Garcia Pires de Bragança
Garcia Pires I de Bragança, O Ledrão (antes de 1186 - depois de 1206)[1], foi senhor de Ledra, um rico-homem e cavaleiro medieval do reino de Portugal e ainda mordomo-mor de Afonso IX de Leão em 1196 [2].
Garcia Pires I de Bragança | |
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Rico-homem/Senhor | |
Senhor de Ledra | |
Reinado | c.1195-c.1205? |
Predecessor(a) | Pedro Fernandes I de Bragança |
Mordomo-mor do Reino de Leão | |
Reinado | 1196 |
Predecessor(a) | Pedro Fernandes de Castro |
Sucessor(a) | Pedro Fernandes de Castro |
Nascimento | Antes de 1186 |
Reino de Portugal | |
Morte | Depois de 1206 |
Reino de Portugal | |
Cônjuge | Gontinha Soares de Tougues |
Descendência | Pedro Garcia Fernão Garcia, tenens Mor Garcia Teresa Garcia Elvira Garcia |
Dinastia | Bragançãos |
Pai | Pedro Fernandes de Bragança |
Mãe | Fruilhe Sanches de Celanova |
Religião | Catolicismo romano |
Primeiros anos
editarGarcia era filho primogénito do magnate Pedro Fernandes de Bragança e da sua esposa e "co-irmã", Fruilhe Sanches de Celanova, pertencendo desta forma a uma das mais notáveis linhagens do Reino de Portugal, os Bragançãos. Esta família reveste-se de especial importância, pois para além do seu domínio incontestável na atual região de Trás-os-Montes, que integrava os seus domínios fronteiriços, que podiam facilmente mudar a fação do reino que apoiava (entre Portugal e Leão), destacava-se a sua reputação de valentes guerreiros[3]. A acrescentar a estas qualidades, e a acreditar nos Livros de Linhagens, o seu trisavô, Fernão Mendes I, teria casado com uma infanta filha de Afonso VI de Leão, dando-lhe desta forma um poder equiparável ao do seu suposto cunhado Henrique de Borgonha.
Na corte
editarEm Portugal
editarGarcia Pires terá aparecido na corte de Sancho I de Portugal pela primeira vez por volta de 1186[2]. Apesar de não ter desempenhado nenhum cargo curial, parece ter ganho rapidamente a confiança do monarca, pois dele recebeu várias doações, nomeadamente Castro, Algariz e Midões, vilas da freguesia de Suçães (Mirandela), e também em Ledra[2].
A rápida confiança que adquiriu não era de admirar, dado que poucos anos antes o seu pai fora Mordomo-mor de Afonso I de Portugal[4]. Note-se também que Pedro era ainda vivo e na altura em que Garcia entrou na corte o pai ainda a frequentava, não sendo de rejeitar a probabilidade de o senhor de Bragança poder estar por detrás da grande e prematura doação que o filho recebeu.
O seu casamento foi também muito prestigianteː de facto, Gontinha Soares de Tougues[1] era filha de Elvira Gonçalves de Sousa, que, para além de ter sido dama de companhia da infanta Teresa, filha de Afonso I[5], era neta de Gonçalo Mendes de Sousa, amigo próximo daquele mesmo monarca e um poderoso magnate que, como o pai, também havia exercido a Mordomia.
Em agosto de 1192, confirma, juntamente com o seu irmão Vasco Pires de Bragança, uma doação do rei de Portugal ao seu sobrinho, Fernão Fernandes de Bragança (filho do irmão de ambos, Fernão Pires de Bragança) e à respetiva esposa, Maria Pires, das vilas de Sezulfe, Vimioso[6] e Mascarenhas[6].
Entre Portugal e Leão
editarÀ semelhança do seu pai, é provável que em determinado momento tenha deixado a corte portuguesa para se instalar no reino vizinho, onde terá servido Afonso IX de Leão como Mordomo-mor, uma vez que surge com este mesmo cargo no Reino de Leão em 1196[7]. De qualquer forma, regressa pouco depois a Portugal, uma vez que surge na documentação da corte portuguesa até 1206, ano em que subitamente deixa de confirmar documentos, o que significa que abandonou a corte. Provavelmente, terá falecido pouco tempo depois.
