiro de 2004). «HQs de luto por Julius Schwartz». Omelete 
  15. a b Érico Assis (20 de Junho de 2005). «Batman: À sombra de Frank Miller». Omelete 
  16. Cláudio Roberto Basílio (14 de setembro de 2006). «As Artes Marcias nas HQs - Parte 1». HQManiacs 
  17. Gilberto M. M. Santos (6 de maio de 2005). «Heróis da TV #1 - 1ª série». Universo HQ 
  18. Heitor Pitombo (junho de 2007). «Marvel - 40 Anos de Brasil». Revista Crash (5). Editora Escala. pp. 15 a 21. ISSN 1980-8739 
  19. Flávio Braga, Carlos Patati. Ediouro, ed. Almanaque dos quadrinhos - 100 anos de uma mídia popular. 2006. [S.l.: s.n.] ISBN 9788500016905 
  20. «DC 75 Anos Vol. 4 – A Era Moderna». Panini Comics. 15 de março de 2011. Consultado em 8 de outubro de 2011. Arquivado do original em 12 de setembro de 2011 
  21. Marcus Vinicius de Medeiros (9 de novembro de 2005). «Era dos super-heróis sombrios é tema de livro». Omelete. Consultado em 8 de outubro de 2011 
  22. Jason Sacks (15 de fevereiro de 2006). «The Dark Age: Great, Grim & Gimmicky Post-Modern Comics». Comics Bulletin (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2011. Arquivado do original em 12 de agosto de 2013 
  23. Spoiler: mais sobre o especial do Drácula da Marvel
  24. Mark Bould (2009). The Routledge Companion to Science Fiction. [S.l.]: Taylor & Francis. 131 páginas. 041545378X, ISBN 9780415453783 
Bibliografia