Gaspar Gonçalves Ribafria
Gaspar Gonçalves de Ribafria foi um cavaleiro português.[1]
Gaspar Gonçalves Ribafria | |
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Nascimento | Sintra |
Cidadania | Portugal |
Distinções |
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Gaspar Gonçalves foi Porteiro da Câmara dos Reis D. Manuel I e D. João III, seu Valido e por sua mercê 1.º Alcaide-Mor da mesma Vila de Sintra na sua família, ofício que comprara a Francisco de Azevedo, 3.º Senhor de Ponte de Sor e 2.º Alcaide-Mor de Sintra na sua família, e casou com Luísa de Sá, filha de Gaspar de Sá, de quem deixou geração, continuadora do novo apelido, hoje extinta na varonia.[1][2]
Família
editarFilho de Gonçalo Anes.[3]
Biografia
editarNatural de Sintra, do Lugar de Ribafria, na Freguesia de Santa Maria.[3][4]
Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, durante muitos anos prestou bons e contínuos serviços ao Rei D. Manuel I de Portugal e, também, a seu filho D. João III de Portugal, com muitos trabalhos e vigílias e com toda a lealdade, fidelidade e amor. A este soberano serviu em outras coisas de grande importância para a sua Casa, procedendo sempre como homem bom e virtuoso, pelo que o Rei D. João III o fez Fidalgo de Cota de Armas e de Solar, removendo-o do número geral e conto dos homens plebeus, reduzindo-o e pondo-o no conto e estimação dos nobres fidalgos, lhe deu por Apelido para ele e seus descendentes o de Ribafria, determinou que a Torre e Quinta chamada de Ribafria, com todo o seu anexo, em São Martinho, Sintra, fossem Solar e Morgado da Família, cujo Vínculo ele instituíra em 1536, e concedeu-lhe Carta de Armas Novas, que são: de verde, com uma torre de prata, lavrada de negro, coberta de xadrez de ouro e de azul, ladeada em chefe de duas estrelas de seis raios de ouro, e assente numa ribeira de prata, ondada de azul; timbre: um leopardo de azul, com uma estrela do escudo na espádua.[3][5]
Episódio das pescoçadas
editarOs anedotários (livros que registavam acontecimentos invulgares ou notáveis) do tempo de D. João III, registam um episódio insólito e engraçado (a chamada "anedota das pescoçadas" ou "episódio das pescoçadas")[6], que historiadores modernos como Mário Justino Silva acreditam que se poderá ter passado entre João de Sá Panasco, repentista e homem gracioso (no sentido de cómico, mas não de bobo da corte)[7], e Gaspar Gonçalves, enquanto aquele ainda era porteiro da câmara de D. João III. [8]
A João de Sá Panasco eram consentidas liberdades que a mais nenhum nobre seriam permitidas, mercê do seu privilégio especial como repentista favorito do rei, este episódio é um exemplo notável disso.[9]
A história passou-se nos seguintes termos: «(...) uma tarde Sá Panasco foi ao Paço, e quis ir ter onde D. João III se encontrava. O porteiro que o Rei tinha à porta, murmurava-se dele que era de nascimento humilde, e o que é certo é que recusou abrir a porta ao Panasco. Este último retorquiu de forma imperiosa, mas num tom jocoso. Palavra puxou palavra e tornou-se a discussão tão acesa que começaram às pescoçadas (dar pancadas com a mão no pescoço). Às tantas, o Rei abriu a porta e meteu a cabeça de fora, dizendo «Alto! Aqui tanto atrevimento?» E eis que João de Sá responde «Sim senhor, aqui diante de Vossa Alteza fazemos muito bem de pelejar [bulhar], porque se Vossa Alteza não tirara a este fulano que aqui está de detrás dos mus de seu pai, e a mim da estrebaria de D. João de Menezes, não viéramos aqui dar desgosto a Vossa Alteza; mas já que Vossa Alteza nos trouxe aqui (...) tenha paciência.» O Rei, resignado com a resposta, meteu a cabeça para dentro e encerrou a porta sem mais nada dizer.»[6][10]
Há alguns esclarecimentos que devem ser feitos a respeito deste episódio. Primeiramente, “Mu”, também dito muar ou macho, é o resultado do cruzamento dum burro com uma égua ou dum cavalo com uma burra[11]. Porém, nesta época, poderia ser usado, informalmente, como sinédoque, para designar qualquer tipo de gado, em geral[12].
Segundo, para se ser porteiro da câmara do Rei ter-se-ia de se ser fidalgo, se bem que houve excepções. Há autores que especulam que este porteiro em particular terá sido Gaspar Gonçalves, o cavaleiro que terá anos mais tarde originado a Quinta da Ribafria[3]. Isto porque Gaspar Gonçalves era filho de lavradores da região de Sintra e sabe-se que chegou a ser porteiro (aliás chegou a ser porteiro-mor) do Rei D. Manuel e do Rei D. João III. [10]
Pelo que é muito provável, pelos contornos desta anedota, que terá sido este o homem, com quem João de Sá terá andado "a bulhar à pescoçada", à porta dos aposentos do rei.
Bibliografia
editar- Os de Ribafria Alcaides-mores da Vila de Sintra, António de Vasconcelos de Saldanha, Associação de Defesa de Património de Sintra, 1982[13].
Referências
- ↑ a b Martins Zúquete, Afonso Eduardo. Armorial lusitano : genealogia e heráldica 4a ed ed. Lisboa: Zairol. p. 471. ISBN 9789729362248. OCLC 806383930
- ↑ Medeiros Correia, João (1661). Panegírico de André de Albuquerque Ríbafria, Alcaide-Mor de Sintra. Lisboa: Prelo Real
- ↑ a b c d "Armorial Lusitano", Afonso Eduardo Martins Zúquete, Editorial Enciclopédia, 3.ª Edição, Lisboa, 1987, p. 471
- ↑ Melo de Matos, Gastão (1954). André de Albuquerque Ribafria, Anais da Academia Portuguesa de História. Lisboa: ciclo da Restauração de Portugal
- ↑ Vasconcelos de Saldanha, António (1982). Os de Ribafria - Alcaides-Mores da Vila de Sintra. Sintra: Associação de Defesa do Património de Sintra. 25 páginas
- ↑ a b Silva, Mário Justino (2004). O rei e os nobres - Imagens do quotidiano nos Ditos Portugueses dignos de Memória no séc. XVI. Carnaxide: Patrimonia. pp. 69–71
- ↑ Caldeira, Arlindo Manuel (2017). Escravos em Portugal - das Origens ao séc. XIX. Lisboa: A Esfera dos Livros. pp. 53–60
- ↑ Silva, Mário Justino (2004). O rei e os nobres - Imagens do quotidiano nos Ditos Portugueses dignos de Memória no séc. XVI. Carnaxide: Patrimonia. pp. 69–71
- ↑ Goodwin, Stefan (1955). Africa in Europe: Antiquity into the Age of Global Exploration. [S.l.: s.n.] ISBN 9780739129944
- ↑ a b Boim, Miguel (10 de março de 2017). «João de Sá, o Panasco (segunda parte) - - [Jornal de Sintra]»
- ↑ Moraes Silva, António (1858). Diccionário da Língua Portugueza - 6ª edição, Tomo I, A-E. Lisboa: Typ. de António José da Rocha. p. 332. 986 páginas
- ↑ Tarallo, Fernando (1994). Tempos linguísticos – Itinerário histórico da língua portuguesa. São Paulo: Ática. 208 páginas
- ↑ [1]