Francisco Teixeira (militar)
Francisco Teixeira (Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1911 — Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1986) foi um militar brasileiro que atingiu a patente de major-brigadeiro na Força Aérea Brasileira (FAB), comandando a III Zona Aérea, no Rio de Janeiro, de 1962 a 1964.
Biografia
editarIniciou sua carreira militar na Marinha, estudando na Escola Naval a partir de 1927 e ingressando na Aviação Naval. Combateu no lado legalista na Revolução Constitucionalista de 1932 e na Intentona Comunista de 1935 e apoiou o governo de Getúlio Vargas no Estado Novo. Em 1941 tornou-se membro da recém-criada FAB com a incorporação da Aviação Naval à nova arma. Na Segunda Guerra Mundial foi subcomandante da Base Aérea do Recife de 1942 a 1944, primeiro como major-aviador e depois como tenente-coronel-aviador, participando de missões de patrulha no litoral nordestino contra a ameaça dos submarinos do Eixo.[1]
Defendeu a posse de Vargas como Presidente em 1950 e no Clube Militar juntou-se à chapa nacionalista de Newton Estillac Leal, participando das campanhas do “O petróleo é nosso” (através da revista do Clube) e contra o envolvimento brasileiro na Guerra da Coreia. Em 1954, quando era coronel-aviador na chefia do Estado-Maior do Comando de Transporte, foi afastado após a posse de Café Filho por seu alinhamento a Vargas. Em 1955 defendeu a posse de Juscelino Kubitschek no Movimento de 11 de Novembro e em seguida comandou a Base Aérea do Galeão, centro do movimento contrário ao novo presidente, cujo mandato também defendeu combatendo as revoltas de Jacareacanga, em 1956, e de Aragarças, em 1959. Em Aragarças comandou o grupo de aviões que levou paraquedistas ao local. Em 1957 foi promovido a brigadeiro.[1][2]
Em 1961 foi um de numerosos oficiais presos em meio à tentativa dos ministros militares de impedir a posse de João Goulart como presidente.[3] No novo governo comandou a III Zona Aérea, no Rio de Janeiro, a partir de 1962,[1] um comando poderoso, integrando o dispositivo militar de sustentação do governo. A Base Aérea de Santa Cruz, do coronel Rui Moreira Lima, estava subordinada.[4][5] Foi um dos negociantes do desfecho da Revolta dos Marinheiros de 1964.[1]
Foi considerado líder na Aeronáutica na facção dos oficiais nacionalistas, apelidada pelos adversários de “grupo melancia: verde por fora e vermelho por dentro”.[1] Na realidade Teixeira era um dos oficiais de esquerda, ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e distintos dos oficiais nacionalistas ligados ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).[6] Segundo sua filha, apesar de combater os comunistas em 1935 ele sempre foi de esquerda, tornando-se amigo de Luís Carlos Prestes e clandestinamente se ligando ao partido. Publicamente ele não revelava sua ideologia,[2] mas integrava a base militar do PCB, o “Setor Mil”.[7][8]
Em 31 de março de 1964, ao saber do coronel Afrânio de Aguiar, comandante da Base Aérea de Belo Horizonte, de sua adesão ao golpe de Estado deflagrado em Minas Gerais, demitiu-o e bateu o telefone.[9] Ele foi surpreendido pela deflagração.[10] Luís Carlos Prestes telefonou, sugerindo que bombardeasse o Palácio Guanabara, sede do governador oposicionista Carlos Lacerda, mas ele respondeu que “meus tenentes já estão todos do outro lado”. Giocondo Dias fez a mesma sugestão, mas ouviu de Teixeira que não poderia agir sem ordens do presidente. Além desses motivos, um bombardeio ao Palácio poria em risco os moradores dos edifícios vizinhos.[7][11] Teixeira também não usou sua força contra a Operação Popeye.[8][12] Por outro lado, era favorável a um ataque ao Palácio Guanabara com uma pequena força terrestre.[13]
Com a concretização do golpe de Estado, foi exonerado, preso, teve os direitos políticos e cidadania suspensos por dez anos, foi afastado da FAB, teve sua carteira de piloto cassada e foi considerado oficialmente morto, com sua esposa recebendo pensão de viúva.[1] Desde 1964 juntou-se com políticos e militares de esquerda no “Grupo do Rio”, envolvido em algumas tentativas de reação ao governo de Castelo Branco, como a Frente Ampla e a conspiração para o “contragolpe” do governador paulista Ademar de Barros. Entretanto, julgava a luta armada inviável.[14] Em 1969 foi novamente preso com a posse de Emilio Garrastazú Médici.[1]
Na segunda metade da década de 1970 defendeu a anistia dos punidos após o golpe de 1964, sendo pessoalmente beneficiado pela Lei da Anistia em 1980. Liderava um grupo de militares ligados ao PCB, unindo-se à Associação dos Militares Cassados (AMIC) para formar a Associação Democrática e Nacionalista dos Militares (ADNAM) em 1983.[15][1]
Foi pai do economista Aloísio Teixeira.[16]
Referências
editarCitações
editar- ↑ a b c d e f g h CPDOC FGV 2001, TEIXEIRA, Francisco.
