Guntárico (em latim: Guntharicus), Guntário (em latim: Guntharius), Guntarido (em latim: Guntarith, Gontaris (em grego: Γόνθαρις; romaniz.: Góntharis), Guintarido (Guintarit), Guntarides (Guntharides), Guntaro (Guntharus) ou Gundaro (Gundarus)[1] foi um oficial bizantino ativo sob o imperador Justiniano (r. 527–565) que esteve envolvido na luta contra as tribos mouras revoltosas na Prefeitura Pretoriana da África. De início oficial subordinado do general Salomão, após a morte do último foi elevado aos postos de mestre dos soldados vacante e duque da Numídia e rebelou-se contra Areobindo. Com ajuda dos líderes tribais mouros, invadiu Cartago, matou o seu rival e proclamou-se governante autônomo da África até que foi morto num complô arquitetado por Artabanes e Atanásio.

Guntárico
Nacionalidade Império Bizantino
Ocupação General

Etimologia

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Guntárico era germânico e seu nome derivou de *Gunþi-harjis, com Gunþi significando "combate" e harjis "exército".[2]

Biografia

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Africa romana, com as províncias de Bizacena, Zeugitânia e Numídia

Guntárico apareceu pela primeira nas fontes no ano 540 quando serviu como guarda-costas do general Salomão. Quando Salomão preparou a expedição contra os mouros do monte Aurásio naquele ano, foi enviado contra eles com uma pequena força. Após montar acampamento próximo de Begas, no rio Abigas, confrontou-os, mas foi derrotado e forçado a fugir para seu acampamento, onde foi sitiado. Para facilitar o cerco, os mouros desviaram o rio Abigas, provocando uma inundação no acampamento, o que quase custou outra derrota aos bizantinos, que acabaram salvos por reforços enviados por Salomão. Em 544, Guntárico, talvez ainda como guarda-costas de Salomão, participou na Batalha de Cílio, que resultou numa pesada derrota, bem como a morte de Salomão.[1]

No fim de 545 foi nomeado mestre dos soldados vacante e duque da Numídia, sendo comandante de tropas regulares da Numídia. No mesmo período, dois meses após Sérgio deixar a África, Guntárico organizou uma rebelião e incitou os mouros a atacarem Cartago. Quando convocado à capital pelo mestre dos soldados Areobindo, recebeu o comando das tropas contra os mouros. Aproveitando-se da oportunidade, fez acordo secreto com Antalas no qual se comprometeu a matar Areobindo e repartir a África, deixando ele com a metade da riqueza de Areobindo e como líder de Bizacena com 1 500 soldados bizantinos, enquanto comandaria o restante da região a partir de Cartago. Alguns soldados imperiais, sediados no acampamento de "Ao Décimo" (Ad Decimum), casualmente encontraram os mouros e confrontaram-nos, matando alguns deles. Tal evento enfureceu Guntárico, pois pôs em risco seus planos.[3]

 
Justiniano em detalhe dum mosaico da Basílica de São Vital

Enquanto mantinha seu aliado Antalas informado, secretamente aliou-se com os líderes tribais Jaudas e Cusina. Pretendia matar Areobindo em batalha, para que não fosse necessário declarar rebelião aberta, no entanto, dada a relutância do oficial, foi forçado a declarar rebelião. Em março de 546, marchou com Cusina e Jaudas para Cartago, enquanto Antalas saqueou Bizacena. Na cidade, abriu e emperrou os portões e dispôs grande contingente nas ameias. Seu objetivo era amedrontar Areobindo e forçá-lo a voltar para Constantinopla, mas o mal tempo impediu isso.[4] Então, incitou o ódio das tropas contra ele e Atanásio, o prefeito pretoriano, tendo acusado ambos de deliberadamente privarem as tropas de seu devido pagamento. Uma batalha se seguiu no entorno dos portões e a guarnição da cidade foi derrotada. Guntárico entrou no palácio de Cartago, dispôs tropas no porto e nos portões e convenceu Areobindo a abandonar seu santuário num mosteiro local e dirigir-se ao palácio do governador. Ali, festejou e tratou-lo com grande honra, porém ordenou que fosse morto em seus aposentes quanto dormia. A cabeça de Areobindo foi enviada para Antalas, mas recusou-se a dar-lhe as tropas e o dinheiro prometidos.[5] Em seu breve reinado, planejou casar-se com Prejecta, viúva de Areobindo e sobrinha de Justiniano (r. 527–565), de modo a assegurar seu poder, e enviou o exército sob Artabanes e Cusina contra Antalas, que estava se organizando contra Guntárico.[6] Segundo as fontes, seu reinado durou por apenas 36 dias, terminando possivelmente em maio quando foi assassinado por um complô arquitetado por Artabanes e possivelmente Atanásio.[7]

Ver também

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Precedido por
Desconhecido
(Último citado: Marcelo)
Duque da Numídia
545
Sucedido por
Desconhecido
(Próximo citado: João)

Referências

  1. a b Martindale 1992, p. 574.
  2. Cabrera 2021, p. 308.
  3. Martindale 1992, p. 575.
  4. Martindale 1992, p. 575-576.
  5. Martindale 1992, p. 109; 575-576.
  6. Martindale 1992, p. 87, 818.
  7. Martindale 1992, p. 576.

Bibliografia

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  • Cabrera, Rafael Barroso; Pablos, Jorge Morín de; Ramos, Isabel Sánchez (2021). Tres usurpadores godos: Tres estudios sobre la tiranía en el reino visigodo de Toledo. Oxônia: Archaeopress Publishing Ltd 
  • Martindale, John Robert; Arnold Hugh Martin Jones; J. Morris (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire, Volume III: A.D. 527–641. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 978-0-521-20160-5