Guerra Otomano-Mameluca (1516–1517)
A Guerra Otomano-Mameluca de 1516–1517 foi o segundo grande conflito entre o Sultanato Mameluco, sediado no Egito, e o Império Otomano, que levou à queda do Sultanato Mameluco e à incorporação do Levante, do Egito e do Hejaz como províncias do Império Otomano.[1] A guerra transformou o Império Otomano de um reino às margens do mundo Islâmico, principalmente na Anatólia e nos Bálcãs, para um imenso império que englobava grande parte das terras tradicionais do Islão, incluindo as cidades de Meca, Cairo, Damasco e Alepo. Apesar dessa expansão, a sede do poder político do império permaneceu em Constantinopla.[2]
Guerra Otomano-Mameluca (1516 – 22 de Janeiro de 1517) | |||
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Parte das Guerras Otomanas na Ásia | |||
Esboço do Império Otomano, do "Theatro d'Ele Orbe de la Tierra" de Abraham Ortelius, Anvers, 1602, atualizado a partir da edição de 1570. | |||
Data | 1516 — 22 de janeiro de 1517 | ||
Local | Anatólia, Levante, Egito | ||
Desfecho | Vitória decisiva Otomana, queda do Sultanato Mameluco e do Califado Abássida | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
Origens
editarA relação entre os Otomanos e os Mamelucos havia sido contraditória desde a Queda de Constantinopla para os Otomanos em 1453; ambos os estados disputavam o controle do comércio de especiarias, e os otomanos aspiravam eventualmente a assumir o controle das Cidades Sagradas do Islão.[3] Um conflito anterior, que durou de 1485 a 1491, levou a um impasse.
Por volta de 1516, os Otomanos estavam livres de outras preocupações — o Sultão Selim I acabara de derrotar os Persas Safávidas na Batalha de Chaldiran em 1514[2] - e voltaram todo o seu poder contra os Mamelucos, que governavam na Síria e no Egito, para completar a conquista Otomana do Oriente Médio.[2]
Operações
editarA guerra consistiu em várias batalhas. O exército Mameluco era bastante tradicional, consistindo principalmente de cavalaria usando arcos e flechas, enquanto o exército Otomano, e especialmente os Janízaros, era bastante moderno, usando arcabuzos.[4] Os Mamelucos continuavam orgulhosos de sua tradição e tendiam a desconsiderar do uso de armas de fogo.[5][6]
Operações no Levante (1516)
editarOs Otomanos primeiro capturaram a cidade de Diarbaquir, no sudeste da Anatólia.[2] A Batalha de Marj Dabiq (24 de Agosto de 1516) foi decisiva e o governante Mameluco Kansuh al-Ghuri foi morto.[2] Os Otomanos aparentemente superavam em número os mamelucos por um fator de 3 a 1.[6] A Síria caiu sob o domínio dos Otomanos com esta única batalha.[6]
A Batalha de Yaunis Khan ocorreu perto de Gaza (28 de outubro de 1516) e resultou novamente numa derrota para os Mamelucos.
Operações no Egito (1517)
editarO sucessor de Al-Ghuri como sultão Mameluco, Tuman Bay II, recrutou freneticamente tropas de várias classes da sociedade e Beduínos, e tentou equipar os seus exércitos com uma quantidade de canhões e armas de fogo, mas tudo no último minuto e numa escala limitada.[5][6] Finalmente, na porta do Cairo, ocorreu a Batalha de Ridaniya (24 de Janeiro de 1517), na qual o comandante Otomano Hadim Sinan Pasha perdeu a vida.[7] Nesta batalha, Selim I e Tuman Bay enfrentaram-se. As armas de fogo e armas utilizadas por Tuman Bay mostraram-se quase inúteis, já que os Otomanos conseguiram um ataque pela retaguarda.[6]
A campanha havia sido apoiada por uma frota de cerca de 100 navios que abasteciam as tropas durante sua campanha para o sul.[8]
Alguns dias depois, os Otomanos capturaram e saquearam o Cairo,[6] capturando o Califa Mutavaquil III.[9] Tuman Bay reagrupou as suas tropas em Giza, onde ele foi finalmente capturado e enforcado no portão do Cairo.[10][2]
Como consequência, o Xarife de Meca também se submeteu aos Otomanos, colocando as cidades sagradas de Meca e Medina sob o domínio Otomano.[2] O poder Otomano estendia-se até ao sul do Mar Vermelho, embora o controle do Iémen permanecesse parcial e esporádico.[2]
Consequências
editarA cultura Mameluca e a organização social persistiram a nível regional, e a contratação e educação dos soldados "escravos" Mamelucos continuaram, mas o soberano do Egito era um governador Otomano protegido por uma milícia Otomana.[2][11] A queda do Sultanato Mameluco acabou com a guerra naval luso-mameluca, mas os Otomanos assumiram as tentativas de impedir a expansão portuguesa no Oceano Índico.
A conquista do Império Mameluco também abriu os territórios da África para os Otomanos. Durante o século 16, o poder Otomano expandiu-se mais a oeste do Cairo, ao longo das costas do norte de África. O corsário Barba Ruiva estabeleceu uma base na Argélia e mais tarde concretizou a Conquista de Tunis em 1534.[2]
Após sua captura no Cairo, o Califa Mutavaquil III foi levado para Constantinopla, onde ele finalmente cedeu seu cargo como califa ao sucessor de Selim, Solimão, o Magnífico.[10] Isso estabeleceu o Califado Otomano, tendo o sultão como chefe, transferindo autoridade religiosa do Cairo para o trono Otomano.[9]
O Cairo permaneceu em mãos otomanas até a conquista Francesa do Egito em 1798, quando Napoleão alegou a eliminação dos mamelucos.[12]
Veja também
editarReferências
editar- ↑ Dictionary of Battles and Sieges de Tony Jaques xxxiv
- ↑ a b c d e f g h i j The Ottoman Empire: A Short History de Saraiya Faroqhi p.60ff
- ↑ Ottoman seapower and Levantine diplomacy in the age of discovery de Palmira Johnson Brummett p.52ff
- ↑ Daily Life in Ancient and Modern Cairo de Joan D. Barghusen, Bob Moulder p.41
- ↑ a b Firearms: A Global History to 1700 de Kenneth Warren Chase p.104
- ↑ a b c d e f The Cambridge History of Egypt by M. W. Daly,Carl F. Petry p.498ff
- ↑ E. J. Brill's First Encyclopaedia of Islam, 1913–1936 by Martijn Theodoor Houtsma p.432
- ↑ Ottoman Seapower and Levantine Diplomacy in the age of discovery by Palmira Johnson Brummett p.110
- ↑ a b Drews, Robert (Agosto de 2011). «Chapter Thirty – The Ottoman Empire, Judaism, and Eastern Europe to 1648» (PDF). Coursebook: Judaism, Christianity and Islam, to the Beginnings of Modern Civilization. [S.l.]: Vanderbilt University
- ↑ a b Muir, William (1896). The Mameluke; Or, Slave Dynasty of Egypt, 1260–1517, A. D. [S.l.]: Smith, Elder. pp. 207–13
- ↑ Islamic Monuments in Cairo: The Practical Guide de Caroline Williams p.6
- ↑ Cairo de André Raymond p.189