Igreja da Misericórdia de Odemira
A Igreja da Misericórdia de Odemira, também conhecida como Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Odemira ou Igreja de Santa Isabel, é um monumento religioso na vila da Odemira, na região do Alentejo, em Portugal. Foi construída nos finais do século XVI,[1] e em meados do século XX foi profanada, passando a ser ocupada por várias funções civis.[2] Foi classificada como Monumento de interesse público em 2011.[1] É conhecida principalmente pelas pinturas murais no seu interior.[1]
Igreja da Misericórdia de Odemira | |
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Informações gerais | |
Nomes alternativos | Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Odemira / Igreja de Santa Isabel |
Tipo | Igreja |
Estilo dominante | Maneirista |
Construção | Século XVI |
Religião | Igreja Católica Romana |
Diocese | Diocese de Beja |
Património de Portugal | |
Classificação | Monumento de Interesse Público |
DGPC | 6302005 |
SIPA | 4347 |
Geografia | |
País | Portugal |
Região | Alentejo |
Coordenadas | 37° 35′ 49,8″ N, 8° 38′ 29,6″ O |
Localização em mapa dinâmico |
Descrição
editarA igreja está situada no centro histórico da vila de Odemira, tendo acesso por um pequeno largo.[1] É dedicada a Santa Isabel.[3] Enquadra-se no estilo maneirista,[2] tanto na sua arquitectura como nos elementos decorativos no interior.[4]
Apresenta uma organização pouco usual, com um exterior de planta rectangular e um interior oval, modelo que é considerado pouco comum entre os edifícios religiosos na região.[5] Desta forma, o interior é totalmente unificado, sem espaços próprios para a nave e capela-mor.[5] Adossada à fachada direita está a sacristia e outras dependências.[3] A nave possui um telhado de quatro águas, enquanto que a sacristia e o anexo possuem coberturas diferenciadas, de uma só água.[6] A fachada principal está orientada a Leste, e é de um só pano, com remate em cornija e beirado.[6] O portal de entrada, no estilo maneirista, é executado em mármore, e possui verga recta.[6] É definido por três pilastras no estilo coríntio, uma central, formando um mainel, e duas laterais, coroadas por urnas com decoração de troféus e grinaldas em baixo-relevo.[6] Acima do portal abre-se um nicho, ladeado por pilastras com urnas, e com uma moldura de volutas, sendo este conjunto rematado por uma verga saliente, executada em cantaria.[6] Neste nicho situava-se originalmente uma estátua de Nossa Senhora da Visitação em pedra.[3] Esta imagem foi removida para fazer parte de uma exposição itinerante de arte sacra, tendo posteriormente sido colocada no Lar Nossa Senhora da Visitação, em Odemira.[3] No portal destacam-se igualmente as urnas que fazem parte da sua decoração, que provavelmente são um símbolo da eternidade.[7] Tanto a fachada principal como a do tardoz possuem dois contrafortes, enquanto que o lado poente, que segue o desnível da rua, é segurado por três contrafortes.[1]
O interior é muito simples, já não possuindo os altares ou outros elementos decorativos, tendo as paredes pintadas em tons azuis e brancos.[7] Porém, restaram alguns vestígios de uma rica cobertura em pinturas murais, que poderiam ter originalmente coberto totalmente as paredes, mas que foram posteriormente ocultadas por várias camadas de cal.[1] Foram executadas seguindo a técnica do fresco, com alguns acabamentos a seco, sendo consideradas únicas na região.[5] Estas pinturas representam cenas bíblicas e de tema religioso, como a visitação de Nossa Senhora a Isabel, cada um dos evangelistas, as figuras de Santa Ana e São Joaquim, ambos com um ramo a sair do peito, a anunciação, um cálice e uma grinalda de anjos sobre uma cena que já desapareceu, e uma figura masculina com um turbante, que provavelmente simbolizava o resgate dos cativos, considerada uma das obras de misericórdia.[7] Desta forma, a igreja combinava dois espaços muito diferentes, um exterior sóbrio e discreto, e um interior com rica decoração em murais, prática que era comum nas regiões do Alentejo e do Algarve.[7]
