Hermínio da Palma Inácio
Hermínio da Palma Inácio GCL (Ferragudo, Lagoa, 29 de janeiro de 1922 — Lisboa, 14 de julho de 2009) foi um revolucionário português contra o Estado Novo. É conhecido por ter protagonizado o primeiro desvio de um voo comercial de que há registo, a Operação Vagô, em que um avião da TAP sobrevoa Lisboa, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro a baixa altitude para lançar cerca de 100 mil panfletos com apelos à revolta popular contra a ditadura.[1][2]
Hermínio da Palma Inácio | |
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Nascimento | 29 de janeiro de 1922 Ferragudo |
Morte | 14 de julho de 2009 (87 anos) |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | militante, político, terrorista |
Distinções |
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Biografia
editarNasce em Ferragudo a 29 de Janeiro de 1922.
A primeira iniciativa antifascista
editarPalma Inácio iniciou a luta antifascista com a sua adesão ao Golpe dos Militares, um movimento desencadeado em 10 de abril de 1947 pelo general Godinho e pelo almirante Cabeçadas e que contou com a participação de alguns civis, entre os quais João Soares, pai de Mário Soares.
Ao jovem revolucionário, então com 25 anos, coube a tarefa de sabotar os aviões da base aérea da Granja, Sintra, onde havia prestado serviço militar na companhia do oficial da Força Aérea Humberto Delgado. Consegue sabotar 28 aviões.[3]
Esta ação acabou por lhe valer sete meses de clandestinidade, numa quinta em Odivelas, seguindo-se a sua detenção pela PIDE, conhecendo assim, pela primeira vez, as celas do Aljube. À espera do julgamento, Palma Inácio foi preparando a fuga. Na manhã de 16 de maio de 1948, com quatro lençóis enrolados nas pernas, debaixo das calças, juntou-se aos outros reclusos, na fila para a casa-de-banho. Um breve momento de ausência do guarda permitiu-lhe lançar-se pela janela, numa altura de cerca de 15 metros do chão, caindo no exterior do edifício junto à sentinela, que não teve tempo de reagir. Palma Inácio pôs-se em fuga, desaparecendo no meio da multidão.
Resistência no exílio
editarCom a PIDE de novo à sua procura, seguiu para Marrocos, de onde, após várias peripécias pelos mares, consegue chegar aos Estados Unidos da América. O brevet de piloto garantiu-lhe a sobrevivência, mas as autoridades acabaram por localizá-lo, obrigando-o a abandonar o país. O destino foi o Rio de Janeiro, juntando-se assim a outros antifascistas que do exterior procuravam meios para acabar com o regime de Salazar em Portugal. Estava-se em 1956 e Palma Inácio contava 34 anos. Dois anos depois, a luta antifascista agitou-se com a candidatura do General Humberto Delgado às eleições presidenciais e o exílio deste no Brasil, onde pouco tempo depois se refugiou também o capitão Henrique Galvão.
Palma Inácio, acompanhado de Camilo Mortágua, Amândio Silva, Maria Helena Vidal, João Martins e Francisco Vasconcelos, preparou então uma operação que haveria de acordar Lisboa de espanto — na manhã de 10 de novembro de 1961, um avião da TAP, que partira de Casablanca, é desviado para sobrevoar a capital, onde são lançados cerca de 100 mil panfletos antifascistas. Os caças da Força Aérea não conseguem intercetar o avião, que regressa incólume a Casablanca.
A LUAR
editarDe regresso ao Brasil, o grupo confrontou-se com a necessidade de procurar financiamento para as suas operações. Começou assim a preparação do célebre e histórico assalto à delegação ou dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, concretizada a 17 de maio de 1967 com Camilo Mortágua, António Barracosa, Luís Benvindo e outros, sendo roubados cerca de 29.000.000$00, ao tempo uma enorme quantia.
Nesta altura, o movimento antifascista estava concentrado em Paris, onde acaba por nascer a LUAR — Liga de Unidade e Acção Revolucionária —, que reivindicou o assalto como operação manifestamente política. No exílio, será detido em França e Espanha por "banditismo" a pedido do Estado Novo, mas libertado pelos tribunais.[3]
Na capital francesa, Palma Inácio planeou outro golpe, que acabaria por fracassar: tomar a cidade da Covilhã. Desta vez, é detido pela PIDE. Conseguiu fugir da prisão do Porto serrando as grades da cela com lâminas que a sua irmã lhe fizera chegar. Esta ação teve a ajuda de um informador da PIDE de alcunha «o Canário». Os inspetores da PIDE Sachetti (que se tinha infiltrado na LUAR) e Barbieri Cardoso sabiam da existência das lâminas, mas nunca as conseguiram localizar, apesar das inúmeras revistas à cela.
Em novembro de 1973, depois de ter entrado clandestinamente em Portugal para mais uma operação, Palma Inácio é de novo detido pela PIDE (já então rebatizada como DGS – Direcção-Geral de Segurança). Terá sido "torturado barbaramente".[3]
Cinco meses depois, na sua cela, recebeu, em código morse feito pela buzina de um carro, nas imediações de Caxias, a primeira notícia de que um golpe militar está em curso. No dia seguinte, a 26 de abril, chegou a ordem de libertação dos presos políticos. Contudo, Palma Inácio foi o último a sair, pois alguns militares, que recusavam ver o assalto à Figueira da Foz como uma operação política, resistiram à sua libertação.
O pós-25 de Abril de 1974
editarConforme sustenta António de Almeida Santos no livro Quase Retratos (Notícias Editoral, Lisboa), Palma Inácio pautou sempre a sua ação política por um desejo escrupuloso de evitar derramamento de sangue. Depois da revolução de 25 de Abril de 1974, manteve a LUAR em ponto morto, aguardando a consolidação da democracia. Em princípios de 1976, dada a normalização da vida política, dissolveu a LUAR, passando a viver como um cidadão comum e recusando benesses e privilégios.
Falece em Lisboa a 14 de Julho de 2009.
Distinções e Homenagens
editarAinda segundo Almeida Santos na obra citada, Mário Soares, durante a sua magistratura como Presidente da República, quis distinguir Palma Inácio com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, mas o Conselho das Ordens opôs-se.
A 10 de maio de 2000, Jorge Sampaio, sucessor de Mário Soares na Presidência da República, atribuiu finalmente, pela mão de Manuel Alegre, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a Hermínio da Palma Inácio.[4][5]
Desde 2016 o seu nome está consagrado na toponímia de Lisboa através da Rua Hermínio da Palma Inácio, situada na zona das Calvanas, na freguesia de Santa Clara.[6]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Correio da Manhã: Os segredos da Operação Vagô»
- ↑ «Slate Magazine: Terrorists Ain't What They Used To Be»
- ↑ a b c José Hipólito Santos (2011) Felizmente houve a LUAR. Âncora Editora.
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Hermínio da Palma Inácio". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 15 de abril de 2015
- ↑ «Palma Inácio condecorado» (PDF). Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Diário de Notícias: 21. 14 de maio de 2000
- ↑ Câmara Municipal de Lisboa (CML) - Toponímia de Lisboa
Bibliografia
editar- António de Almeida Santos (1999). Quase Retratos. Lisboa: Editorial Notícias. ISBN 9724610861, EAN 9789724610863 Verifique
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(ajuda)