Francisco Caldeira Cabral

arquiteto paisagista português (1908-1992)

Francisco Caldeira Cabral GCIHGOIP (Lisboa, Pena, Campo de Sant'Ana, N.º 46, 26 de Outubro de 1908Coimbra, 10 de Novembro de 1992) foi um Arquiteto paisagista português.[1] Conceituado arquiteto paisagista, entre as décadas de 1940 e 80, é tido como uma referência internacional e pioneiro no estudo e no ensino da Arquitetura Paisagística[2] e do movimento ambientalista em Portugal[3].

Francisco Caldeira Cabral

Nascimento 26 de outubro de 1908
Lisboa
Morte 10 de novembro de 1992 (84 anos)
Coimbra
Nacionalidade Portugal portuguesa
Ocupação Arquiteto paisagista

Família

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Filho de António Caldeira Cabral e de sua mulher Alice Monteiro. Seu pai, António Caldeira Cabral, era otorrinolaringologista e viveu em São Pedro de Sintra, onde Francisco Caldeira Cabral passou parte da sua infância.

Casou em Lisboa, a 11 de Novembro de 1936, com Alfreda Ferreira da Fonseca (Lisboa, Coração de Jesus, 30 de Junho de 1909 – Penacova, Figueira de Lorvão, 14 de Janeiro de 2001), filha de Joaquim Augusto Ferreira da Fonseca (8 de Agosto de 1858 – 11 de Junho de 1933) e de sua mulher Maria Alfreda Rita Latham de Barros e Cunha (30 de Março de 1871 – Seia, São Romão, 16 de Janeiro de 1954). O casal teve nove filhos entre os quais o arquitecto paisagista Francisco Manuel da Fonseca Caldeira Cabral e o músico Pedro Caldeira Cabral. Foi avô paterno do economista e ministro Manuel de Herédia Caldeira Cabral.

Biografia

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Francisco Caldeira Cabral estudou no Colégio Vasco da Gama, em Sintra, e no Colégio dos Jesuítas de La Guardia, na Galiza, finalizando o ensino liceal em 1925. De seguida inscreveu-se em Química, na Universidade Técnica de Berlim-Charlottenburg, na Alemanha, pedindo depois transferência para Engenharia Electrotécnica. Porém, uma pneumonia obrigou-o a regressar a Portugal e, entre 1931 e 1936, acaba por fazer estudos de Agronomia, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, em Lisboa. Findo o curso, voltou para a Alemanha, para Berlim, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura.[4]

Ingressou então no Curso de Arquitectura Paisagista, na Universidade de Friedrich-Wilhelm, sob a orientação do Professor Heinrich Friedrich Wiepking-Jürgensmann, obtendo ali o Diplom Gartner, em 1939.[5]

Professor Universitário e profissional liberal, iniciou em 1940 a sua actividade docente, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, leccionando as disciplinas de Desenho Organográfico e de Construções Rurais. Pouco depois, a sua proposta para um curso livre de Arquitectura Paisagista no ISA, feita após a sua chegada de Berlim em 1939, foi aceite e Caldeira Cabral foi autorizado a avançar com um Curso Experimental de Arquitetura Paisagista, de livre acesso e facultativo, que começou a funcionar em 1941. No ano seguinte, o curso beneficiou do estatuto de Curso Livre por parte do Ministério da Educação Nacional.

Em 1965 recebe o prémio Fritz Schumaker para o Ordenamento da Paisagem. Entre 1979 e 1986 foi Professor Catedrático Convidado da Universidade de Évora. Como Professor Convidado leccionou em diversas universidades estrangeiras, no período compreendido entre 1951 e 1986, designadamente na Universidade de Hanôver (Alemanha Ocidental) (1951), na Universidade de Berkeley (Califórnia) (1962), na Universidade da Geórgia (Geórgia) (1962), na Universidade de Newcastle (Grã-Bretanha e Irlanda do Norte) (1968), na Universidade de Michigan (Michigan) (1968), na Escuela Superior de Arquitectura de Madrid (Espanha) (1970), na Escuela Superior de Ingenieros de Montes (Espanha) (1971), na Universidade da Pensilvânia (Pensilvânia) (1972), e no Instituto Agronomico Mediterraneo (Espanha) (1979-1986).

Foi Presidente da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas entre 1962 e 1966.[6]

Francisco Caldeira foi pioneiro da luta pela defesa do ambiente em Portugal, tendo sido um dos fundadores da Liga para a Proteção da Natureza (LPN) e seu segundo Presidente. Destaca-se, nesse contexto, a sua concepção de continuo natural / Continuum Naturale como "um conjunto vivo de animais, plantas e microrganismos, cujo equilíbrio dinâmico é condição de vida do próprio Homem, que dele faz parte integrante"[7]. Em 1963 avançou com uma proposta de criação de um sistema de Parques Nacionais e Reservas Naturais em Portugal, retomada mais tarde pelo seu antigo aluno Gonçalo Ribeiro Telles[3].

Foi ainda Presidente da Seção de Proteção da Natureza da Sociedade de Geografia de Lisboa (1955-58)[8]

Reconhecimento

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Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora[9] .

