Fernando Lemos

escultor luso-brasileiro

Fernando Lemos, de seu nome verdadeiro José Fernandes de Lemos[1] GOIH (Lisboa, 3 de maio de 1926-17 de dezembro de 2019), foi um pintor, artista gráfico e fotógrafo luso-brasileiro.

Fernando Lemos
Nascimento 3 de maio de 1926
Lisboa
Morte 17 de dezembro de 2019 (93 anos)
Nacionalidade Portugal portuguesa
Brasil brasileira
Área Artes Plásticas

Pertence à terceira geração de artistas modernistas portugueses.[2] Fixou residência no Brasil em 1953 e adquiriu nacionalidade brasileira alguns anos mais tarde. Desenvolveu uma atividade multifacetada, dedicando-se em particular às artes plásticas (pintura, desenho, fotografia) e ao design (gráfico e industrial), mas também à escrita, ao ensino etc.

Biografia / Obra

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Intimidade dos Armazéns do Chiado, 1952, fotografia p/b, 57,5 x 57,5 cm

Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e frequentou o curso livre de pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa. Definiu-se inicialmente como surrealista, pintando, desenhando, escrevendo poesia e fotografando.

Em 1949 comprou uma máquina fotográfica Flexaret e começou a trabalhar a fotografia recorrendo a processos muito utilizados na fotografia surrealista (solarização, sobreposições, impressões em negativo e positivo) construindo uma linguagem de fragmentação da imagem a que não será estranho o exemplo de autores como Man Ray.

Em 1952 expõe, com Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo, na Casa Jalco, Lisboa. "Nessa mostra, para além de 22 guaches, 28 desenhos, 20 pinturas a óleo caracterizadas pela exploração do registo abstrato e pela conjugação dinâmica de formas orgânicas e angulosas" apresentava um conjunto de retratos em que utilizava a fotografia manipulada para revelar aspetos característicos das personalidades retratadas, bem como uma série de composições encenadas, enigmáticas, pontuadas por manequins de montra, e onde utilizava efeitos peculiares de iluminação, técnicas de solarização e sobreposição de imagens (veja-se, por exemplo, Intimidade dos Armazéns do Chiado, 1952). Dado o seu caráter surpreendente, "compreende-se que estas imagens insólitas tenham fascinado o meio cultural português".[3]

 
Série 1, Nº 8, 1960, Nanquim sobre papel, 100 x 70 cm

Em 1952 dirige, com José-Augusto França, a Galeria de Março.[4] Irá abandonar a fotografia e, no ano seguinte, a sua postura de oposição ao regime salazarista leva-o a abandonar Portugal e fixar residência em São Paulo, Brasil, naturalizando-se brasileiro alguns anos mais tarde. Em 1953, parte de suas fotografias é exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).[5] Ao longo dos anos de 1950 dedica-se ao desenho, que expõe, por exemplo, na Galeria de Março (1954); vence o Prémio Nacional Brasileiro na Bienal de S. Paulo de 1957. Trabalha em artes plásticas, publicidade, design gráfico e industrial.

Em 1959 participa na Exposição 50 Artistas Independentes (SNBA, Lisboa) e, em 1961, na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, FIL, Lisboa, onde expõe 4 desenhos (entre os quais Série 1, Nº 8, 1960) que "rompem ou alargam os limites tradicionais do desenho ocidental" e onde os signos cuneiformes presentes nos seus desenhos anteriores entram em relação espacial, "vindo a assumir nela uma situação gramatical complexa e orgânica".[2] Em 1962 recebe uma bolsa de estudos para o Japão, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian.[6] Em 1973 participa na Exposição Inaugural Colectiva da Galeria Quadrum e, no mesmo ano, expõe pintura na Galeria Dinastia.[7][8]

 
Des-Aceleração (1991), lajotas cerâmicas de 50 x 50 cm pintadas à revolver, formado um painel de 20 m x 2 x. Exposta na Estação Brigadeiro do Metropolitano de São Paulo.[9]

Ao longo da década de 1960 opta, na sua produção pictórica, por princípios de composição plástica que o conduzem à "afirmação de um abstracionismo concreto, definido pela presença e sobreposição de formas negras [...] , que muito se distinguiu das referências visuais e das atmosferas surrealizantes que pautaram as suas primeiras obras".[10]

Da sua atividade enquanto poeta e escritor assinale-se a sua participação, entre 1955 e 1975, na redação do jornal Portugal Democrático – uma publicação criada por exilados políticos portugueses no Brasil –, a sua colaboração na revista Colóquio/Artes (desde 1971) e a publicação do livro de poesia Cá & Lá (Imprensa Nacional, Lisboa, 1985).[6]

Da sua atividade profissional podem ainda destacar-se: a decoração de pavilhões da representação brasileira em feiras internacionais (Nova Iorque, 1957; Tóquio, 1963); a atividade docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S. Paulo; a presidência da Associação Brasileira de Design Industrial; a criação, em 1963, de uma editora de literatura infantil (Giroflé).[7]

Em 1994 expôs individualmente no Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Venceu o Prémio Anual de Fotografia do Centro Português de Fotografia, Porto, 2001. A 5 de abril de 2004, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.[11] Foi-lhe atribuído o Prémio 2016 da Crítica em Artes Visuais da APCA[12] (Associação Paulista de Críticos de Arte). A 6 de junho de 2018, foi elevado ao grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.[13]

Ligações externas

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Referências

  1. Biografia no site da Coleção Berardo
  2. a b França, José-AugustoA Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 422-425.
  3. Jurgens, Sandra Vieira – Fernando Lemos. In: A.A.V.V - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 72. ISBN 972-635-155-3
  4. França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 480
  5. «Fernando Lemos». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 28 de janeiro de 2018 
  6. a b «Fernando Lemos». In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora. 2003–2014. Consultado em 13 de setembro de 2014 
  7. a b J.O. «Fernando Lemos». Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão 
  8. A.A.V.V – II Exposição de Artes Plásticas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1961.
  9. «Olhar afiado acha arte em centro financeiro». Folha de S.Paulo. 21 de janeiro de 2002. Consultado em 23 de dezembro de 2019 
  10. Jurgens, Sandra Vieira – Fernando Lemos. In: A.A.V.V - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 73.
  11. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Fernandes de Lemos". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 9 de agosto de 2019 
  12. «'Aquarius' leva prêmios APCA nesta quarta». Cruzeiro do Sul. Consultado em 16 de maio de 2017 
  13. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Fernando Lemos". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 10 de agosto de 2018