Experimento Pitești
O Experimento Pitești refere-se a uma série de torturas físicas e psicológicas realizadas na prisão de Pitești, localizada na Romênia, entre os anos de 1949 a 1951 pelas autoridades comunistas, com o objetivo de "bestializar" e "reeducar" presos políticos e religiosos para que mudassem de personalidade e obtivessem, assim, obediência absoluta[1] ao Partido Comunista Romeno.
Prisão Pitești | |
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Entrada da antiga prisão | |
Localização | Strada Carpați 4, Pitești, Romênia |
Tipo | Prisão política |
Administração | Partido Comunista Romeno |
Inauguração | 1942 |
Fechamento | 1952 |
Situação | Fechada |
As estimativas para o número de pessoas que passaram pelo experimento são calculadas a partir de 1000[1] e 5000[2] indivíduos. O ativista Virgil Ierunca se referia a Pitești como o maior e mais intensivo programa de tortura de lavagem cerebral no Bloco de Leste[3].
Ao começo
editarAs primeiras etapas de “reeducação” ocorreram na prisão de Suceava e foram posteriormente adotadas em Pitești e Gherla, esta última com menor intensidade[4].
De acordo com um testemunho recolhido[5]:
Tive choques de corrente elétrica até desmaiar (...), de agulhas debaixo das unhas, de testículos batidos com lápis.
O grupo de supervisores era chefiado por presos políticos sob o comando de Eugen Turcanu, que escolheu um grupo de pessoas "reeducadas" como assistentes sob o nome de Organização de Prisioneiros com Crenças Comunistas[6].
Estágios de "reeducação"
editarO processo teria início em 1949 envolvendo tortura física e humilhação[7] e embora no início o diretor da prisão, Dumitrescu, não fosse favorável, acabou cedendo, chegando a participar de alguns espancamentos.
Os detidos receberam espancamentos severos e regulares e foram forçados a torturar uns aos outros para desencorajar a lealdade[8], depois forçados a comparecer a sessões programadas, com temas como materialismo dialético e Joseph Stalin acompanhando tais sessões de violência aleatória.
Primeira etapa: "Desmascaramento externo"
editarAs vítimas foram inicialmente interrogadas por meio de tortura física para que pudessem revelar detalhes íntimos de suas vidas pessoais[9], muitos dos detidos acabaram reconhecendo crimes falsos como uma esperança de evitar a tortura[6].
Segunda etapa: "Desmascaramento interno"
editarOs torturados foram forçados a revelar os nomes daqueles que se comportaram de forma menos brutal[9].
Terceiro estágio: "Desmascaramento moral público"
editarOs presos foram forçados a denunciar suas crenças, lealdades e valores. Os detidos religiosos se vestiam de Jesus Cristo e eram humilhados por outras pessoas[10], além de serem forçados a blasfemar de símbolos religiosos e textos sagrados[6].
Tortura
editarAlém da violência física, os detidos eram obrigados a realizar trabalhos humilhantes, como limpar o chão com um pano entre os dentes, sendo mantidos e mal alimentados em condições insalubres[11]. Os detidos eram espancados para permanecerem acordados na mesma posição, com qualquer tipo de oração sendo brutalmente punida, além de serem forçados a comer rapidamente, incluindo fezes e vômito[12]. O batismo cristão era ridicularizado, com a Sagrada Comunhão sendo substituída por fezes, além de baldes de urina e material fecal sendo jogados nos prisioneiros.
Os métodos utilizados foram derivados da pedagogia de Anton Makarenko em relação à reabilitação[6]. Turcanu o citaria como um modelo de inspiração[10].
Consequências da tortura
editarComo Bacu explica[13]:
Injetando gradativamente no subconsciente da vítima informações contrárias ao que sempre é aceito como real e verdadeiro, alterando e depreciando constantemente a realidade existente e substituindo-a por uma imagem fictícia, o reeducado finalmente obteve o propósito de desmascarar: fazer a mentira ser tão real para a vítima que ela se esquece do que antes fazia sentido para ela
O historiador francês Stephane Courtois fez as seguintes afirmações sobre o experimento:
Piteşti foi uma experiência inacreditável, levada ao extremo. Sim, houve outros experimentos de engenharia psicológica como o do Khmer Vermelho com a população cambojana, mas eles eram banais em comparação. No Camboja, as pessoas eram obrigadas a participar, depois do trabalho, de reuniões em que tinham de repetir slogans o tempo todo. Mas em Piteşti eles trabalharam dia e noite, sem interrupções, na psicologia dos jovens, para transformá-la completamente. E até agora, que eu saiba, esta é a única experiência desse tipo. Talvez coisas novas sejam descobertas nos arquivos de Moscou, na China ou em outros lugares, mas de acordo com o estado atual de nosso conhecimento histórico, é uma experiência única. É de grande interesse porque nos mostra até onde o projeto comunista pode ser levado, até onde uma experiência pode ser levada.
Como resultado da tortura, estima-se que entre 100 e 200 detidos morreram, com ossadas sendo descobertas até os dias atuais.[14] Seja como for, as causas das mortes foram falsificadas nas certidões de óbito.
O final
editarEm 1952, o Ministro do Interior Teohari Georgescu seria posteriormente expurgado do partido junto com Vasile Luca e Ana Pauker. Com o expurgo, membros da Organização de Prisioneiros com Crenças Comunistas foram julgados secretamente por abuso e alguns de seus membros teriam sido condenados à morte[11].
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Rusan
- ↑ Popa
- ↑ Ierunca, p. 41
- ↑ Măgirescu; Rusan
- ↑ «MOARA DRACILOR». www.procesulcomunismului.com. Consultado em 28 de setembro de 2020
- ↑ a b c d Cioroianu, p. 317
- ↑ Cesereanu; Măgirescu; Rusan
- ↑ Cesereanu; Cioroianu, p. 317; Rusan
- ↑ a b Cesereanu; Cioroianu, p. 317
- ↑ a b Măgirescu
- ↑ a b Cioroianu, pág. 318
- ↑ «Fenomenul Pitești, pandemoniul închisorilor comuniste. Tortură și teroare la Pitești!». www.historia.ro (em romeno). Consultado em 28 de setembro de 2020
- ↑ Bacu, p.103
- ↑ «Former Communist Prisons in Romania». UNESCO. 15 de Abril de 2024. Consultado em 9 de Outubro de 2024