Fernando Dissenha
Fernando Dissenha (São José dos Pinhais, 16 de janeiro de 1968) é um trompetista e professor brasileiro. Integra a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) como trompetista solo desde 1997.
Fernando Dissenha | |
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Nascimento | 16 de janeiro de 1968 (56 anos) São José dos Pinhais |
Cidadania | Brasil |
Alma mater | |
Ocupação | trompetista |
Empregador(a) | Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo |
Carreira
editarEm entrevista declarou que em sua juventude apreciava música popular, formando uma banda de rock com amigos e sendo fã dos Beatles. Nesta época também tocava flauta doce numa banda local. Em 1980 teve a primeira experiência com música erudita, ao assistir a um concerto da orquestra da Universidade Federal do Paraná, onde uma das peças tinha uma importante participação do trompete, que o deixou fascinado.[1]
Iniciou os estudos do instrumento com Pedro Vital na sua cidade. Depois se aperfeiçoou com Antônio Aparício Guimarães em Curitiba, onde graduou-se bacharel em trompete na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, e na sequência estudou com Edgar Batista dos Santos em São Paulo.[2] Recebeu uma bolsa de estudos e fez um curso em Anzio, na Itália. Uma outra bolsa concedida pela Fundação Vitae o conduziu à Universidade de Hartford, nos Estados Unidos, tendo aulas com Chris Gekker, que fez sua indicação para a prestigiada Juilliard School, sendo admitido em 1992.[1] Lá foi aluno de Gekker e Mark Gould, concluindo mestrado em 1996.[3]
Voltando para o Brasil, passou a se dedicar à docência, paralelamente à sua carreira como intérprete profissional.[3][4] Desde 1997 é o primeiro trompete solista da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo,[3] Com a OSESP participou de turnês pelo Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia, além de participar de diversas gravações pelos selos Bis, Naxos e Chandos.[2][5] Apresentou-se como solista com a Orquestra Sinfônica da Bahia,[6] a Orquestra Sinfônica do Paraná, a Orquestra de Câmara de Curitiba, a Orquestra de Câmara Brasileira, a Orquestra Sinfônica da Venezuela e a Orquestra Sinfônica Di Bugras de Anzio.[7] Como camerista, integra o Quinteto de Metais São Paulo, grupo que tem um repertório eclético que vai do Renascimento até a contemporaneidade.[8] Atuou também em Nova Iorque como instrumentista convidado do American Brass Quintet e com maestros como Leonard Slatkin, Gerard Schwarz, Stanislaw Skrowaczewsky, Denis Russel-Davis, Kurt Masur, Sidney Harth e Otto-Werner Mueller.[9]
Foi professor de trompete na Faculdade Cantareira, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, na Escola de Música do Estado de São Paulo e no Conservatório de Tatuí. Ministrou cursos e masterclasses nas universidades de Maryland e Medellín e nos principais festivais de música do Brasil. Dá aulas nas escolas de música da OSESP e da Orquestra Parassinfônica do Estado de São Paulo, um projeto voltado a músicos com deficiências.[2] É consultor pedagógico do programa de educação musical e inclusão de crianças e adolescentes Guri Santa Marcelina, em São Paulo.[4]
No ano de 2004 participou da gravação do CD Jobim Sinfônico, álbum que recebeu o Grammy Latino na categoria de melhor álbum Clássico. Esse CD também foi incluído na lista dos nomeados para o Grammy de 2006, na categoria de melhor álbum Crossover Clássico.[9]
Em 2008 publicou a obra didática Caderno de Trompete Yamaha, pela Editora Vitale.[4] Obra inicialmente concebida para ser usada em workshops do Programa Sopro Novo Bandas da fabricante de instrumentos Yamaha, várias escolas de música adotaram a publicação em seus cursos, incluindo a Escola de Música e Belas Artes do Paraná e o Conservatório de Música de Sergipe. Está dividida em cinco partes: aspectos básicos, exercícios, estudos, duetos e solos, sendo acompanhada por um CD com exemplos.[10] Ainda em 2008 participou da fundação da Associação Brasileira de Trompetistas, presidindo o 1º e o 2º Encontro Internacional de Trompetistas da associação em 2008 e 2009.[11] Em 2017 completou doutorado pela Universidade de São Paulo, com a tese Os trompetistas e o repertório da OSESP nas temporadas de concerto de 1977 a 1980.[12]
Reconhecimento
editarEm 1993 foi vencedor da Julliard's Trumpet Concert Competition, e como prêmio apresentou-se no Carnegie Hall, em Nova Iorque, como solista do Concerto para trompete e orquestra de Johann Nepomuk Hummel, acompanhado pela New York String Orchestra. Sua interpretação foi louvada em crítica do jornal The New York Times como "brilhante e virtuosa".[3]