- ↑ a b ABI, 22 de julho de 2011.
- ↑ Markun & Urchoeguia 2017, cap. 8.
- ↑ Faria 2013, p. 354-355.
- ↑ Castro & Oliveira 2005, p. 181.
- ↑ Faria 2013, p. 352.
- ↑ a b Gaspari 2014.
- ↑ a b Correio Braziliense, 1 de abril de 2009.
- ↑ Gomes 1964, p. 114-115.
- ↑ Faria 2013, p. 355.
- ↑ Faria 2013, p. 430.
- ↑ Maciel 2009, p. 104.
- ↑ Ferreira 2011, p. 473.
- ↑ Ruiz 2018, p. 23, 88 e 99.
- ↑ Conceição 2015, p. 141.
- ↑ Netto 2012.
Fontes
editar- Associação Brasileira de Imprensa (22 de julho de 2011). «O centenário de Francisco Teixeira». Consultado em 15 de abril de 2022
- Castro, Celso; Oliveira, Lúcia Lippi (janeiro–junho de 2005). «Entrevista com Luiz Werneck Vianna». Estudos Históricos (35). Rio de Janeiro. pp. 177–191
- Conceição, Flávio da (2015). As Práticas Políticas do “Movimento dos Sargentos” na Base Aérea de Fortaleza (1962-2002) (PDF) (Dissertação de Mestrado). Fortaleza: UECE. Consultado em 23 de agosto de 2020
- Azedo, Luiz Carlos (1 de abril de 2009). «O erro e o golpe». Correio Braziliense
- CPDOC FGV (2001). Dicionário histórico-biográfico brasileiro, pós-1930. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
- Faria, Fabiano Godinho (2013). João Goulart e os militares na crise dos anos de 1960 (PDF) (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: UFRJ. Consultado em 10 de novembro de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 10 de novembro de 2021
- Ferreira, Jorge (2011). João Goulart: uma biografia 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
- Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Envergonhada. Col: As Ilusões Armadas 2ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca
- Gomes, Pedro (1964). Minas: do diálogo ao front. Os idos de março e a queda em abril 2ª ed. Rio de Janeiro: José Álvaro
- Maciel, Wilma Antunes (2009). Militares de esquerda: formação, participação política e engajamento na luta armada (1961-1974) (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: USP. Consultado em 31 de agosto de 2021
- Markun, Paulo Sérgio; Urchoeguia, Marilda Hamilton (2017). 1961 - o Brasil entre a ditadura e a guerra civil. São Paulo: Benvirá
- Netto, José Paulo (setembro de 2012). «Adeus a Aloísio Teixeira». Serviço Social & Sociedade (111). Consultado em 15 de abril de 2022
- Ruiz, Carlos Henrique dos Santos (2018). A revolta que não houve: Adhemar de Barros e a articulação contra o golpe civil-militar (1964-66) (PDF) (Dissertação de Mestrado). Marília: Unesp. Consultado em 20 de junho de 2021
Ligações externas
editar- Teixeira, Francisco (1992). «Francisco Teixeira (1983/1984)» (depoimento). Ignez Cordeiro de Farias, Lucia Hippolito. Rio de Janeiro: CPDOC FGV