Esther Eng
Esther Eng (24 de setembro de 1914 - 25 de janeiro de 1970), nascida Ng Kam-ha, foi uma realizadora de cinema norte-americana e a primeira realizadora a dirigir filmes em língua chinesa nos Estados Unidos da América. Realizou quatro longas-metragens nos EUA e cinco em Hong Kong.[1][2] É reconhecida como uma pioneira que cruzou as fronteiras de raça, língua, cultura e gênero.[3][4]
Esther Eng | |
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Nascimento | 24 de setembro de 1914 São Francisco |
Morte | 25 de janeiro de 1970 (55 anos) |
Cidadania | Estados Unidos |
Etnia | Huaren |
Ocupação | realizadora de cinema, roteirista, produtora cinematográfica, film distributor, restaurateur, gerente de teatro |
Obras destacadas | Golden Gate Girl, Sum Hun |
Causa da morte | câncer |
Vida Pessoal
editarEsther Eng nasceu em São Francisco a 24 de setembro de 1914.[2] Era a quarta filha de uma família numerosa de dez filhos.[5] Os seus avós emigraram originalmente para a América de Toy Shan (Taishan) na província de Guangdong, no sul da China.[2]
Durante a sua adolescência tornou-se fã de ópera cantonesa, chegando a socializar com cantores e atores cantoneses que atuavam na cidade de São Francisco, onde existiam vários teatros de língua chinesa, que devido à sua grande comunidade de emigrantes, eram bastante bem sucedidos e que já tinham recebido alguns dos melhores atores da China.[2]
Era lésbica e vivia sem esconder a sua sexualidade.[1][2] A sua orientação sexual não afectou negativamente a sua carreira, em parte porque a homossexualidade era uma parte aceite da ópera cantonesa, à qual ela estava associada.[1]
Na época em que Heartache foi lançado, Esther Eng mudou o seu sobrenome de Ng para o mais fácil de pronunciar Eng.[1]
Faleceu de cancro a 25 de janeiro de 1970 com 55 anos de idade, no Hospital Lenox Hill, em Nova Iorque. Residia na 50 Bayard Street na época de sua morte.[2]
Carreira
editarQuando tinha 19 anos começou a trabalhar como produtora na empresa produtora de filmes do seu pai e dos seus parceiros de negócios, localizada em 1010 Washington Street, São Francisco.[2]
Ambicionando trabalhar para um estúdio em Los Angeles, o primeiro trabalho creditado de Esther Eng foi como coprodutora do filme Heartache de 1936, dirigido por Frank Tang. O filme foi filmado durante oito dias, com duas bobines de filme a cores,[2][5] e, apesar de ser ambientado em São Francisco, foi filmado num estúdio alugado em Hollywood.[5] Nesse mesmo ano, juntamente com amigos e a atriz principal do filme, Wai Kim Fong, Esther Eng foi a Hong Kong para a estreia do filme no Queens Theatre sob o título Iron Blood, Fragrant Soul.[1][5]
Após a China entrar em guerra com o Japão, Esther dirigiu o filme National Heroine (1937) sobre uma mulher piloto que luta pelo seu país.[1] O filme obteve imenso sucesso e levou a jovem realizadora a permanecer durante dois anos em Hong Kong, onde dirigiu os seus dois filmes seguintes: Ten Thousand Lovers e Storm of Envy, ambos lançados em 1938.[1] Durante o mesmo período, também codirigiu o filme A Night of Romance, A Lifetime of Regret com Wu Peng e Leung Wai-man,[1] e em 1939, realizou o filme It's A Women's World, cujo elenco era exclusivamente feminino, sendo apresentadas 36 mulheres com diferentes profissões.[1]
Regressou a São Francisco em finais de 1939 para começar a distribuir filmes cantoneses na América Central e América do Sul,[2] e em 1941, dirigiu o filme Golden Gate Girl, que recebeu uma crítica favorável na revista Variety.[1]
Entre 1946 e 1947, fixou-se temporariamente em Hong Kong para realizar um filme de guerra, contudo após meses de preparação, que incluíram a procura de locais no sul da China, Esther Eng teve de abandonar o projeto[2] e em meados de 1947 regressou à Califórnia, onde fez The Blue Jade, estrelado pela cantora de ópera cantonesa, Fe Fe Lee.[1][2] Posteriormente, as duas colaborariam noutro filme intitulado Too Late For Springtime (1949) sobre o relacionamento de uma jovem chinesa com um soldado sino-americano.[6] O tema de amor inter-racial seria novamente retratado noutra obra de Esther Eng, nomeadamente no filme rodado nas Ilhas do Hawaii, Mad Fire Mad Love, sobre um romance entre uma mulher nativa e um marinheiro chinês.[6]