Devido à sua arquitectura e decoração interior, o imóvel é considerado pela Câmara Municipal de Odemira como «único no âmbito do património religioso construído no concelho de Odemira e destacável no próprio contexto regional».[8] José António Falcão, director geral do festival Terras sem Sombra e historiador de arte, considerou a igreja como «o edifício mais espetacular e interessante do ponto de vista da história da arte», e adiantou que é conhecida como «a Capela Sistina de Odemira», devido à riqueza dos seus frescos.[7] Qualificou o edifício como um exemplo da «arquitetura mais experimental do Maneirismo português, que chega a um meio pequeno e afastado» como a vila de Odemira, e avançou a hipótese que terá sido obra de «um dos muitos arquitetos formados em Coimbra».[7] Realçou igualmente as urnas que fazem parte da decoração do portal, que classificou como «peças de grande erudição que surpreendem num meio em que predominaria a arquitetura regional».[7]
História
editarA irmandade da Misericórdia de Odemira foi criada em 1569, e a igreja foi construída na segunda metade do século XVI.[2] O historiador Pinho Leal refere na sua obra Portugal antigo e moderno que a «casa de Misericórdia, erecta em 1569, na ermida do Espirito Santo, que serve hoje de hospital. D'aqui passou para a sua nova egreja (a actual) em 1576».[9]
Foi profanada na segunda metade do século XX, tendo sido reaproveitada em várias funções civis.[2] Como parte deste processo, sofreu várias alterações a nível estrutural, embora mantendo-se ainda no estilo maneirista,[3] e o interior também foi muito danificado, tendo perdido o mobiliário, os altares,[7] e vários elementos decorativos,[3] enquanto que as antigas pinturas murais foram ocultadas por camadas de cal.[5] Também foi acrescentado um volume à igreja, para servir de garagem, e instalada uma nova cobertura.[6] Em 1991, a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia, que se encontrava no nicho sobre o portal, foi transferido para a sede da Santa Casa da Misericórdia.[6] Em meados da década de 2000, a igreja era utilizada como sede partidária.[5]
O processo para a classificação da igreja iniciou-se em 1998, pela Direcção Regional de Évora do Instituto Português do Património Arquitectónico,[5] tendo sido concluído com a homologação como Monumento de interesse público pela Portaria n.º 505/2011, de 8 de Abril.[1] Em 2013, a igreja acolheu o evento de cinema Fragmentos Escondidos,[10] e em Abril de 2014 foi ali organizada a exposição de artes plásticas A Liberdade e os 40 anos do 25 abril,[11] Em 2015, a Santa Casa da Misericórdia cedeu o edifício à Câmara Municipal de Odemira durante um prazo de vinte anos,[7] de forma a fazer obras de restauro e promover a sua valorização, «para potenciar a sua importância histórica e utilização para fins culturais e sociais».[8] Esta intervenção iria abrangir a estrutura da igreja e área em redor, e o restauro dos frescos no seu interior.[8] Foi medida foi organizada em parceria com a Misericórdia e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, tendo sido alvo de uma candidatura aos fundos comunitários, no âmbito do programa Portugal 2020.[8] Na sequência deste acordo, a autarquia começou a utilizar a antiga igreja como espaço para exposições e eventos de natureza institucional,[7] tendo por exemplo recebido em Dezembro de 2017 a exposição natalícia Estrelas e Coroas,[12] e entre 2017 e 2019 albergou as exposições colectivas da associação Sopa dos Artistas.[13]
Em Março de 2017, a vereadora da Câmara Municipal de Odemira para a cultura, Deolinda Seno Luís, revelou que já estava em elaboração um projecto que iria permitir as intervenções a serem feitas no imóvel.[7] Admitiu que a recuperação iria ser uma «intervenção onerosa», uma vez que seria necessário «trabalhar num projeto, com técnicos especializados e fazer o levantamento da intervenção artística e de restauro ainda necessária», além do «arranjo urbanístico da envolvente».[7] Esclareceu que naquela altura o quadro comunitário privilegiava as intervenções no património em castelos, relegando para segundo plano as obras em monumentos religiosos, mas que a autarquia iria avançar com o projecto de arquitectura, de forma a estar concluído «para uma futura candidatura».