Os icterídeos (Icteridae) são uma família de aves passeriformes restrita ao Novo Mundo, que inclui os corrupiões, chupins, graúnas, iraúnas, iratauás, japus e pássaros-pretos. A maioria das espécies tem o preto como cor de plumagem predominante, muitas vezes ressaltado por um amarelo, laranja ou vermelho. As espécies dessa família variam amplamente em tamanho, forma e comportamento. O nome vem do grego antigo ikteros que significa "icterícia", por causa das proeminentes penas amarelas de muitas espécies.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaIcterídeos
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Subordem: Passeri
Família: Icteridae
Vigors, 1825
Géneros
29, ver texto

Este grupo é semelhante aos oriolídeos do Velho Mundo, porém as duas famílias não estão relacionadas entre si, sendo um claro exemplo de convergência evolutiva.

Os icterídeos (Icteridae) não devem ser confundidos com os icteriídeos (Icteriidae), uma família criada em 2017 e composta por uma única espécie – o mariquitão (Icteria virens).

Características

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Distribuição e habitat

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São restritos às Américas, ocorrendo desde o Canadá até a Argentina. A maioria das espécies vivem nos trópicos, embora muitas espécies também ocorram em regiões temperadas, como a graúna-de-asas-vermelhas (Agelaius phoenicus) e o peito-vermelho-rabilongo (Leistes loyca). A maior concentração de espécies é encontrada na Colômbia e no sul do México.[1] Habitam uma gama de habitats, incluindo pastagens, pântanos, florestas e cerrados. Espécies de áreas temperadas são migratórias.[2]

Descrição

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O nome dessa família é por causa da plumagem amarela contrastante com o preto da maioria das espécies, como neste macho de corrupião-de-asa-branca (Icterus bullockii).

Os icterídeos são de tamanho variável e muitas vezes exibem dimorfismo sexual considerável, com os machos geralmente exibindo coloração mais brilhante e tamanho maior. Embora tal dimorfismo seja amplamente conhecido em passeriformes, o dimorfismo sexual por tamanho é excepcionalmente extremo nessa família. Por exemplo, a iraúna-mexicana (Quiscalus mexicanus) macho é 60% mais pesado que a fêmea. A menor espécie de icterídeo é o corrupião-castanho (Icterus spurius), em que a fêmea mede em média 15 cm de comprimento e pesa 18 g, enquanto a maior é o japuguaçu (Psarocolius bifasciatus), cujo macho mede 52 cm e pesa cerca de 550 g. Esta variação de tamanho é uma das maiores entre as aves passeriformes (ficando atrás apenas do tietê-de-coroa, Calyptura cristata).[3] Uma adaptação morfológica incomum compartilhada pelos icterídeos é a abertura da mandíbula, onde o crânio é configurado para permitir que eles abram seus bicos fortemente.

Alimentação

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Os icterídeos podem alargar cavidades forçando seus bicos, como este macho de graúna-violácea (Euphagus cyanocephalus).

Se adaptaram a uma ampla variedade de alimentos. Japus e iraúnas usam suas grandes mandíbulas para quebrar cascas das frutas e obter o interior, e têm bicos compridos adaptados ao processo. Outros, como os chupins e o triste-pia (Dolichonyx oryzivorus), têm bicos mais curtos e grossos para esmagar sementes. A graúna-jamaicana (Nesopsar nigerrimus) usa seu bico para forragear entre cascas de árvores e epífitas, e adotou o nicho evolutivo preenchido em outros lugares da região Neotropical por arapaçus. Os corrupiões bebem néctar de frutos e flores.

Reprodução

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Colônia reprodutiva de vários japus-centro-americanos (Psarocolius montezuma).

Os hábitos de nidificação dessas aves também são variáveis. Muitos icterídeos possuem comportamentos de colônia. Muitos japus constroem ninhos de tecido pendular. Algumas espécies de chupins praticam nidoparasitismo; as fêmeas colocam seus ovos nos ninhos de outras espécies, de forma semelhante a alguns cuculídeos.[2]

Relacionamento com humanos

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Algumas espécies de icterídeos tornaram-se pragas agrícolas; por exemplo, as graúnas-de-asa-vermelha (Agelaius phoenicus) nos Estados Unidos são consideradas as piores pragas vertebradas de plantações de arroz.[4] O custo do controle de graúnas na Califórnia era de 30 US$ por acre em 1994. Nem todas as espécies foram tão bem-sucedidas, e várias espécies estão ameaçadas de extinção. Estes incluem formas insulares como a graúna-jamaicana (Nesopsar nigerrimus), a graúna-de-ombros-amarelos (Agelaius xanthomus), o corrupião-de-santa-lúcia (Icterus laudabilis) e a graúna-tricolor (Agelaius tricolor), todos ameaçados pela perda de habitat e destruição de ninhos.

