Fados e Guitarradas
Fados e Guitarradas era um programa radiofónico da antiga Emissora Nacional, que se dedicava à transmissão do fado.[1] O programa durou desde 1937 até 1961, e teve duas fases: a fase do Retiro da Severa e a fase da Maria Teresa de Noronha.
País | Portugal |
Idioma(s) | português |
Emissora original | Emissora Nacional |
Apresentador(es) | Fernando Pessa João da Câmara |
Transmissão original | 1937 - 1961 |
Fase do Retiro da Severa
editarA fase do Retiro da Severa foi desde 1937 até 1941. O regime político do Estado Novo não gostava do fado, porque para o regime o fado era deprimente, fatalista e doente, demonstrando que é deprimente ser português. Tal caso foi vincado nos microfones da Emissora Nacional, quando em 1934 o palestrante Luís Motta leu palestras sobre o fado neste posto radiofónico, afirmando que o fado era a canção decadente da Raça. O ciclo de palestras originou um livro chamado Fado, Canção de Vencidos, publicado na mesma altura. Mas a Emissora Nacional considerava que devia haver um programa de fados para as gentes do povo, pelo que rapidamente a estação decidiu fazer um contrato com o Retiro da Severa, cujo contrato implicava a transmissão de uma sessão de fados duas vezes por semana, em que seriam apresentados os fadistas mais conceituados da época e os novos fadistas, cuja apresentação ficou a cargo de Fernando Pessa.
As transmissões começaram em 1937, na estação de Ondas Médias de Barcarena e na estação de Ondas Curtas CSW, e geralmente eram transmitidas à noite, em horário nobre. Neste programa, cantavam em direto grandes lendas do fado como Alfredo Marceneiro, Berta Cardoso, Maria Alice, Ercília Costa ou Manuel Calisto, e foi onde Amália Rodrigues se estreou em 1939.
O programa foi um sucesso, mas com a chegada de António Ferro à Presidência da Direção da Emissora Nacional em 1941 o programa foi cancelado. A partir daí, a Emissora Nacional passou a realizar critérios limitativos à transmissão de fados, proibindo os que fossem fatalistas ou doentios, para não transparecer uma imagem de depressão na rádio.
Fase da Maria Teresa de Noronha
editarA fase da fadista Maria Teresa de Noronha já tinha começado em 1938, quando esta decidiu pela primeira vez cantar na Emissora Nacional, num programa dedicado exclusivamente a si, com acompanhamento de guitarra de Fernando Freitas e de viola por Abel Negrão, cujo programa foi apresentado por João da Câmara. O sucesso do programa levou a que Maria Teresa de Noronha gravasse pela para a Valentim de Carvalho o seu primeiro disco, o "Fado dos 5 Estilos", e foi contratada pela própria Emissora Nacional para realizar um programa quinzenal de fados em alternativa ao Retiro da Severa.
O programa iniciou-se em 1938, e era transmitido quinzenalmente na Emissora Nacional, quer no Programa A, quer no Emissor de Ondas Curtas CSX, todos os domingos às 10:00, a seguir à rubrica "Música na Estrada" do Programa da Manhã. O alinhamento do programa era fixamente de quatro fados interpretados por ela e uma guitarrada interpretada pelos guitarristas presentes. Graças a este programa, a Emissora Nacional fez variados concursos de cantadeiras e cantadores de fado, e foi onde grandes fadistas da época como Hermínia Silva, Manuel de Almeida, Carlos Ramos, Vicente da Câmara e Lucília do Carmo se deram a conhecer ao país. Muitos fadistas começaram igualmente a sua carreira através deste programa, tais como Deolinda Rodrigues, Fernanda Peres, Fernanda Maria e Fernando Farinha. Este último seria posteriormente eleito em 1963 como "Rei da Rádio" pela revista Flama.
O programa foi cancelado em 1961, quando Maria Teresa de Noronha decidiu sair da Emissora Nacional e terminar a sua vida artística. O último programa que Maria Teresa de Noronha gravou na Emissora Nacional foi recentemente publicado em CD e na gravação inclui-se o histórico "Fado da Verdade".
Referências
- ↑ «António Chainho». Infopédia. Porto Editora. Consultado em 19 de abril de 2013
Bibliografia
editar- A Emissora Nacional nos Primeiros Anos do Estado Novo, livro de 2005 de Nelson Ribeiro.
- As Vozes da Rádio, livro de 2005.