Exército Insurgente Makhnovista
O Exército Negro ou Makhnovismo, também conhecido como Exército Insurgente Makhnovista, foi um exército revolucionário sob o comando do anarquista Nestor Makhno durante a Guerra Civil Russa e a Revolução Ucraniana.
Exército Insurgente Makhnovista | |
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Революційна Повстанська Армія України | |
Participante na Guerra Civil Russa | |
Uma bandeira usada pelo 2º Regimento de Infantaria Consolidado do Exército Negro Inscrição em russo: "Morte aos opressores dos trabalhadores" | |
Datas | 1918-1921 |
Ideologia | Anarcocomunismo Extrema-esquerda |
Objetivos | Makhnovtchina |
Organização | |
Líder | Nestor Makhno |
Sede | Huliaipole |
Área de operações |
Sudeste da Ucrânia |
Efetivos | Aprox. 130 mil |
Relação com outros grupos | |
Aliados | Bolchevique (1918-1919; 1920) Diretório da Ucrânia (1919) |
Inimigos | Potências Centrais (1918) Movimento Branco (1919-1920) Bolchevique (1920-1921) |
Durante os anos de 1917 e 1921, centenas de guerrilhas atuaram, em especial no sul da Ucrânia, para combater o regime do Hetman, a ocupação austro-húngara e os Exércitos Branco e Vermelho.
A principal delas, comandada pelo jovem camponês anarquista Nestor Makhno. O Exército Negro atuou simultaneamente como grupo de auto-defesa do campesinato local contra o domínio imperialista austríaco e alemão, e guia revolucionário de seu movimento social, cujas bases estavam fincadas na autonomia, auto-governo, voluntarismo e no Comunismo Libertário.[1]
Antecedentes
editarUma série de revoluções, revoltas e insurreições precederam os eventos da revolução ucraniana; desde o século XIV, o campesinato local lutou bravamente contra a ocupação da região pelo imperialismo russo. Mesmo as tentativas do Czar de parar as revoltas, ocorridas em Zaparojié, e outras regiões, não puderam frear o espírito de vida livre do povo ucraniano, que sobreviveu durante séculos até atingir seu ápice nesse momento histórico. O movimento makhnovista é somente uma das inúmeras expressões da consciência e dos anseios de liberdade e autonomia do povo trabalhador organizado.[2]
A partir de Março de 1917, os eventos históricos da Revolução de Fevereiro começaram a repercutir na Ucrânia. O fim do governo Czarista levou a uma sucessão de expropriações e conflitos entre a pequena burguesia nacional, os latifundiários e a massa camponesa.[3]
Liberto pela anistia geral de todos os presos, Makhno começa a atuar na formação de sindicatos e associações camponesas, até então inexistentes no país, e a organizar a massa trabalhadora da Ucrânia. Logo se envolve em pequenos grupos anarco-comunistas que comandam expropriações e distribuem a terra entre os camponeses. Tal atuação, fez-lhe ganhar do campesinato uma fama de "Robin Hood"[4][5]
1918 - A revolução
editarCom a tomada do poder pelos bolcheviques em Outubro, a Ucrânia foi entregue ao domínio alemão através do tratado de Brest-Litovsk. A ocupação, somada ao governo semi-feudal do Hetman Skoropadsky tornou a vida camponesa insustentável.[6]
As cargas tributárias eram crescentes, grande parte da produção camponesa era confiscada para alimentar a guerra, e os purgos antissemitas tornaram-se cada vez mais constantes, enquanto que os camponeses que se revoltavam contra essa situação eram geralmente fuzilados.[1][7][8]
Frente a esses acontecimentos, o campesinato começou a apoiar cada vez mais as ideias radicais do movimento makhnovista, cujo apoio excedeu Alexandrovsk e Goulai-Polé, e se expandiu por quase todo sul da Ucrânia. Os grupos insurrecionais começaram a se formar em diversas aldeias e rapidamente tomaram proporções cada vez maiores.[7]
Por volta de Setembro, as guerrilhas ucranianas decidiram unificar-se e formar um Estado-Maior do exército localizado em Goulai-Polé: a revolução teve início.[9]
1919 - A expulsão dos alemães e o embate com Denikin e os bolcheviques
editarCom os eventos da revolução alemã e as derrotas no front, a ocupação alemã na região tornava-se cada vez mais custosa. As revoltas camponesas exerceram um papel fundamental no desgaste do poder de Skoropadsky, que aos poucos perdeu apoio tanto da burguesia nacional quanto do poder estrangeiro. A essa altura, parte das próprias forças alemães deixavam que facilmente as desarmassem.[7]