Sistemática

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Taxonomia

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A família Icteridae foi reduzida a tribo (Icterini) da família Fringillidae sensu lato na taxonomia de Sibley-Ahlquist.[5][6] Entretanto, esse arranjo não foi seguido por outros autores.[7][8]

O gênero Scaphidura foi incluído como sinônimo de Molothrus.[9] Os gêneros Gymnostinops e Zarhynchus foram incluídos em Psarocolius.[10][9][11]

Espécies

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Possui aproximadamente vinte e nove gêneros reconhecidos:[12]

Imagem Gênero  Espécies
  Dolichonyx Swainson, 1827
  Agelaius Vieillot, 1816
  Xanthopsar Ridgway, 1901
  Agelasticus Cabanis, 1851
  Chrysomus Swainson, 1837
  Nesopsar P.L. Sclater, 1859
  Sturnella Vieillot, 1816
  Leistes Vigors, 1825
  Xanthocephalus Bonaparte, 1850
  Dives Cassin, 1867
  Euphagus Cassin, 1867
  Quiscalus Vieillot, 1816
  Agelaioides Cassin, 1866
  Molothrus Swainson, 1832
  Icterus Brisson, 1760
  Amblycercus Cabanis, 1851
  Cassiculus Swainson, 1827
  Cacicus Lacepede, 1799
  Psarocolius Wagler, 1827
  Gymnomystax L. Reichenbach, 1850
  Pseudoleistes P.L. Sclater, 1862
  Amblyramphus Leach, 1814
  Hypopyrrhus Bonaparte, 1850
  Curaeus (PL Sclater, 1862)
Anumara Powell et al., 2014
  Gnorimopsar Richmond, 1908
Oreopsar WL Sclater, 1939
Lampropsar Cabanis, 1847
  Macroagelaius Cassin, 1866

Referências

  1. Lowther P (1975) "Geographic and Ecological Variation in the Family Icteridae" Wilson Bulletin 87 (4): 481-495
  2. a b Parkes, Kenneth C. (1991), Forshaw, Joseph, ed., Encyclopaedia of Animals: Birds, ISBN 1-85391-186-0, London: Merehurst Press, pp. 214–215 
  3. Prum, Richard O.; Snow, David W. (2003), «Cotingas», in: Christopher Perrins, Firefly Encyclopedia of Birds, ISBN 1-55297-777-3, Firefly Books, pp. 432–433 
  4. Dolbeer, R & S Ickes (1994) "Red-winged Blackbird feeding preferences and response to wild rice treated with Portland cement or plaster" Vertebrate Pest Conference Proceedings collection Proceedings of the Sixteenth Vertebrate Pest Conference (1994) (W.S. Halverson& A.C. Crabb, Eds.)  Univ. of Calif.:Davis.
  5. SIBLEY, C.G.; AHLQUIST, J.E. (1990). Phylogeny and classification of birds. New Haven: Yale University Press 
  6. Sibley, C.G.; Monroe; E, B.L .Jr. (1990). Distribution and Taxonomy of Birds of the World. New Haven: Yale University Press 
  7. Dickinson, E. (ed.) (2003). The Howard and Moore Complete Checklist of the Birds of the World 3 ed. Princeton: Princeton University Press 
  8. Clements, J.F. (2007). The Clements Checklist of Birds of the World 6 ed. Ithaca: Cornell University Press 
  9. a b Johnson, K.P.; Lanyon, S.M. (1999). «Molecular systematics of the grackles and allies, and the effect of additional sequence (cyt b and ND2)». Auk. 116: 759-768 
  10. Price, J.J.; Lanyon, S.M. (2002). «Reconstructing the Evolution of Complex Bird Song in the Oropendolas». Evolution. 56: 1514-1529 
  11. Lowther P.E. (2001). «New name for the Bolivian Blackbird». Bulletin of the British Ornithologists’ Club. 121 (4): 280-281 
  12. GILL, F.; DONSKER, D. (Eds). (2011). «Order Passeriformes (family Icteridae)». IOC World Bird List version 2.9. Consultado em 27 de julho de 2011 

Ligações externas

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