Estiva
Define-se como estiva ou estivagem à ação de colocar a carga a bordo de um navio. Seu objectivo é conseguir que seja transportada com um máximo de segurança para o navio e a sua tripulação, ocupando o mínimo espaço possível, evitando avarias na mesma e reduzindo ao mínimo as demoras no porto de descarga. De aqui que se possam identificar como elementos básicos da estiva a segurança e a economia.[1]
Segurança
editarAo falar da segurança, temos que contemplar três diferente aspectos:
- Segurança do navio.
- Integridade das mercadorias.
- Segurança da tripulação e estivadores.
Segurança do navio
editarA segurança do navio esta intimamente unida à distribuição da carga e teremos que atender aos seguintes critérios:«Tipos de Navios (Projetos de navio I)» (PDF)
Estabilidade do navio
editarAo carregar o navio, o primeiro que temos que ter em conta é a estabilidade e segurança, que basicamente se centra em ter uma altura metacéntrica não só positiva, sendo adequada ao tipo de navio. Uma excessiva altura metacéntrica (muitos pesos baixos e poucos altos) produzirá que o navio dê balanços muito rápidos e violentos, que podem danificar a estiva e provocar acidentes à dotação. Enquanto uma altura metacéntrica pequena fará que o barco de balanços muito lentos e que lhe custe recuperar a verticalidade, esta situação se dá sobretudo em navios de passagem, para evitar inclinações e golpes, se diz que é um barco dorminhoco, enquanto uma altura metacéntrica igual a zero (estabilidade indiferente) fará que se submetemos ao navio a uma força de sentido transversal e adquire uma escora, este não recuperar-se-á e combinará com dita inclinação. Até agora só temos falado da estabilidade transversal, como o estudo da estabilidade longitudinal não é tão importante, pois os barcos são "mais compridos que largos" e é estável longitudinalmente por construção, mas se pomos demasiados pesos em proa, o navio ao dar um proada nas ondas poderia colar-se por olho (meter a proa no mar e se afundar), mas esta é uma situação muito extrema e para a evitar não é necessário realizar cálculos específicos.
Escora
editarO navio deve carregar-se de forma que saia do porto sem escora. Antes de começar a carga é conveniente ter cheios os tanques de lastre, porque nem sempre começam a carregar pesos baixos e à medida que carregam se poderá ir deslastrando. Ditos tanques permitem afundar o navio ao finalizar a carga, sempre claro está, que a carga realizado não chegue já ao máximo de carga possível. Nas cargas de mercadorias secas a granel, operam ao revés, levar os tanques deslastrados, porque a carga irá directamente ao fundo do porão.
Calados
editarHá que planear a carga do navio de forma que o navio combine com uns calados apropriados, não só para que o navio tenha uma óptima manubrabilidade (geralmente os navios navegam melhor ligeiramente apopados), senão tendo em conta outros factores como são:
- Não ultrapassar a linha de máximo carga permitido segundo a zona pela que se vá navegar.
- Ter em conta se há restrições de calado no porto de chegada, para o qual poder-se-á carregar o navio acima desses calados, tendo em conta o peso do água e combustível que se vai consumir até a chegada.
- Ter em conta a densidade do água dos portos de saída e chegada, já que em água salgada (γ=1,025 T/m³), o calado é menor que em água doce (γ=1,000 T/m³).
- Esforços: A carga deve estar repartida da forma mais uniforme possível, de forma que não se produzam esforços descompensados ao longo da estrutura do navio. Num navio encontraremos esforços que afectam a toda sua estrutura, sendo o mais importante o esforço longitudinal, se as cabeças do barco (extremos de popa e proa) se elevam sobre o centro se produz um arrufo e no caso contrário, que o centro longitudinal se eleve acima das cabeças, se produz um quebranto.
Integridade das mercadorias
editarA questão da integridade das mercadorias deve ser estudada desde diferentes pontos de vista, pois nela entram em jogo múltiplos factores, factores que actuam de diversa forma segundo o tipo de mercadorias que se considerem. Os factores que exercem influência na integridade das mercadorias se podem classificar nas seguintes categorias:
- Factores agressivos: são factores externos ou internos às mercadorias que actuam de forma activa e agressiva sobre elas como a humidade do ar, temperatura do ar, ação bioquímica ou química, forças mecânicas, etc.