A enfim derrocada do poder alemão na região pela atuação das revoltas camponesas, forçou a fuga de Skoropadsky, temeroso por ser morto pelo Exército Insurgido, ou pelo crescente poder de Symon Petliura, possibilitando a formação do Território Livre. A região passou a ser dividida entre os três grupos existentes na época: à leste pelo nacionalista Simon Pletiura, no Sul por Makhno, e a Oeste pelos Bolcheviques. Por vezes, estes últimos puseram-se em guerra com os dois primeiros. Symon_Petliura foi forçado, após apenas um mês da formação de sua Rada Central, a abandonar a Ucrânia partindo para regiões fronteiriças, o que fortaleceu o poder bolchevique, embora este tivesse a desaprovação da população local.[10]
O poder bolchevique se relacionou de forma hostil com o makhnovismo, tendo-o declarado ilegal e buscando suprimir, a todo custo, sua liberdade de associação e imprensa. Em especial Leon Trotsky, que liderava a frente bolchevique na Ucrânia, através da ordem 1824 declarava todo e qualquer congresso dos anarquistas ilegal, e que todos os seus organizadores seriam imediatamente fuzilados.[11] Em frente à campanha da contra-revolução de Denikin, tais atitudes impediram a melhor organização do movimento makhnovista, dado que esses congressos eram utilizados pelos anarquistas para discutir questões pertinentes à sua organização militar.[12][13]
Essas ações tiveram consequências terríveis para o makhnovismo, seu território em grande parte foi invadido e saqueado pelos denikistas, enquanto as mulheres e crianças eram submetidas aos mais terríveis abusos.[7]
Por um curto período de tempo, a revolta de Grigoriev, líder contra-revolucionário que era associado aos bolcheviques, mas que os traiu e entregou o fronte a Denikin, forçou que os negros e vermelhos cooperassem para impedir que o exército reacionário se apossasse da Ucrânia; mas logo após sua derrota, executado por Makhno em meio a um congresso que organizou para capturá-lo, as agressões retornaram. Os bolcheviques muitas vezes deixavam de lutar contra os brancos para combater os makhnovistas e, sob estas circunstâncias, acabaram lançando a Ucrânia nas mãos do Exército Branco.[1][14]
Peregonovka e o destino da revolução
editarOs makhnovistas pareciam perdidos, foram forçados a retornar até Uman, com mais de 5 mil homens feridos. A pouca mobilidade devido ao grande número de homens machucados os impedia de realizar grandes deslocamentos, e ao mesmo tempo, estavam cercados a Leste e a Norte por Symon Petliura, e a Sul e Oeste por Denikin, parecia ser o fim da revolução. No norte, os denikistas organizaram uma massiva invasão em Moscou, uma das mais populosas e importantes cidades russas, pondo o poder bolchevique em xeque.[1][7][15]
Os guerrilheiros makhnovistas, situados na pequena aldeia de Peregonovka, decidiram fazer um último sacrifício, cessaram de recuar, e decidiram ir a encontro do exército denikista. Makhno foi separados dos mesmos, junto a um pequeno grupo de 300 homens de cavalaria, montados em suas tachankas. Por volta da madrugada, ambos exércitos se encontraram, e travaram uma luta que durou mais de 6 horas. Apenas quando a luta estava em seu ápice, com a frente denikista forçando os guerrilheiros makhnovistas a recuar, depois de horas de um desgastante embate, Makhno, junto a seus cavaleiros apareceu e rompeu o fronte inimigo.[7][15][16]
Sua tropa deu a volta pelo campo de batalha e atacou os Denikistas por trás, e os fez, já desgastados, bater em retirada.
Essa vitória histórica, deu forças à frente anarquista para organizar um contra-ataque massivo, tomando as cidades de Alexandrovsk, Ekaterinoslav, Goulai-Polé, Krivoi Rog, Nikopol ucra, Melitopol, Mariupol, Berdiansk, Sinelnikov, Volnovaka e Pavlogrado.[17] Os anarquistas tomaram as principais bases de suprimento pertencentes aos brancos, forçando-os a mudar o foco de seu exército da frente Norte à Sul.[7][18]
O makhnovista Marchenko, chefe da cavalaria, assim como Fedir Shchus, desempenharam um papel fundamental junto a Makhno nesse embate.
