Giárdia

Protozoário do filo mastigofora
(Redirecionado de Giardia duodenalis)


A giárdia[1] (Giardia lamblia) é um protozoário microscópico parasitário flagelado que parasita o intestino delgado dos mamíferos, inclusive dos seres humanos, causando uma doença diarreica conhecida como giardíase. Nos humanos, costuma parasitar o intestino delgado, principalmente em segmentos de duodeno e jejuno. G. lamblia, G. intestinalis ou G. duodenale são os sinónimos dados à espécie.[2][3]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaGiárdia ou giardia
Célula de Giárdia
Célula de Giárdia
Classificação científica
Domínio: Eukaria
Reino: Protista
Sub-reino: Protozoa
Filo: Sarcomastigophora
Subfilo: Mastigophora
Classe: Zoomastigophora
Ordem: Diplomonadida
Família: Hexamitidae
Género: Giardia
Espécie: G. lamblia
Nome binomial
Giardia lamblia
Kunstler, 1882
Sinónimos
  • G. lamblia
  • G. intestinalis
  • G. duodenale

O parasita se liga ao epitélio por meio de um disco adesivo ventral ou ventosa, e se reproduz por fissão binária.[4] A giardíase não se espalha pela corrente sanguínea, nem se espalha para outras partes do trato gastrointestinal, mas permanece confinada ao lúmen do intestino delgado.[5] Giardia possui uma membrana externa que permite se manter viva, mesmo fora do corpo do hospedeiro, e que pode torná-la tolerante à desinfecção com cloro. Os trofozoítos de Giardia absorvem nutrientes do lúmen e são anaeróbios.[6]

As principais vias de infecção humana incluem a ingestão de água potável não tratada (que é o método mais comum de transmissão deste parasita),[7] alimentos e solo contaminados com fezes humanas. A contaminação das águas naturais também ocorre em bacias hidrográficas onde ocorre o pastoreio intensivo. Este flagelado pode viver no estado livre, em lagos ou ribeiras, durante bastante tempo.

Morfologia

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Os trofozoítos tem 20 micrómetros de comprimento e 10 µm de largura, forma de pêra e são móveis, possuindo quatro pares de flagelos (anterior, posterior, ventral e caudal) e dois núcleos, dois corpos parabasais, e ainda dois axonemas cada um; enquanto os cistos são arredondados, com dois ou quatro núcleos, quatro corpos parabasais, quatro axonemas e com parede celular grossa, imóveis, mas por essas condições, se tornam mais resistentes e com maior potencial patológico. A reprodução dos trofozoítos é assexuada - por divisão binária longitudinal- e têm a capacidade de variar as suas proteínas de superfície, evadindo o sistema imunitário.[8][9]

Trofozoítos: célula afilada na extremidade posterior, com 8 flagelos (dois anteriores, quatro médios e dois posteriores), dois discos de adesão, dois núcleos e dois corpos semilunares.

Cistos: elipsoidal, com a presença de corpos escuros em formato de meia lua, axonemas de flagelos, presença de 2 ou 4 núcleos e membrana externa deslocada do citoplasma.

Ciclo de vida

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Ciclo de vida de Giardia lamblia

G. duodenalis possui duas formas morfologicamente distintas durante seu ciclo de vida: a forma ativamente móvel, chamada trofozoíto, e a forma infectante, chamada de cisto. O trofozoíto possui cerca de 20 µm de comprimento e 10 µm de largura, possuindo formato de pera e simetria bilateral. É a forma replicativa e móvel do parasita, sobrevivendo apenas dentro do intestino delgado de seus hospedeiros.[8] Os trofozoítos nadam através do muco intestinal até eventualmente aderirem ao epitélio intestinal do hospedeiro,[9], onde então se dividem por fissão binária, formando mais trofozoítos ou cistos não-replicativos. Os cistos passam pelo intestino grosso do hospedeiro e são liberados pelas fezes.[8] Os cistos de G. lamblia são resistentes aos estressores ambientais e podem sobreviver no ambiente por semanas a meses se mantidos úmidos.[9][8] Os cistos permanecem dormentes até serem ingeridos por um animal hospedeiro. No novo hospedeiro, as condições ambientais fazem com que o cisto produza dois trofozoítos, que então se ligam às células epiteliais, iniciando o ciclo novamente.[8]

