Frederick Fleet

marinheiro britânico

Frederick Fleet (Liverpool, 15 de outubro de 1887Southampton, 10 de janeiro de 1965) foi um marinheiro britânico, designado como vigia durante a viagem inaugural do RMS Titanic em abril de 1912.[1] Ele sobreviveu à tragedia depois de detectar o iceberg fatal que acabaria por afundar a embarcação.[2] Mais tarde, Fleet sofreu uma grave depressão e se suicidou.

Frederick Fleet

Fleet em 1912
Nascimento 15 de outubro de 1887
Liverpool, Inglaterra
Morte 10 de janeiro de 1965 (77 anos)
Southampton, Inglaterra
Causa da morte suicídio por enforcamento
Nacionalidade britânico
Ocupação Marinheiro

Biografia

editar

Início da vida

editar

Frederick Fleet nasceu em 15 de outubro de 1887, em Liverpool. Ele nunca conheceu seu pai e sua mãe o abandonou, fugindo com seu namorado para Springfield, Massachussetts, nos Estados Unidos, para nunca mais ser vista novamente.[3] Frederick foi criado por uma sucessão de famílias de acolhimento e parentes distantes. Em 1903, ele entrou na marinha mercante , servindo como marinheiro.[4]

Antes de se juntar à tripulação do RMS Titanic, ele navegou por mais de quatro anos como vigia no RMS Oceanic.[4] Como marinheiro, Fleet ganhou cinco libras por mês e mais 5 xelins extras para o serviço de vigia.[4] E foi como vigia que Fleet se juntou ao Titanic em abril de 1912, junto com outros cinco vigias.[4]

RMS Titanic

editar
 
O iceberg que acredita-se ter batido no Titanic, fotografado na manhã do dia 15 de abril de 1912.
 
O cesto da gávea do qual Fleet e Lee avistaram o iceberg pode ser visto na foto.

Fleet embarcou no Titanic em Southampton em 10 de abril de 1912. O navio fez duas escalas, Cherbourg, na França e Queenstown, na Irlanda. Os vigias, seis no total, fizeram turnos de duas horas devido ao frio extremo no cesto da gávea.[5] A viagem ocorreu sem intercorrências até a noite de 14 de abril de 1912. Às 22:00 (10PM) naquela noite, Fleet e seu vigia companheiro Reginald Lee substituíram George Symons e Archie Jewell no cesto.[6] Durante a troca, eles receberam a ordem dada anteriormente pelo segundo oficial Charles Lightoller para estarem atentos aos icebergs.[7] A noite estava calma e sem lua, o que dificultou a detecção de icebergs devido à falta de ondas em sua base e a ausência de luz que permitia ver sua reflexão.[8] Apesar dos repetidos pedidos de binóculos, eles não estavam disponíveis para os vigias. A falta de binóculos foi atribuído à mudança de última hora na hierarquia do navio, quando o oficial David Blair foi substituído por Henry Tingle Wilde, sem Blair mencionando onde os binóculos estavam localizados. Também foi mencionado que Blair acidentalmente pegou as chaves do gabinete que continha os binóculos.[9] Apesar de ambas as investigações sobre o desastre, nada esclareceu por que os vigias não foram fornecidos com binóculos, embora existam muitas explicações, como o fato de que os vigias dos navios da White Star Line não tinham o hábito de usá-los com frequência.[10] Além disso, alguns especialistas disseram que, mesmo usando binóculos, nem Fleet e nem Lee poderiam ter visto o iceberg com antecedência, tendo em conta as condições da noite no dia do naufrágio.[11]

Às 23:39 (11:39PM), Fleet avistou o iceberg e tocou o sino de alerta três vezes para avisar a ponte de algo à frente. Então, usando o telefone do cesto, ele pronunciou "Iceberg diretamente a frente!" ao sexto oficial James Paul Moody, que imediatamente notificou o primeiro oficial William McMaster Murdoch; responsável pela ponte.[12] Após a colisão, Fleet e Lee permaneceram em seus postos por mais vinte minutos.[13]

Às 00:00, Fleet e Lee foram liberados por Alfred Frank Evans e George Hogg.[14]

 
Barco salva-vidas Nº 6 com Fleet a bordo aproximando-se do Carpathia.