1920 - A derrota de Denikin e a traição bolchevique
editarO recuo do Exército Branco permitiu aos anarquistas um curto espaço de tempo para se reorganizarem. Realizaram novos congressos, onde se decidiu como proceder com o próprio, no entanto, uma certa ingenuidade fez com que os anarquistas acreditassem que os bolcheviques, tendo em vista seu papel fundamental para a revolução, não os voltariam a trair.[7]
Muito embora eles tivessem fuzilado, sobre o pretexto de serem "bandidos que promovem a desordem pública", parte do Exército Insurgido em 1919, os makhnovistas não tomaram, até que os bolcheviques os atacassem, sérias medidas contra suas investidas.[14]
Por mais uma vez, os bolcheviques tentaram impor seu poder sobre a makhnovtchina, com esforços constantes para assassinar Makhno, fuzilamentos de camponeses que ajudaram ou eram simpatizantes dos makhnovistas, que segundo estimativas, ultrapassaram 200 mil, e os makhnovistas, novamente, se puseram em guerra.[19]
Em decorrência dos avanços do Exército Branco, no entanto, acabaram por assinar um tratado político-militar, no qual os bolcheviques reconheciam a autonomia dos anarquistas e prestavam-se a respeitar seu território.[7][15][16][17] por alguns meses, os makhnovistas puderam se reorganizar e formar uma investida contra Wrangel. Enquanto Makhno, que há pouco havia se recuperado de uma infecção de tifo e já estava novamente fora do fronte, devido a um ferimento no campo de batalha, se recuperava, Simon Karetnik liderou os avanços anarquistas na Crimeia.[7][20]
O cerco de Perekop, seria a última batalha da Frente Sul, na qual os anarquistas e bolcheviques organizaram um massivo ataque conjunto, que terminaria na travessia de Syvach e na tomada, em 14 de Novembro, de Sinferpol, e da derrota posterior do Exército Branco.[7][17]
A Traição
editarAproveitando-se do então fim da guerra, o Exército Vermelho, representado por Leon Trotsky, convidou a Simon Karetnik e seus homens para discutir o acordo político-militar com os makhnovistas, e estes acabaram sendo pegos numa emboscada e fuzilados pelo Marechal Frunze. No mesmo dia, prenderam os membros da Nabat ucraniana, incluindo o anarquista Vsevolod Voline, e às 11 horas da manhã, bombardearam a Goulai-Polé.[7][15][17][20][21]
1921-1924 - Derrota e declínio do Movimento Makhnovista
editarOs makhnovistas se puseram numa guerra sanguinária. Para os bolcheviques, não bastava somente vencer os anarquistas, como humilhá-los e punirem a todos os seus familiares. Por muitas vezes, suas aldeias eram queimadas e seus familiares, mesmo sem qualquer envolvimento com o Exército Makhnovista, mortos.[7][19]
Em 28 Agosto de 1921, o movimento makhnovista foi oficialmente derrotado. Os bolcheviques mobilizaram uma frota de 350 mil soldados, e, apesar do número de baixas superior à dos anarquistas, aos poucos foram forçados a recuar pelo quantitativo de homens, até que deixaram o país rumo à Romênia.[7]
Voline ficou preso até 1922, quando foi exilado após pedidos de sindicatos de todo mundo, por fazer uma greve de fome na prisão. Já Makhno e seu grupo se exilaram na França, formando o grupo dos anarquistas russos no exílio (Dielo Truda).[22]
O Makhnovismo no pós-revolução
editarMesmo na ilegalidade, o movimento anarquista seguiu existindo na URSS durante os anos 20,[23] e, durante a segunda guerra mundial, organizou grupos de guerrilhas que pretendiam restabelecer a Nabat e combater tanto aos nazistas quanto aos soviéticos.[24][25] Atualmente, algumas guerrilhas antinazi na Ucrânia reivindicam o título de "Exército Makhnovista".[26] Alguns historiadores também relatam purgos nos anos 30 e um complô makhnovista descoberto pelo poder soviético.[27]
Organização
editarEm seu auge, em 1919, o Exército Insurgente contava com 83.000 soldados de infantaria, 20.135 de cavalaria, 1.435 metralhadoras, 118 armas de artilharia, sete trens blindados e vários carros blindados e tachankas, totalizando pouco mais de 100 mil homens.[28][29]
- Batko Makhno (Huljai-Pole (Гуляйполе); anarco-comunista)
- Simon Karetnik (Huljai-Pole; anarco-comunista)
- Marchenko (Huljai-Pole; anarco-comunista (1907))
- Grigory Vasilevsky (Huljai-Pole)
- Boris Veretelnikov (Huljai-Pole; SR; anarco-comunista (1918))
- Peter Gavrilenko (Huljai-Pole; anarco-comunista (1905))
- Vasily Kurilenko (Novospassovka)
- Viktor Belash (Novospassovka; anarquista)
- Kalašnikov (Huljai-Pole; anarquista)
- Mikhalev-Pavlenko (deminer)
- Fedir Shchus (Bolšaja Mihailovka)
- Ivan Lepetchenko (Huljai-Pole; anarquista)
- Aleksandr Lepetchenko (Huljai-Pole; anarquista)
- Dmitry Ivanovich Popov (Moscow; Esquerda SR)
Ver também
editarReferências
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- ↑ [1]
- ↑ [2]
- ↑ [4][http://www.revoltlib.com/?id=3364
- ↑ [3]
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- ↑ https://theanarchistlibrary.org/library/nestor-makhno-the-struggle-against-the-state-and-other-essays
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- ↑ a b https://theanarchistlibrary.org/library/voline-the-unknown-revolution-1917-1921-book-three-struggle-for-the-real-social-revolution#toc13
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- ↑ http://libcom.org/history/1921-1953-chronology-russian-anarchism
- ↑ https://redblackwritings.files.wordpress.com/2014/07/dubovik-rublyov-after-makhno-hidden-histories-of-anarchism-in-the-ukraine.pdf
- ↑ https://www.popularfront.co/underground
- ↑ http://ns210054.ovh.net/history/final-purging-makhnovists-1937-1938
- ↑ https://theanarchistlibrary.org/library/kolbj-rn-markusson-to-what-extent-was-makhno-able-to-implement-anarchist-ideals-during-the-russ.lt.pdf
- ↑ https://libcom.org/files/Sean_Patterson.pdf