História

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Anton van Leeuwenhoek (1681) observou animalúnculos móveis (trofozoíto) em suas próprias fezes. Todavia, o médico checo Vilém Dušan Lambl, em 1859, o descreveu com mais pormenores. Este gênero foi criado por Kunstler (1882) ao verificar a presença de um flagelado no intestino de girinos.[10]

Epidemiologia

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Os principais riscos de infecção pela giárdia é pelo consumo de alimentos contaminados por água não tratada, além de auto-infecção ou manipulação de alimentos de forma inadequada. A infecção pode ocorrer também através de relações sexuais.

A giárdia (Giardia lamblia) costuma ser encontrada em diversos lugares do mundo, afetando, principalmente, crianças na faixa de 6 anos - interessante ressaltar que este fato é devido a proximidade de criança brincarem em parques, nas ruas, entre outros lugares que possam conter o cisto, ou a própria ingestão de alimentos contaminados - podendo assim ocorrer surtos em creches, por exemplo, aonde as pessoas desta faixa etária se contaminam com maior facilidade, devido ao contato direto.

Patogenia

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Giárdia (Giardia lamblia) causa diarreia e dificuldades na absorção intestinal, por aderir e diminuir as microvilosidades do intestino, dificultando a absorção de nutrientes; e por possuir proteases que agem em glicoproteína, levando lesões à mucosa, desencadeando também uma resposta inflamatória.

Infecção

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Na fase aguda da infecção, ocorre diarréia aquosa até o desenvolvimento da imunidade. Na fase crônica, quando já aderida ao intestino do hospedeiro, forma uma espécie de tapete impedindo a absorção dos nutrientes. Sua aderência é graças aos discos de adesão presentes bilateralmente. A liberação de toxinas pode causar destruição das microvilosidades do epitélio intestinal, assim como o desencadeamento de reação inflamatória. Infecções crônicas podem impedir e muito a absorção intestinal, causando doenças nutricionais como a síndrome da ma absorção, que pode levar adultos e principalmente crianças (ou filhotes) a altos graus de desnutrição e até à morte.

Diagnóstico

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O diagnóstico é confirmado a partir do achado de cistos ou trofozoítas nas fezes. Por haver pequena quantidade em amostras, é de difícil diagnóstico, por isso deve-se ter ao menos três amostras do paciente suspeito ou contaminado. Uma maneira mais direta, porém menos quantitativa, é a pesquisa de antígeno por ELISA nas fezes. Tendo um alto grau de sensibilidade (de 85 % a 95%) e de especificidade ( 90% a 100%).

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «giárdia». Dicionário Priberam. Consultado em 6 de abril de 2023 
  2. «Giardia intestinalis: protozoário causador da giardíase». Consultado em 21 Março 2022 
  3. «Giardíase - Infecções». Manual MSD. Consultado em 21 Março 2022 
  4. Oxford textbook of Medicine. 1 4 ed. [S.l.]: Oxford University Press. 2003. pp. 759–760. ISBN 978-0-19-262922-7 
  5. Harrison's Internal Medicine, Harrison's Online capítulo 199 Protozoal intestinal infections and trochomoniasis
  6. DeMay, Richard M. (1999). Practical principles of cytopathology. the University of Michigan: American Society for Clinical Pathology. 88 páginas. ISBN 9780891894377 
  7. «Giardia | Parasites | CDC» 
  8. a b c d e Despommier, D. D., Griffin, D. O., Gwadz, R. W., Hotez, P. J., Knirsh, C. A. (2019). Parasitic diseases (PDF). [S.l.: s.n.]  }}
  9. a b c Ryan KJ, ed. (2018). «53:Sarcomastigophora-The Flagellates». Sherris Medical Microbiology 7 ed. [S.l.]: McGraw-Hill Medical. ISBN 9781259859809 
  10. NEVES, David Pereira; Alan Lane de Melo; Odair Genaro; Pedro Marcos Linard. «14». In: Atheneu. Parasitologia Humana 10 ed. São Paulo: [s.n.] ISBN 85-7379-243-4 
 
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