[7] Chamou igualmente a atenção para a comunidade de morcegos que então habitava no monumento, admitindo que a autarquia poderia instalar um morcegário no local.[7] Nesse ano, já se tinha iniciado o restauro das pinturas murais, que numa primeira fase foram alvo de uma intervenção por parte dos formandos de um curso de Auxiliares de Conservação e Restauro, organizado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo, e coordenado pela conservadora Deolinda Tavares e outros quatro especialistas.[7] Estes trabalhos incluíram a remoção de pequenas zonas quadradas da cal das paredes, que foram alargadas nos sítios onde foram descobertos frescos.[7]
Ver também
editar- Lista de património edificado em Odemira
- Casa na Rua Alexandre Herculano n.º 1, Odemira
- Castelo de Odemira
- Cineteatro de Odemira
- Ermida de São Pedro (Odemira)
- Ermida de São Sebastião (Odemira)
- Estação dos Correios de Odemira
- Fontanário da Praça Sousa Prado
- Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Almodôvar
- Igreja da Misericórdia de Castro Verde
- Igreja da Misericórdia de Colos
- Igreja da Misericórdia de Ferreira do Alentejo
- Igreja Paroquial de Santa Maria de Odemira
- Marcos da Barca de Odemira
- Moinho de Vento de Odemira
- Paços do Concelho de Odemira
- Ponte de Odemira
- Unidade de Cuidados Continuados de Odemira
Referências
- ↑ a b c d e f g PORTUGAL. Portaria n.º 505/2011, de 8 de Abril. Ministéro da Cultura - Gabinete do Secretário de Estado da Cultura. Publicado no Diário da República n.º 76, 2.ª série, de 18 de Abril de 2011.
- ↑ a b c d «Igreja da Misericórdia». Odemira Turismo. Câmara Municipal de Odemira. Consultado em 24 de Janeiro de 2023
- ↑ a b c d e f «Igreja da Misericórdia de Odemira». Santa Casa da Misericórdia de Odemira. Consultado em 9 de Fevereiro de 2022
- ↑ «Mais de 10 milhões de Euros de investimento no litoral de Odemira» (PDF). Odemira em Notícia. Odemira: Câmara Municipal de Odemira. Fevereiro de 2016. p. 4. Consultado em 6 de Junho de 2022
- ↑ a b c d e f OLIVEIRA, Catarina (2006). «Igreja da Misericórdia de Odemira». Património Cultural. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 11 de Fevereiro de 2022
- ↑ a b c d e f g FALCÃO, José; PEREIRA, Ricardo (1996). «Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Odemira». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 12 de Fevereiro de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p RODRIGUES, Elisabete (28 de Março de 2017). «Há planos para recuperar a "Capela Sistina" de Odemira». Sul Informação. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022
- ↑ a b c d «Santa Casa cede Igreja da Misericórdia de Odemira ao Município». Sul Informação. 2 de Dezembro de 2015. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022
- ↑ LEAL, 1875:202
- ↑ «Colóquio Ignorância e Esquecimento: Odemira 13» (PDF). Rede de Competências para o Desenvolvimento e a Inovação. 2013. p. 4. Consultado em 11 de Fevereiro de 2022
- ↑ «Exposição de Artes Plásticas nas Igreja da Misericórdia de Odemira». Cardápio. 21 de Abril de 2014. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022
- ↑ «"Estrelas e Coroas" para ver em Odemira». Rádio Pax. 25 de Dezembro de 2007. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022
- ↑ «Exposição de pintura de Sofia do Vale». EMARP. Consultado em 11 de Fevereiro de 2022
Bibliografia
editar- LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho (1875). Portugal Antigo e Moderno: Diccionario Geographico, Estatistico, Chorographico, Heraldico, Archeologico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Volume VI. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira Companhia. 702 páginas. Consultado em 10 de Fevereiro de 2022 – via Archive.org
Leitura recomendada
editar- QUARESMA, António Martins (1989). Odemira: Subsídios para uma Monografia. Odemira: Câmara Municipal de Odemira
Ligações externas
editar- Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Odemira na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
- Igreja da Misericórdia de Odemira na base de dados Ulysses da Direção-Geral do Património Cultural