Flâmine (em latim: Flamen) era, na religião romana, um sacerdote a quem era designado um dos deuses ou deusas patrocinados pelo Estado. Havia quinze flâmines na República Romana, dos quais os mais importantes eram os flâmines maiores (flamines maiores; "sacerdotes principais"), que serviam os três principais deuses romanos da chamada Tríade Arcaica; os doze restantes, dois dos quais são desconhecidos hoje em dia, eram os flâmines menores (flamines minores; "sacerdotes menores").

Busto dum flâmine, século III, Museu do Louvre (Paris).

Os quinze flâmines faziam parte do Colégio Pontifício, que administrava a religião estatal em Roma. Quando o cargo de flâmine estava vago, um pontífice podia servir como substituto temporário — embora se saiba que apenas o pontífice máximo (pontifex maximus) tenha substituído o Flâmine Dial.

A roupa oficial do flâmine, de tradição muito antiga, era um chapéu chamado de apex, e uma capa pesada de lã chamada de laena. Esta possuía duas camadas de tecido, além de extremidades com franjas, e era vestida sobre a toga do flâmine, com uma fivela que a segurava em torno da garganta.[1] Já o apex era um gorro de couro, com uma alça que o prendia no queixo e uma ponta de madeira de oliveira em seu topo, como um fuso, com um pequeno chumaço de lã na sua base.[2]

História e etimologia

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Na época da reforma religiosa empreendida pelo primeiro imperador romano, Augusto, as origens e funções de diversos deuses, há muito negligenciados, residentes em Roma, eram confusas até mesmo para os próprios romanos. A obscuridade de algumas das divindades a quem eram designados flâmines (como Falacer, Palátua, Quirino e Volturno) sugere que o cargo era antigo. Muitos estudiosos calculam que os flâmines existam desde pelo menos os primeiros reis de Roma, antes da República Romana. Esta opinião acadêmica está de acordo com a própria crença romana, que creditava a fundação de sua casta sacerdotal a Numa Pompílio, segundo rei de Roma.

A origem da palavra latina flamen é tão obscura quanto alguns dos deuses indicados. O indo-europeísta Georges Dumezil tentou ligá-la à palavra sânscrita brâman, porém esta etimologia é controversa. Já o filólogo norueguês Sophus Bugge sugeriu em 1879 que flamen viria de uma forma antiga, *flădmen, relacionada ao termo germânico blót; ambas, por sua vez, derivariam da palavra proto-indo-europeia*bhlād(s)men.[3] Os flâmines estavam sujeitos a diversos tabus.[4]

Flâmines maiores

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Exigia-se que os três flâmines pertencessem à classe social dos patrícios.

O flâmine dial (flamen Dialis) supervisionava o culto a Júpiter, divindade dos céus e soberano dos deuses.

O flâmine marcial (flamen Martialis) supervisionava o culto a Marte, o deus da guerra, e liderava os serviços públicos nos dias consagrados ao deus. A lança sagrada de Marte era brandida ritualmente pelo Flâmine Marcial quando as legiões se preparavam para a batalha.

O flâmine quirinal (flamen Quirinalis) supervisionava o culto a Quirino, que presidia sobre a vida social organizada dos romanos, e era relacionado ao aspecto pacífico de Marte. O Flâmine Quirinal conduzia os serviços públicos nos dias consagrados a Quirino.

Um quarto flâmine maior foi adicionado, após 44 a.C., dedicado a Júlio César. Quando o culto imperial foi implementado, também se adicionaram novos flâmines para cultuar os divinos imperadores.

Flâmines menores

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Os doze flâmines menores podiam ser plebeus. Algumas das divindades que veneravam eram um tanto obscuras, e apenas dez são conhecidos por nome (ao lado, a divindade pelo culto da qual era responsável):

  • Flâmine Carmental (Flamen Carmentalis; Carmenta)
  • Flâmine Cerial (Flamen Cerialis; Ceres)
  • Flâmine Falacer (Flamen Falacer; Falacer)
  • Flâmine Floral (Flamen Floralis; Flora)
  • Flâmine Furrial (Flamen Furrialis; Furrina)
  • Flâmine Palatual (Flamen Palatualis; Palátua)
  • Flâmine Pomonal (Flamen Pomonalis; Pomona)
  • Flâmine Portunal (Flamen Portunalis; Portuno)
  • Flâmine Volcanal (Flamen Volcanalis; Vulcano)
  • Flâmine Volturnal (Flamen Volturnalis; Volturno)

Havia ainda dois outros flâmines menores durante o período republicano da história de Roma, porém os deuses que eles cultuavam não são conhecidos. Os deuses cultuados pelos dez flâmines menores citados já são obscuros, o que torna duvidosa qualquer especulação sobre os outros dois.

Finalmente, cada cúria tinha um flâmine curial, responsável pelas celebrações religiosas da cúria[5].

Referências

  1. Mauro Sérvio Honorato, Comentário sobre a Eneida de Virgílio iv.262; Cícero Bruto 57.
  2. Mauro Sérvio Honorato Comentário sobre a Eneida de Virgílio ii.683, viii.664, x.270.
  3. Hellquist, Elof. "blota". Svensk etymologisk ordbok, 1922.
  4. Smith, William. Dictionary of Greek and Roman Antiquities, 1875: "Flamen"
  5. George Mousourakis, The Historical and Institutional Context of Roman Law (Ashgate, 2003), p. 52.

Ligações externas

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