Fleet foi até o convés do navio e ajudou a preparar o bote salva-vidas Nº 6. Minutos depois, quando o bote já estava preparado, o segundo oficial Lightoller colocou o quartel-mestre Robert Hichens no comando do bote com Fleet a bordo.[13] À medida que o bote foi sendo lançado ao mar, Hichens e a socialite americana Margaret Brown perceberam que havia apenas dois marinheiros para comandar o barco, incluindo Feet, sendo feito o pedido para que outro marinheiro fosse enviado.[15] Como não havia nenhum marinheiro por perto, o coronel canadense Arthur Godfrey Peuchen se ofereceu para o cargo, dizendo que tinha experiência em vela. Ele foi ordenado por Lightoller a chegar até o barco descendo uma corda, o que ele fez com sucesso.[15]

Uma vez longe do navio afundando, o bote tentou alcançar as luzes de um navio distante, o que muitos acreditam ser o SS Californian.[16] Enquanto Hichens comandava o leme, Fleet e Peuchen comandavam os remos. Problemas surgiram no bote quando Hichens insultou e maltratou os remeiros, incluindo Margaret Brown e Helen Churchill Candee. Mais tarde na noite, houve uma discussão sobre voltar ao local do naufrágio para resgatar sobreviventes no mar; Hichens foi contra o retorno, dizendo que eles seriam inundados por nadadores.[17] O bote finalmente chegou ao RMS Carpathia às 6:00 da manhã na segunda-feira, 15 de abril de 1912.[18]

Após o desastre, Fleet foi submetido a dois inquéritos; Primeiro, o inquérito dos EUA e, em seguida, o inquérito britânico. Nos Estados Unidos, ele foi indagado pelo senador William Alden Smith, a quem repetidamente disse que se tivessem sido equipados com binóculos, o desastre não teria acontecido.[2] Antes do Inquérito Britânico, ele foi submetido a um longo exame, muitas vezes repetitivo, para o qual se recusou a responder muitas das questões. Lord Mersey, presidente da Comissão, concluiu o interrogatório de Fleet ao dizer-lhe que estava grato por sua vontade de responder as perguntas, apesar de sua cautela ao responder todas as questões. Fleet respondeu com um sarcástico "Obrigado".[19]

Guerras mundiais e vida posterior

editar

Fleet serviu no navio irmão do Titanic, RMS Olympic, antes de deixar a White Star Line em agosto de 1912, depois de perceber que a empresa passou a tratar os envolvidos com o Titanic de forma diferente.[20] Durante os próximos 24 anos, navegou para diferentes companhias de navegação, incluindo a Union-Castle Line. Fleet serviu em navios mercantes durante a Primeira Guerra Mundial. Mais tarde, ele voltou a ser vigia no RMS Olympic durante a década de 1920 e início dos anos 1930.[21] Quando ele deixou o mar em 1936, ele foi contratado pela Harland and Wolff para trabalhar nos estaleiros da empresa em Southampton.[22] Enquanto trabalhou por lá, ele morou com o irmão de sua esposa. Ele serviu novamente durante a Segunda Guerra Mundial.[13]

Mais tarde, quando estava prestes a se aposentar, ele se tornou um vendedor de jornal, passando por dificuldades financeiras.[22]

Pouco depois do Natal, em 28 de dezembro de 1964, a esposa de Fleet faleceu, e seu irmão o expulsou da casa.[23] Consequentemente, Fleet caiu em depressão profunda. Ele retornou à casa de seu cunhado e enforcou-se no jardim em 10 de janeiro de 1965.[23] Fleet foi enterrado no cemitério de Hollybrook, em Southampton.[24] O túmulo ficou desmarcado até 1993, quando uma lápide com gravura do Titanic foi erguida através de doações da Titanic Historical Society.[23][25]

No 100º aniversário do desastre do RMS Titanic, ocorreu um incidente no túmulo de Fleet, onde as guirlandas comemorativas do centenário foram removidas e substituídas por um binóculo, deixado por uma pessoa desconhecida. Juntamente com o binóculo foi deixada uma nota cômica referente à ausência do instrumento na noite de 14 de abril de 1912. O incidente foi condenado pela British Titanic Society.[26][27]

