Hotel São Cristóvão
O Hotel São Cristóvão, originalmente conhecido como Estalagem São Cristóvão, foi um edifício histórico na cidade de Lagos, na região do Algarve, em Portugal.
Hotel São Cristóvão | |
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Vista do hotel a partir do Monte Molião, em 2011. | |
Informações gerais | |
Nomes alternativos | Estalagem São Cristóvão |
Tipo | Hotel |
Inauguração | 20 de Fevereiro de 1955 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Lagos |
Região | Algarve |
Coordenadas | 37° 06′ 37″ N, 8° 40′ 40,6″ O |
Localização em mapa dinâmico |
Descrição e história
editarEm 11 de Dezembro de 1954, o Ministro das Obras Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira, passou pela Estalagem, no âmbito de uma visita ministerial ao Algarve.[1]
A estalagem foi inaugurada em Fevereiro de 1955, por iniciativa do empresário Hermano do Nascimento Baptista,[2] tendo sido então considerada pelo jornal Correio do Sul como um «notável realização que muito já está contribuindo e contribuirá para o desenvolvímento turístico da belíssima região», acrescentando que «veio preencher uma lacuna que muito se fazia sentir na linda cidade algarvia».[3] Uma opinião semelhante foi expressada pelo Jornal de Lagos, que considerou a construção da estalagem como uma das importantes iniciativas para o desenvolvimento da cidade.[2] Foi edificada durante uma fase de expansão urbana de Lagos, com a instalação de vários edifícios na área de São João, principalmente unidades industriais.[2]
Foi desenhado pelo arquitecto António Vicente de Castro na década de 1950, como a tese final do seu curso, sendo então conhecido como Estalagem de São Cristóvão e Posto Rodoviário de Lagos.[4] Segundo o Correio do Sul, o edifício apresentava «linhas elegantes e modernas», obedecendo então a «todos requisitos de higiene e conforto, com água quente e fria e telefone em todos os quartos, magnífica casa de jantar e excelente bar, logo à entrada da cídade e com lindos aspectos sobre a mesma».[3] Inicialmente contava com apenas doze quartos, mas já nesse período estava a ser planeada a sua ampliação, de forma a duplicar o número de quartos.[3]
Durante os seus primeiros anos, era destinado principalmente aos motoristas, mas na sequência do crescimento da procura turística em Lagos, conheceu uma grande expansão, passando de hospedaria a hotel.[5] Segundo o jornal O Algarve de 15 de Dezembro de 1968, em breve iria ser inaugurado o edifício após a sua reconversão num hotel, contando então com «sessenta quartos com casa de banho privativa, uma sala de jantar para trezentos lugares, um bar, salas de convívio, terraços de onde, devido à excelente localização se disfrutam belos panoramas sobre a grande baía de Lagos».[6] A inauguração após as obras teve lugar em 10 de Maio de 1969, numa cerimónia que contou com a presença do chefe de estado, Américo Tomás.[7]
Ao longo da sua existência, chegou a afirmar-se como uma referência da cidade de Lagos,[5] tendo contado com grandes figuras da política e cultura nacionais entre os seus clientes, como Amália Rodrigues e António Soares Carneiro, este último no âmbito de um comício para a candidatura à Presidência da República.[5] Porém, posteriormente o edifício entrou num profundo processo de declínio,[5] tendo sido encerrado por volta de 1997, ficando ao abandono.[8] Tornou-se então local de abrigo a toxicodependentes e imigrantes, gerando um clima de insegurança naquela área.[8] Sofreu pelo menos dois incêndios, agravados pela presença de mobiliário antigo no seu interior, e em 2003 foi encontrado o cadáver de um cidadão de nacionalidade ucraniana na antiga cave.[8] Devido à sua localização, junto de uma das principais entradas da cidade, os sinais exteriores de degradação prejudicavam a imagem de Lagos, motivo pelo qual a Câmara Municipal procurou negociar com os proprietários, mas sem sucesso.[5] Com efeito, enquanto que o município pretendia que o edifício retomasse as suas funções históricas de hotel, os promotores defenderam a sua demolição, no sentido de serem ali construídos imóveis residenciais.[5] Eventualmente o antigo hotel foi demolido, em conjunto com o complexo da Adega Cooperativa de Lagos, que lhe ficava fronteiro,[5] para a construção do condomínio Adega, composto por prédios de apartamentos, cuja instalação ficou a cargo da empresa Miralagos.[9] Este processo inseriu-se num programa da autarquia para a eliminação dos problemas urbanísticos provocados grandes edifícios hoteleiros em condições devolutas, e que incluiu igualmente a demolição das chamadas Torres da Crotália, junto à Ponta da Piedade, e a remodelação do Hotel Golfinho, na Praia de Dona Ana.[10]
Ver também
editarBibliografia
editar- FERNANDES, José Manuel; JANEIRO, Ana (Dezembro de 2005). Arquitectura no Algarve: Dos primórdios à actualidade, uma leitura de síntese (PDF). Faro: Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. ISBN 972-643-138-7
Referências
- ↑ NEVES, Jaques (15 de Janeiro de 1955). «A visita ministerial ao Algarve» (PDF). Jornal de Lagos. Ano XXVIII (1019). Lagos. p. 4. Consultado em 23 de Abril de 2024 – via Hemeroteca Digital do Algarve
- ↑ a b c NEVES, Jacques (28 de Fevereiro de 1955). «A Inauguração da «Estalagem S. Cristóvão»» (PDF). Jornal de Lagos. Ano XXIX (1021). Lagos. p. 1-4. Consultado em 22 de Abril de 2024 – via Hemeroteca Digital do Algarve
- ↑ a b c «Estalagem de São Cristóvão» (PDF). Correio do Sul. Ano XXXVI (1949). Faro. 28 de Abril de 1955. p. 1-3. Consultado em 22 de Abril de 2024 – via Hemeroteca Digital do Algarve
- ↑ FERNANDES e JANEIRO, 2005:34
- ↑ a b c d e f g OLIVEIRA, Guedes de (18 de Janeiro de 2018). «A demolição do São Cristóvão e da Adega Cooperativa». Algarve Marafado. Consultado em 22 de Abril de 2024
- ↑ «Hotel São Cristóvão em Lagos» (PDF). O Algarve. Ano 61 (3168). Faro. 15 de Dezembro de 1968. p. 1-6. Consultado em 27 de Maio de 2024 – via Hemeroteca Digital do Algarve
- ↑ «O Chefe de Estado esteve no Algarve: Em Lagos inaugurou a estátua de Gil Eanes, o Palácio da Justiça e o Hotel S. Cristóvão» (PDF). Comércio de Portimão. Ano 43 (2166). Portimão. 22 de Maio de 1969. p. 1. Consultado em 6 de Novembro de 2024 – via Hemeroteca Digital do Algarve
- ↑ a b c «Cadáver ucraniano em hotel abandonado». Correio da Manhã. 7 de Abril de 2003. Consultado em 22 de Abril de 2024
- ↑ «NOVO LANÇAMENTO - Condomínio Adega, em Lagos». Casas do Barlavento. Consultado em 22 de Abril de 2024
- ↑ COUTO, N. (4 de Julho de 2018). «"Mamarracho" dos anos 60 vai finalmente ser demolido em Lagos». Jornal do Algarve. Consultado em 22 de Abril de 2024