- Factores opostos: são factores que opõem resistência à ação agressiva do meio ambiente e as condições do transporte como a manipulação, a embalagem, contêiners etc.
- Fatores profilácticos: são fatores que facilitam os estivadores e dotação do navio para assegurar dita integridade da mercadoria, como são a preparação dos porões, ventilação, segregação e trincagem da carga, etc.
Portanto, à hora de considerar a integridade das mercadorias, devem-se ter em conta os seguintes conceitos: embalagem, objeto e natureza das mercadorias.
Integridade da tripulação e estivadores
editarO planeamento de uma correta estiva da carga deve assegurar a correta manipulação da mesma, ao mesmo tempo que assegura a integridade física das pessoas que vão intervir neste processo, já sejam estivadores, portuários ou dotação do navio. Por isso à hora de efetuar este planeamento, devemos ter em conta os seguintes elementos:
- Circulação: Ao estivar a carga devemos ter em conta a circulação das pessoas pela coberta e no interior do porão.
- Acesso: Os acessos ao porão, entre-pontes e à mercadoria estivada deve estar garantida com segurança. Estes acessos devem estar planificados não somente para poder realizar um adequado trincagem da carga, senão para depois à hora de descarregar, que as diferentes partidas sejam acessíveis da forma mais cómoda possível e que sua manipulação seja a correta.
- Mercadorias perigosas: As matérias perigosas devem estar indicadas da forma mais clara possível para assegurar que manipular-se-ão adequadamente.
Economia
editarA economia na estiva consegue-se tendo em conta os seguintes fatores:
- Conhecimento dos espaços de carga do navio: É primordial que o oficial tenha um perfeito conhecimento dos espaços de carga de que dispõe. Não só de sua capacidade de carga obtido dos planos, mas de todas as medidas e a situação dos elementos que há em seu interior (escalas de acesso, sistema de encanamentos, postos de manobra de entre-pontes, etc.), bem como das possibilidades que tem para estivar diferentes tipos de cargas, por exemplo, a possibilidade de carregar contêiners (se se dispõe de pocetes para os twistlocks, pontos de amaragem, etc.). Outros elementos que deve conhecer à perfeição é o sistema de escotilhas, as possibilidades que oferecem e os espaços de cargas aos que podem aceder os meios de cargas e descargas do navio com segurança.
- Planeamento de cargas: Antes de iniciar o carregamento há que preparar o plano de estiva, onde se propõe como se vai realizar, tendo em conta os portos de cargas e descarga da mesma, o tipo de mercadoria, o peso, as propriedades físico-químicas, o embalagem, a perda de estiva, etc. Não obstante, muitas vezes o navio não sairá carregado como se tinha planeado, pois com frequência as listas de cargas aumentam na última hora, ou aparece uma partida grande para o último porto de descarga quando já estão todos os planos dos porões cheios, e ter-se-á que negociar com o carregador se essas cargas se colocam sobre outra que terá que ser descarregada antes, com a conseguente remoção, logicamente à sua custa.
- Outros factores que se devem ter em conta são:
- Evitar os sobrecarregamentos.
- Ter em conta o acesso às diversas partidas e sua manipulação.
- Preparação do porão: Antes de iniciar o carregamento há que preparar o porão para esta operação, tendo em conta fundamentalmente as cargas que se vai transportar e a que tem sido transportada anteriormente. Isto obriga a ter preparados uma série de elementos de estiva (madeira de estiva, separadores, marcas), e realizar uma série de operações nos porões (varredura, baldeio, secagem, ventilação, desinfecção, etc.)
Ver também
editarReferências
- ↑ «Manual do trabalho portuário e ementário» (PDF). Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. 2001
Bibliografia
editar- Contentores e Equipamento Associado Manuel Ventura
- Greenway, Ambrose (2009). Cargo Liners: An Illustrated History. Barnsley, South Yorkshire, UK: Seaforth Publishing. ISBN 9781848320062
- Kummerman, K and Jacquinet, R., “Ship’s Cargo – Cargo Ships”, MacGregor Publications 1979
- “The History of American Bureau of Shipping 1862 – 1994”, ABS 1995