Referências

  1. Fleet was second-in-charge aboard lifeboat #6
  2. a b United States Senate Inquiry Day 4, Testimony of Frederick Fleet.
  3. Spignesi, Stephen J. (Janeiro de 2012). The Titanic For Dummies. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 118. ISBN 978-1-118-17766-2 
  4. a b c d «Stories from The Titanic». www.nationalarchives.gov.uk , National Archives UK.
  5. Golden, Frank; Tipton, Michael (Junho de 2002). Essentials of Sea Survival. [S.l.]: Human Kinetics Pub Inc. p. 12. ISBN 978-0-7360-0215-8 
  6. Matthews, Rupert (Março de 2011). Titanic: The Tragic Story of the Ill-fated Ocean Liner. [S.l.]: Arcturus Publishing. ISBN 1-84837-763-0 
  7. Spignesi, Stephen J. (Janeiro de 2012). The Titanic For Dummies. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 86. ISBN 978-1-118-17766-2 
  8. Angel, Simon (Abril de 2012). The Titanic - "Everything Was Against Us". [S.l.]: CreateSpace Independent Publishing Platform. p. 53. ISBN 978-1-4751-2793-5 
  9. Is this the man who sank the Titanic by walking off with vital locker key?, Daily Mail.
  10. Maltin, Tim; Aston, Eloise (Novembro de 2011). 101 Things You Thought You Knew about the Titanic - But Didn't!. [S.l.]: Penguin Books. p. 33. ISBN 978-0-14-311909-8 
  11. «10 causes of the Titanic tragedy». cosmiclog.nbcnews.com , NBC news.
  12. Spignesi, Stephen J. (Janeiro de 2012). The Titanic For Dummies. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 304. ISBN 978-1-118-17766-2 
  13. a b c «Fred Fleet did his duty on Titanic, now resting in peace». www.herald-dispatch.com , Herald Dispatch.
  14. Kuntz, Tom (Outubro de 2010). The Titanic Disaster Hearings. [S.l.]: Gallery Books. p. 184. ISBN 978-1-4516-2347-5 
  15. a b Brewster, Hugh (Março de 2012). Gilded Lives, Fatal Voyage: The Titanic's First-Class Passengers and Their World. [S.l.]: Crown. ISBN 978-0-307-98481-4 
  16. Lord, Walter (Março de 2013). The Complete Titanic Chronicles: A Night to Remember and The Night Lives On. [S.l.]: Open Road Media. ISBN 978-1-4804-1058-9 
  17. Spignesi, Stephen J. (Janeiro de 2012). The Titanic For Dummies. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 51. ISBN 978-1-118-17766-2 
  18. Shapiro, Marc (Maio de 2013). Total Titanic. [S.l.]: Boylston Multimedia. ISBN 978-0-671-01202-1 
  19. Chirnside, Mark (2004). The 'Olympic' class ships : Olympic, Titanic, Britannic. [S.l.]: Tempus. p. 206, 207. ISBN 978-0-7524-5895-3 
  20. Hooper McCarty, Jennifer; Foecke, Tim (Fevereiro de 2008). What Really Sank the Titanic. [S.l.]: Citadel; 1 edition. p. 230. ISBN 978-0-8065-2895-3 
  21. On A Sea Of Glass: The Life & Loss Of The RMS Titanic" by Tad Fitch, J. Kent Layton & Bill Wormstedt. Amberley Books, Março de 2012. p 371
  22. a b Spignesi, Stephen J. (Janeiro de 2012). The Titanic For Dummies. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 47. ISBN 978-1-118-17766-2 
  23. a b c «Frederick Fleet(1887–1965)». www.maritimequest.com , Maritime Quest.
  24. «Three Men on the Titanic». Maritime Executive (em inglês). 15 de abril de 2018. Consultado em 17 de julho de 2019 
  25. «Frederick Fleet biography». www.biography.com , www.biography.com.
  26. «"Sorry for bringing these 100 years too late": Sick pranksters leave binoculars on grave of Titanic lookout». www.mirror.co.uk , Mirror.co.uk.
  27. «Pranksters 'desecrate' grave of Titanic lookout ... by laying binoculars under headstone and note saying: 'Sorry they're 100 years too late.'». www.dailymail.co.uk , Daily Mail.

Ligações externas

editar
 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Frederick Fleet