Recebeu as condecorações de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública a 6 de Julho de 1982 e de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, a 18 de Março de 1989.[10]

Em homenagem ao arquiteto, foi criado, em 2002, o Centro de Estudos de Arquitectura Paisagista – Prof. Francisco Caldeira Cabral,[11] e, em 2008, no centenário do seu nascimento, o seu nome foi dado ao Jardim Caldeira Cabral, em Telheiras (Lisboa), e ao Parque Francisco Caldeira Cabral em Algés (Oeiras). [12][13][14]

Projectos

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De entre as suas obras destacam-se: [15]

Estudos, apresentações e conferências[16]

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Foram publicados vários dos seus estudos, apresentações e conferências.

Sobre os jardins:

  • Jardins: Conferência, 1940,
  • História de Arte dos Jardins: o Egipto, 1962,
  • Construção de Jardins, 1963;

Sobre as árvores:

  • A Árvore, 1960,
  • A Árvore em Portugal, reeditado em 1999 e 2007;

Sobre a sua profissão:

  • Arquitetura Paisagista, 1943,
  • A Arquitetura Paisagista: Protecção à Natureza e Arquitetura Paisagista, 1956, e
  • Fundamentos da Arquitetura Paisagista, 1993.

O arquivo do Forte de Sacavém, sob responsabilidade da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, recolhe uma parte importante do seu espólio.[15]

Referências

  1. «Prof. Francisco Caldeira Cabral 1908 - 1992» (PDF). Câmara Municipal de Lisboa. Consultado em 23 de Janeiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 26 de maio de 2011 
  2. «Francisco Caldeira Cabral». 80 anos de Ensino de Arquitetura Paisagista. Consultado em 8 de junho de 2023 
  3. a b Tavares, Bruno Ribeiro (2013). «O AMBIENTE E AS POLÍTICAS AMBIENTAIS EM PORTUGAL: CONTRIBUTOS PARA UMA ABORDAGEM HISTÓRICA. Dissertação de Mestrado.» (PDF). Repositório Aberto. Universidade Aberta. 
  4. «Centenário Francisco Caldeira Cabral » Biografia». proffranciscocaldeiracabral.portaldojardim.com. Consultado em 8 de junho de 2023 
  5. «Caldeira Cabral» 
  6. «Caldeira Cabral». Infopedia 
  7. Caldeira Cabral, Francisco (1980). O Continuum Naturale e a conservação da natureza. Lisboa: Serviços de Estudos do Ambiente 
  8. «Comissão de Protecção da Natureza» (PDF). Sociedade de Geografia de Lisboa 
  9. «Universidade de Évora / Viver a UÉvora / Mérito / Doutoramentos Honoris Causa / Francisco Caldeira Cabral (1908-1992)». www.uevora.pt. Consultado em 8 de junho de 2023 
  10. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Francisco Caldeira Cabral". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 25 de novembro de 2015 
  11. «Secção Autónoma de Arquitectura Paisagista». Instituto Superior de Agronomia. Consultado em 23 de Janeiro de 2012. Arquivado do original em 22 de maio de 2011 
  12. «Miraflores - Parque urbano recebe nome de Caldeira Cabral». web.archive.org. 23 de junho de 2015. Consultado em 6 de junho de 2023 
  13. «Arq. Caldeira Cabral PDF | PDF | Science | Science (General)». Scribd. Consultado em 8 de junho de 2023 
  14. Lusa (24 de outubro de 2008). «Lisboa e Oeiras prestam homenagem ao pioneiro da arquitectura paisagista em Portugal». PÚBLICO. Consultado em 8 de junho de 2023 
  15. a b Lusa (20 de janeiro de 2006). «Forte de Sacavém acolhe espólio de arquitectos paisagistas pioneiros». PÚBLICO. Consultado em 6 de junho de 2023 
  16. Pinto, Mariana Ramos Marques Abranches (2014). «O legado escrito de Francisco Caldeira Cabral - Construção do pensamento teórico em arquitectura paisagista. Dissertação de Mestrado.». Sigarra . Repositório Cientifico da Universidade do Porto. Consultado em 8 de junho de 2023 

Bibliografia Passiva

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  • Ana Catarina Antunes, Teresa Portela Marques and Teresa Andresen, “The genesis of training in landscape architecture in Portugal”, Projets de paysage [Online], Hors-série | 2022, Online since 05 July 2022, connection on 27 April 2023. URL: http://journals.openedition.org/paysage/27624; DOI: https://doi.org/10.4000/paysage.27624
  • Gabriela M. S. Braz Lopes, Francisco Caldeira Cabral - 1.º Arquitecto Paisagista Português,UE, 1998
  • Teresa Andresen, Francisco Caldeira Cabral, LDT (Landscape Design Trust) monographs, Reigate, 2001, 215 pp
  • Teresa Andresen (Comissária), Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian. Francisco Caldeira Cabral e a primeira geração de arquitectos paisagistas (1940-1970). Catálogo da exposição que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian entre 2 de Outubro de 2003 e 21 de Janeiro de 2004. Lisboa: FCG, 2003.
  • APAP (Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas) "Francisco Caldeira Cabral - memórias do mestre no centenário do seu nascimento", 2008
  • "Prof. Francisco Caldeira Cabral - O homem e a obra, 1908 - 1992", Câmara Municipal de Gouveia, 2009
  • Mariana Abranches Pinto, "O legado escrito de Francisco Caldeira Cabral - Construção do pensamento teórico em arquitetura paisagista", tese apresentada para o grau de Mestre em Arquitetura Paisagista, Universidade do Porto, 2014

Ver também

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