Guerra Isaura

conflito que durou de 492 até 497 e que foi travado entre o exército bizantino e os rebeldes de Isáuria

A Guerra Isaura ou Guerra Isáurica foi um conflito que durou de 492 até 497 e que foi travado entre o exército bizantino e os rebeldes de Isáuria. Ao final da guerra, o imperador Anastácio I Dicoro reconquistou o controle da região da Isáuria e os líderes revoltosos foram mortos.

Guerra Isaura
Guerras civis bizantinas

Isáuria num atlas clássico de 1886.
Data 492497
Local Isáuria
Desfecho Vitória dos isauros
Beligerantes
Império Bizantino Isauros Império Bizantino Forças anti-isauras
Comandantes
Império Bizantino Longino
Império Bizantino Longino de Cardala
Império Bizantino Longino de Selino
Império Bizantino Atenodoro
Império Bizantino João, o Cita
Império Bizantino João, o Corcunda
Império Bizantino Diogeniano

Contexto

editar

Durante o reinado de Teodósio II (r. 408–450), o povo de Isáuria, uma província pobre e montanhosa na Ásia Menor, alcançou pela primeira vez um cargo importante no Império Romano do Oriente. O imperador Leão I, o Trácio (r. 457-474) deliberadamente promoveu isauros a postos importantes na administração civil e militar para conter a até então poderosa facção germânica. Os isauros, porém, eram desprezados como bárbaros semi-analfabetos pela população de Constantinopla que, em 473, irrompeu numa revolta anti-isaura no hipódromo e, em 475, derrubou o recém-coroado imperador isauro Zenão (r. 474-475 e 476-491), assassinando todos os compatriotas do imperador na cidade no processo.

Porém, Zenão voltou ao trono imperial no ano seguinte (476) e, desta vez, manteve a posição até sua morte em 491. Obviamente, os isauros prosperaram sob este imperador e a oposição a eles, embora crescente, não tinha chance de se expressar. Durante este período, em 484, o isauro mestre dos soldados Ilo se revoltou contra Zenão e fugiu para o oriente, onde ele apoiou o golpe de Leôncio. A revolta, porém, terminou em 488 com a captura e a execução de ambos os líderes rebeldes.

Conflito

editar

Em 491, o imperador Zenão morreu e foi sucedido pelo silenciário Anastácio I Dicoro, escolhido pela imperatriz Ariadne. Durante o breve interregno, a população de Constantinopla deixou clara a sua opinião sobre a sucessão através dos gritos no hipódromo exigindo um "imperador romano", rejeitando assim a possível sucessão de Longino, o irmão de Zenão. No mesmo ano, revoltas anti-isauros irromperam no hipódromo e Anastácio exilou Longino e diversos outros isauros, incluindo o general Longino de Cardala.

Em 492, os isauros iniciaram uma revolta, mas, no mesmo ano, suas forças foram derrotadas pelo exército bizantino liderado pelos generais João, o Cita e João Gibo (João, o Corcunda), em Cotieu na Frígia Salutar (Batalha de Cotieu). Os isauros sobreviventes se refugiaram nas fortalezas nas montanhas em sua terra natal e mantiveram a guerra.

Em 493, o general romano Diogeniano capturou Claudiópolis, mas foi cercado lá pelos isauros liderados pelo ex-bispo Conão de Apameia. Para ajudar os romanos, veio João Gibo, que forçou o passo e, ajudado por um raide de Diogeniano, conseguiu uma esmagadora vitória sobre os isauros na qual Conão foi morto[1].

De 494 até 497, os isauros se fecharam em suas fortalezas nas montanhas de sua terra natal e receberam suprimentos enviados por Longino de Selino através do porto de Antioquia[1].

Em 497, João, o Cita, assassinou Longino de Cardala e Atenodoro, cujas cabeças ele pendurou em lanças na cidade de Tarso, efetivamente terminando a guerra. Em 498, João Gibo capturou os últimos líderes inimigos, Longino de Selino e Indes, e enviou-os para o imperador, que os desfilou pela rua principal de Constantinopla em direção ao hipódromo, onde eles foram obrigados a realizar a prosquínese perante a kathisma imperial[2].

Resultado

editar

Em 495, o imperador Anastácio I Dicoro contou ao patriarca Eufêmio que ele estava cansado da guerra. Eufêmio reportou o fato a João, o genro do líder isauro Atenodoro, que voltou com o assunto a Anastácio. O imperador tinha entrado em conflito com o patriarca antes de ascender ao trono e, além disso, Anastácio, que tinha simpatias monofisistas, tinha sido forçado por Eufêmio a assinar uma declaração de ortodoxia antes de ser coroado. Por estas razões, ele decidiu acusar Eufêmio de traição por revelar seus planos ao inimigo. Em 496, Eufêmio foi excomungado e deposto[3].

Após a guerra, Anastácio recompensou seus generais com consulados: João, o Cita estava na posição em 498 e João, o Corcunda, em 499. Anastácio também ordenou que Etério, seu arquiteto, construísse o Portão Calce para o Grande Palácio de Constantinopla para celebrar a vitória[4] e que o poeta Cristódoro comemorasse a guerra num poema - perdido - em seis volumes intitulados Isáurica[5].

Referências

  1. a b Joan Mervyn Hussey, Cambridge medieval history, CUP Archive, 1967, p. 480.
  2. Michael McCormick, Eternal Victory: Triumphal Rulership in Late Antiquity, Byzantium and the Early Medieval West, Cambridge University Press, 1990, ISBN 0-521-38659-4, p. 61.
  3. John Bagnell Bury, A History of the Later Roman Empire from Arcadius to Irene, Adamant Media Corporation, 2005, ISBN 1-4021-8369-0, p. 296
  4. Jones, "Aetherius 2", p. 19.
  5. Jones, "Christodorus", p. 293.

Bibliografia

editar