Hoje é dia de janeiro
Este dia de janeiro |
recolha de Teófilo Braga, in Cantos Populares do Arquipélago Açoriano (1869)[1] |
"Hoje é dia de janeiro"[Nota 1] é o incipit de uma conhecida quadra tradicional portuguesa. A sua temática é a circuncisão de Jesus[1], celebrada tradicionalmente no 1.º de janeiro. Por essa razão faz parte de várias cantigas de janeiras.
Interpretação
editarO tema dos versos é a circuncisão de Jesus. De acordo com a tradição cristã este evento é de especial relevo, uma vez que é considerado a primeira das ocasiões em que Jesus Cristo derramou o seu sangue no processo de Redenção da Humanidade. Este simbolismo, surge já no século XIV na célebre Lenda Dourada de Jacopo de Varazze:
— Jacopo de Varazze
O sermão Xavier Dormindo e Xavier Acordado: Dormindo[3] do padre António Vieira publicado em 1694 usa a mesma terminologia que os versos:
Seis vezes […] derramou Cristo seu preciosíssimo sangue: na Circuncisão, no Horto, nos açoutes, na coroação, na Cruz e na lançada. Saibamos; E de todo este sangue tantas vezes e por tantos modos derramado, ouve algum que tivesse alguma excelência, alguma ventagem, alguma prerrogativa ou quando menos alguma diferença pela qual mereça ser estimado, honrado e venerado com mais particular amor, com mais particular devoção, com mais particular afeto? Toda a Teologia mística, que é a que mais alcança de Deus, responde que sim e dá esta excelência e prerrogativa ao sangue que Cristo derramou no Horto. Mas, porquê? Que mais teve o sangue do Horto que o da Cruz, que o da coluna, que o da coroa de espinhos e mais tormentos?
Versões
editarA quadra foi recolhida inserida em diversas cantigas, principalmente janeiras, nas regiões da Beira Alta[4][5], Beira Baixa[carece de fontes], Baixo Alentejo[6] e Algarve[7] e no arquipélago dos Açores[1]. A mais conhecida, "Hoje é dia de janeiro" é proveniente da Beira Alta[5] e foi harmonizada pelo compositor português Fernando Lopes-Graça para a sua Segunda Cantata do Natal terminada em 1961[8].
Algarve (1917) |
Mértola (1970) |
Beira Alta |
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Esta noite é de janeiras |
Esta noite é de janeiras |
Hoje é dia de janeiro |
Tormentos que Deus passou |
Os tormentos que passou |
Lá no céu está uma escada |
O seu sangue derramou, |
Despedidas queremos dar | |
Da primeira se faz o pão, |
Ver também
editarNotas
- ↑ Ou, noutras variantes, "Esta noite é de janeiras", "Este dia de janeiro", "O primeiro de janeiro".
Referências
- ↑ a b c Braga, Teófilo (1869). Cantos Populares do Archipelago Açoriano 1 ed. Porto: Typ. da Livraria Nacional
- ↑ Voragine, Jacobi a (1801). Legenda Aurea. vulgo historia lombardica dicta (em latim). Lipsiae: Imprensis Librariae Arnoldianae. p. 82
- ↑ Vieira, Pe. António (1694). «Xavier dormindo: Sonho terceiro (VI)». Xavier Dormindo e Xavier Acordado: Dormindo. Em tres Oraçoens Panegyricas no Triduo da sua Festa. 8 1 ed. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes. p. 121. 536 páginas
- ↑ Correia Silva (1920). «As Janeiras». Lisboa: Livraria Clássica Editora. Revista Lusitana. 23 (1-4). 189 páginas
- ↑ a b Chão de Couge, Associação de Cultura, Recreio e Beneficência de (1967). Cantos Regionais Portugueses. pelo Coro da Academia de Amadores de Música 1 ed. Lisboa: Cromotipo
- ↑ a b Giacometti, Michel; Fernando Lopes-Graça (1981). Cancioneiro Popular Português 1 ed. Lisboa: Círculo de Leitores
- ↑ a b Gasgon, José António Guerreiro (1917). «As Janeiras e os Reis (Algarve)». Lisboa: Livraria Clássica Editora. Revista Lusitana. XX (3-4). 177 páginas
- ↑ Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Segunda Cantata do Natal». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 5 de novembro de 2015
- ↑ «10. Hoje é dia de Janeiro». Comsonante. Consultado em 5 de novembro de 2015