Papel fundiário
editarQuer por herança, quer por doações régias, é certo que os domínios de Garcia Pires se localizavam essencialmente nas terras de Mirandela e Ledra, onde o seu domínio deveria ser tão marcante que ficou cognominado como O Ledrão. Uma governação que parece até digna de nota, uma vez que não se encontram, nas Inquirições Gerais posteriores, qualquer menção a roubos ou violências da sua parte[2], fazendo dele um caso raro no historial familiar.
Tal como os pais, foi também um grande beneficiador da Ordem do Hospital, fazendo-lhes largas doações nos seus domínios. Uma delas foi Guide, registada pelas Inquirições, de cuja vila a Ordem detinha dois terços[2].
Confusões no cognome
editarA designação de Ledrão, que por confusão foi inicialmente traduzida como Ladrão[8], não era uma alcunha pejorativa, mas parece estar mais relacionada com o simples facto de ter sido senhor incontestável da região de Ledra (Trás-os-Montes). A prova é que os seus familiares tiveram alcunhas similiaresː o avô e o pai, senhor de Bragança, eram conhecidos como O Braganção, e o seu irmão Vasco Pires tinha a alcunha O Veirão, relacionada com as suas prováveis posses na região da Beira.
Matrimónio e descendência
editarGarcia desposou, em data incerta, Gontinha Soares de Tougues, Carnes Más,[2] filha de Soeiro Mendes de Tougues e de Elvira Gonçalves de Sousa, de quem teve:
- Pedro Garcia de Bragança [2] provavelmente o filho mais velho,[9] encetou uma relação incestuosa com a própria irmã, e depois casou com a leonesa Sancha Osorez;[2]
- Mor Garcia de Bragança,[2], da relação do seu irmão teve Martim Pires Tavaia, e começou mais tarde uma outra relação ilegítima;
- Fernão Garcia de Bragança,[2], tenente de Bragança (e chefe de família?)
- Teresa Garcia de Bragança, casou com Fernão Pires Manrique;[2]
- Elvira Garcia de Bragança, casou com Ordonho Álvares das Astúrias[2]
Referências
- ↑ a b Sottomayor-Pizarro 2007, p. 861, n.14.
- ↑ a b c d e f g h i j k l Sottomayor-Pizarro 1997, p. 230-235.
- ↑ Calderón Medina & Ferreira 2014, pp. 8-9.
- ↑ Ventura 1992.
- ↑ Castro 1997.
- ↑ a b Sottomayor-Pizarro 1997, p. 233.
- ↑ Ventura 1992, p. 837.
- ↑ Piel & Mattoso 1980.
- ↑ Mattoso 1982, p. 67.
Bibliografia
editar- Calderón Medina, Inés; Ferreira, João Paulo Martins (2014). «Beyond the Border - The Aristocratic mobility between the kingdoms of Portugal and León (1157-1230)» (PDF). e-journal of Portuguese History. 12 (1). Brown University. pp. 1–48
- Castro, José Ariel de (1997). «Sancho e Teresa entre seus irmãos e na política de Afonso Henriques após o desastre de Badajoz. Tratamento da questão». Actas do 2.º Congresso Histórico de Guimarães (PDF). II. [S.l.]: Câmara Municipal de Guimarães. Universidade do Minho. pp. 289–317. OCLC 47261917
- Gayo, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989. vol. I-pg. 601 (Azevedos) e vol. II-pg. 236 (Barbosas).
- Mattoso, José (1982). Ricos-homens, infançoes e cavaleiros: a nobreza portuguesa nos séculos XI e XII. Lisboa: Gimarães & C.a. Editores. OCLC 10350247
- Piel, Joseph;, Mattoso, José (1980). Portugaliae Monumenta Historica: Livros Velhos de Linhagens. I. Lisboa: [s.n.]
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Tese de Doutoramento, Edicão do Autor
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto de (2007). «O Regime Senhorial na Fronteira do Nordeste Português. Alto Douro e Riba Côa». Madrid: Instituto de Historia "Jerónimo Zurita." Centro de Estudios Históricos. Hispania. Revista Española de Historia. LXVII (227): 849-880. ISSN 0018-2141
- Ventura, Leontina (1992). A nobreza de corte de Afonso III. II. Coimbra: Universidade de Coimbra
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