Vários pesquisadores já publicaram opinião sobre ele. Thiago Vieira Pereira disse que o trompetista é "reconhecido por sua qualidade artística"[3] e está, no campo do trompete, entre as "personalidades de grande relevância no cenário musical brasileiro [que] promovem pesquisas manifestas em diferentes trabalhos acadêmicos".[13] Oito compositores dedicaram obras para trompete a ele, sendo um dos três instrumentistas que mais receberam dedicatórias, o que segundo Maico Viegas Lopes, constata "a importância de alguns intérpretes, ao longo da história, no que se refere ao fomento a novas composições. [...] Além disso, eles foram responsáveis por estreias de muitas das obras".[14] Para Anderson Lagoin Romero, ele "é um dos principais trompetistas clássicos do Brasil",[15] e para Ítalo Ferro "Dissenha é um dos músicos mais destacados quando o assunto é o trompete na orquestra sinfônica".[16]
Sobre sua performance, o músico e historiador alemão Friedel Keim destacou que "ele possui uma notável flexibilidade, tanto técnica quanto musical: num momento está flutuando no extremo registro agudo com tranqüilidade, e em seguida, articula rapidamente notas graves com clareza e precisão. Sua sonoridade contém tanto elementos brilhantes quanto escuros, num fraseado de colorido variado".[17] Segundo Clistenes Pinto Lisboa, Dissenha é um conceituado professor de trompete,[18] e na apreciação de Ítalo de Holanda Ferro, sua tese de doutorado é uma contribuição importante para a historiografia do trompete no Brasil.[19]
Em 2003 lançou o CD Carambola com o pianista Carlos Assis, dedicado à música brasileira. Esse trabalho foi descrito pela International Trumpet Guild como "um disco maravilhoso".[3] Osvaldo Lacerda, uma referência na composição para instrumentos de sopro,[20] após ouvir a interpretação de duas de suas obras, Rondino e Sonata, incluídas no CD Carambola, escreveu-lhe uma carta dizendo: "Dou-lhe meus sinceros parabéns pela belíssima execução de mestre, com um som puro e preciso; pelos pianos bonitos, 'redondos' e expressivos; pelos fortes não-agressivos; e pela interpretação correta, obediente à partitura (coisa rara!), captadora do que, na falta de melhor palavra, se chama de 'o sentido' da obra. Parabéns por tudo, e muito obrigado!" [21]
Discografia
editar- Carambola (CD, 2003), com o pianista Carlos Assis.[3]
- Música Brasileira para Quinteto de Metais (CD, 2014), com o Quinteto de Metais São Paulo.[2]
Participações
editarReferências
- ↑ a b Gonçalves Filho, Antônio. "Fernando Dissenha, trompetista, lança CD e se apresenta com orquestra sinfônica". Folha de Londrina, 21/09/1999
- ↑ a b c d e Área pedagógica: Professores: Fernando Dissenha. Orquestra Parassinfônica do Estado de São Paulo. Consulta em 13/03/2023
- ↑ a b c d e f g Pereira, Thiago Vieira. Registro fonográfico de obras brasileiras camerísticas para trompete. Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018, pp. 24-25
- ↑ a b c "Oficina de Música começa com concerto no Guairão, sob regência de Cláudio Cruz". Fundação Cultural de Curitiba, 07/01/2015
- ↑ Ferro, Ítalo Rômulo de Holanda. Uma história da Associação Brasileira de Trompetistas a partir do memorial dos seus encontros. Doutorado. Universidade Federal da Bahia, 2021, p. 33
- ↑ Ferro, p. 52
- ↑ Sato, Nelson. "Metais versáteis". Folha de Londrina, 10/07/2002
- ↑ "Música na Biblioteca: Memorial divulga programação de outubro". Memorial da América Latina, 30/09/2016
- ↑ a b c "III Didáticos OSJG será realizado nesta quarta-feira (20)". Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás. Consulta em 13/03/2023
- ↑ Lisboa, Clistenes André Pinto. O ensino de trompete no conservatório de música de Sergipe: contextualização das necessidades, metodologias e ferramentas pedagógico-musicais. Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 2017, pp. 33-34
- ↑ Ferro, pp. 29; 38; 46; 51
- ↑ Stahl Junior, Mauro. A dinâmica em quatro obras de Matheus Bitondi para trompete solista: uma abordagem técnico-pedagógica. Mestrado. Universidade Federal de Goiás, 2019, pp. 47
- ↑ Pereira, p. 21
- ↑ Lopes, Maico Viegas. "Música Brasileira para Trompete e Piano: Levantamento de obras e catalogação de repertório". In: Revista Vórtex, 2019; 7 (3): 1-15
- ↑ Romero, Anderson Lagoin. A selection of chamber and solo works for trumpet by Osvaldo Lacerda. Doutorado. University of Georgia, 2016, p. 76
- ↑ Ferro, pp. 47-48
- ↑ Keim, Friedel. Das grosse Buch der Trompete: Instrument, Geschichte, Trompeterlexikon, Volume 1. Schott, 2005, p. 320
- ↑ Lisboa, p. 27
- ↑ Ferro, p. 29
- ↑ Cavalcante, Daniel Moraes. "A utilização da Trombeta no repertório camerístico de Osvaldo Lacerda: obras compostas entre 1954 e 1996". In: XXXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. João Pessoa, 2021
- ↑ Rodrigo, André Guimarães. Quatro peças religiosas de Osvaldo Lacerda: uma leitura interpretativa para performance. Mestrado. Universidade de São Paulo, 2016, p. 128