Fradique Mendes
Carlos Fradique Mendes é um heterônimo coletivo criado pelo grupo Cenáculo - uma tertúlia literária e política formada na casa de Jaime Batalha Reis, no Bairro Alto de Lisboa, e frequentada por Antero de Quental, Eça de Queirós, Salomão Sáragga, Manuel Arriaga, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga e Ramalho Ortigão, entre outros. Fradique, o poeta fictício, era um personagem excêntrico e irreverente, culto, viajado, aventureiro e sempre a par das novidades da ciência.
História
editarO "primeiro" Fradique Mendes foi uma criação coletiva dos jovens Eça de Queirós, Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, à época do Cenáculo, entre 1868 e 1869.[1]Era um poeta satânico, à maneira de Baudelaire. Seu trabalho surge nas páginas do jornal A Revolução de Setembro. Fradique teria deixado inéditos vários poemas das Lapidárias', publicados já muito postumamente, alguns dos quais encontram-se manuscritos no espólio de Eça.[2]
Com o mesmo espírito, Fradique reaparece como personagem de O Mistério da Estrada de Sintra, que Eça escreveu com Ramalho Ortigão, lançado inicialmente em folhetins no Diário de Notícias, em 1870, e depois em livro, no mesmo ano.
O grupo lhe produziu um livro chamado Poemas do Macadame.
Fradique aparece nas seguintes obras:
- O Mistério da Estrada de Sintra (1870) de Ramalho e Eça
- Correspondência de Fradique Mendes (1900), obra póstuma de Eça
- Cartas inéditas de Fradique Mendes e mais páginas esquecidas de Eça
- Nação Crioula (1997) de José Eduardo Agualusa
Mais recentemente, o personagem foi tratado em Fradique Mendes: destilação de espírito moderno, trabalho redigido em língua portuguesa por Nicole Márfaldi, aluna checa do mestrado em Estudos Luso-brasileiros da Faculdade de Letras da Universidade Carolina, em Praga, na República Checa, que recebeu o terceiro prémio da XIX edição do Prémio Ibero-Americano. Este prémio foi criado em 1994 pelos embaixadores dos países ibero-americanos residentes em Praga com o objetivo de incentivar os estudos relacionados com os diversos aspetos da arte, ciência, cultura e civilização dos países da Península Ibérica, América Latina e Caraíbas através da realização de ensaios baseados em trabalhos de investigação, obrigatoriamente escritos em português ou espanhol, realizados por alunos das universidades da República Checa.
No cinema
editarO personagem Fradique Mendes também foi retomado no cinema, com o documentário português O Manuscrito Perdido ,[3] do realizador José Barahona. O filme foi rodado no Brasil, e o roteiro se organiza como uma carta filmada de Barahona ao escritor José Eduardo Agualusa, relatando a busca pelo manuscrito perdido de Fradique Mendes, ao qual Agualusa se refere no livro Nação Crioula e que estaria no mosteiro franciscano de Cairu, na Bahia.
Por ter libertado todos os seus escravos numa fazenda que possuía na Bahia, Fradique foi odiado e perseguido pelos esclavagistas brasileiros. Na urgência da fuga, terá deixado em Cairu este manuscrito que reflectia sobre as origens da sociedade brasileira e se pronunciava sobre algumas questões sociais da época: os expatriados, a escravatura, e as lutas dos índios. O filme parte em busca do manuscrito e refaz a viagem de Fradique Mendes na sua fuga, visitando alguns lugares que podem hoje fazer luz sobre estas mesmas questões: as comunidades dos descendentes dos escravos africanos, as aldeias indígenas onde Cabral primeiro chegou, e os acampamentos dos sem terra. No fundo grupos sociais que têm em comum algo com mais de 500 anos: a luta pela liberdade através da luta pela posse da terra.
Referências
- ↑ Infopédia. "Jaime Batalha Reis"
- ↑ Fradique Mendes - A «correspondência de uma abstracção».
- ↑ Co-produção luso-brasileira - David & Golias Cinema e Produção Audiovisual[1](Portugal) e Refinaria Filmes[2](Brasil). Trailer de O Manuscrito Perdido. Documentário de criação, 81 min., 2010.