Fumi-e
Fumi-e (踏み絵 fumi "pisando em + e "imagem"?) era um processo que as autoridades do Xogunato Tokugawa do Japão usavam para identificar cristãos (Kirishitan). Como o Cristianismo era ilegal, o acusado de ser cristão deveria pisar em uma imagem de Jesus ou Maria para provar que não seguiam tais crenças.[1]
História
editarO uso do fumi-e começou com a perseguição aos cristãos em Nagasaki em 1629. A prática foi abandonada oficialmente após a abertura dos portos aos estrangeiros em 13 de abril de 1856, mas em certas regiões seu uso permaneceu até que o ensino cristão foi colocado sob proteção formal durante o Período Meiji. As imagens sacras eram conhecidas como e-ita ou ita-e.[2]
O governo Japonês usava o fumi-e para revelar católicos praticantes e simpatizantes.[3] Os suspeitos eram obrigados a pisarem nas imagens, que representavam Cristo ou Maria. As pessoas que relutavam pisar eram identificados como católicos e enviados à Nagasaki. A ideia inicial do governo era fazer com que os acusados mudassem de fé; entretanto, se recusassem a mudar de religião, eram torturados. Como muitos, mesmo sob tortura, se recusavam a abandonar a fé Cristã, eram executados pelo governo. Às vezes, as execuções aconteciam no Monte Unzen em Nagasaki, onde os cristãos eram queimados nas fontes termais.[4]
As penas de morte para adeptos do Cristianismo foram abandonadas não-oficialmente pelo Xogunato Tokugawa em 1805.
A Europa do século XVIII conhecia o fumi-e através de menções de escritores de ficção em suas obras, como fez Jonathan Swift em As Viagens de Gulliver (1726), Oliver Goldsmith em The Citizen of the World (1760), e Voltaire em Cândido (1759).[5] Na literatura moderna Japonesa, o processo do fumi-e é um elemento crucial no livro Silêncio,[6][7] de Shusaku Endo.
Muitos teólogos tentaram contemplar o papel do fumi-e para os cristãos Japoneses, alguns vendo o ato como um sinal de amor e perdão de Jesus Cristo.[8]
Forma
editarAs imagens eram geralmente feitas de pedra, mas algumas eram pinturas e outras impressões em blocos de madeira. Muitos, senão todos, desses trabalhos eram feitos com cuidado, e refletiam o alto padrão artístico do Período Edo. Pouquíssimas imagens sobraram,[5] já que a maioria era simplesmente jogada fora ou reciclada para outros usos. Alguns exemplos sobreviventes foram exibidos no Smithsonian em 2007 na exibição "Encompassing the Globe: Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries."[9][10]
Ver também
editarReferências
- ↑ Akimoto, Shunkichi (1961). Exploring the Japanese Ways of Life. [S.l.]: Tokyo News Service. p. 233. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ Kaufmann, Thomas DaCosta (2004). Toward a Geography of Art. [S.l.]: University of Chicago Press. p. 308. ISBN 9780226133119
- ↑ Martin, Bradley K. (19 de dezembro de 1980). «Japanese Christian Group Keeps Relics of Old Faith in the Closet». Los Angeles Times. p. C1
- ↑ Sanger, David E. (7 de junho de 1991). «Volcano's Fury Turns a Shrine Into a Morgue». The New York Times. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ a b North, Michael (2010). Artistic and Cultural Exchanges Between Europe and Asia, 1400-1900: Rethinking Markets, Workshops and Collections. [S.l.]: Ashgate Publishing. p. 141. ISBN 9780754669371. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ Cavanaugh, William T. (1998). «The god of silence: Shusaku Endo's reading of the Passion.». Commonweal. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ Keuss, Jeff (março de 2007). «The Lenten Face of Christ in Shusaku Endo's Silence and Life of Jesus» 6 ed. Expository Times. 118: 273–279. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ e.g. Masao Takenaka: When the Bamboo Bends, Christ and Culture in Japan, WCC 2002, páginas 50-51.
- ↑ Jenkins, Mark (20 de julho de 2007). «Portugal's Unending Sphere of Influence». The Washington Post. Consultado em 10 de março de 2018
- ↑ Fragoso, Michael (11 de julho de 2007). «Fair Trade with 17th-Century Portugal». The American. Consultado em 10 de março de 2018. Arquivado do original em 3 de outubro de 2013