Em 1950, entrou no ramo da restauração com o seu amigo Bo Bo, um ator chinês que se radicou em Nova Iorque,[2] apoiando mais tarde a sua carreira nos palcos norte-americanos. Posteriormente os dois cofundaram um restaurante com o nome "Bo Bo", o primeiro de seus cinco restaurantes em Manhattan, estando incluído outro com o nome "Esther Eng Restaurant", inaugurado em 1959.[2]
Em 1961, recebeu o seu último crédito cinematográfico como codiretora em Murder in New York Chinatown com Wu Peng, tendo dirigido todas as cenas de exteriores do filme.[6]
Estilo Cinematográfico
editarOs filmes de Eng eram, em sua maioria, dramas românticos tradicionais ou épicos de guerra, geralmente com mulheres nos papéis principais. A maioria de suas produções cinematográficas encontram-se atualmente perdidas, exceto duas: Golden Gate Girl e Murder in New York Chinatown.[5]
Legado e Homenagens
editarA 1 de abril de 2013, estreou um documentário sobre a vida e carreira de Esther Eng intitulado Golden Gate Silver Light no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong.[5][7] O filme dirigido por Louisa Wei, foi inspirado na descoberta em 2006 dos álbuns de fotos de Esther Eng, datados entre os anos de 1928 e 1948. Durante a produção do filme, Louisa Wei encontrou mais álbuns, mas nenhum registro de áudio ou filme da realizadora.[5]
O documentário Golden Gate Girls, compara a representação mediática de Esther Eng com a de Dorothy Arzner. Judith Mayne, autora de Directed by Dorothy Arzner, é entrevistada no documentário, dizendo: "Adoro o fato de que a história das cineastas agora inclui Dorothy Arzner e Esther Eng como duas das verdadeiras exceções, que provaram que era inteiramente possível construir uma carreira cinematográfica de sucesso sem necessariamente fazer parte da identidade dominante".
Filmografia
editar- Sum Hun (Heartaches) (1936) (produtora)
- National Heroine (1937)
- Ten Thousand Lovers (1938)
- Tragic Love (também conhecido como Storm of Envy) (1938)
- A Night of Romance, A Lifetime of Regret (também conhecido como Husband and Wife for One Night) (1938)
- It's a Women's World (1939) (codirigido com Lu Si)
- Golden Gate Girl (1941)
- The Fair Lady in the Blue Lagoon (também conhecida como Blue Jade) (1947)
- Back Street (também conhecido como Too Late for Springtime) (1948)
- Mad Fire, Mad Love (1949)
- Murder in New York Chinatown (1961) (codirigido com Wu Peng)
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k Wei, 2011. p.16
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Bren, Frank (23 de janeiro de 2010). «Electric phantom – the indomitable Esther Eng». China Daily. Consultado em 4 de junho de 2013. Cópia arquivada em 4 de outubro de 2012
- ↑ Wei, S. Louisa (2014). «Esther Eng». Women Film Pioneers Project. Columbia University Libraries. Consultado em 18 de novembro de 2016. Arquivado do original em 10 de dezembro de 2019
- ↑ Gray, Tim (21 de junho de 2019). «Pioneering Filmmaker Esther Eng Made Movies in the '30s and '40s on Her Own Terms». Variety. Consultado em 24 de junho de 2019
- ↑ a b c d e f g Elley, Derek (4 de junho de 2013). «Golden Gate Silver Light». Film Business Asia. Consultado em 4 de junho de 2013. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ a b c Wei, 2011. p.17
- ↑ Kerr, Elizabeth (1 de abril de 2013). «Golden Gate Silver Light: Hong Kong Review». The Hollywood Reporter. Consultado em 7 de junho de 2013
Bibliografia
editarTaylor, ed. (2011). «Women's Trajectories In Chinese and Japanese Cinemas: A Chronological Overview, S. Louisa Wei». Dekalog 4: On East Asian Filmmakers. Brighton, United Kingdom: Wallflower Press. pp. 13–44. ISBN 978-1906660314. Consultado em 4 de junho de 2013
Leitura adicional
editar- Cam, Lisa (29 de janeiro de 2020). «Why haven't we heard of early LGBTQ+ icon Esther Eng, Hollywood's first Chinese female filmmaker?». South China Morning Post
- Gadd, Christianne A. «Esther Eng: Filmmaker, Restaurateur, Gender Rebel». OutHistory. Arquivado do original em 22 de outubro de 2016
- Kantayya, Mellini (5 de março de 2018). «Trailblazing through the Decades: Esther Eng (1930s)». New York Women in Film & Television
- Lipsky, Bill (28 de novembro de 2019). «Esther Eng: Pioneering Filmmaker and Feminist». San Francisco Bay Times
- Williams, Melanie (10 de junho de 2014). «Louisa Wei's Golden Gate Girls (2013) and the (Re)discovery of Esther Eng, Chinese American Film Pioneer (1914–1970)». Women's Film & Television History Network – UK/Ireland