Igreja da Madre de Deus (Macau)
A Igreja da Madre de Deus constitui, juntamente com o Colégio de São Paulo, as famosas Ruínas de São Paulo em Macau. Estas ruínas, entre as quais se salientam a imponente fachada e a escadaria de granito da igreja destruída, são os vestígios sobreviventes da igreja e do colégio, ambos construídos pelos jesuítas na segunda metade do século XVI e destruídos em 1835 por um violento incêndio.
Devido à sua beleza e valor arquitectónico e histórico excepcionais, as Ruínas de São Paulo, principalmente a fachada, foram incluídas no Centro Histórico de Macau, por sua vez incluído na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Da Igreja, restou uma imponente fachada de granito e uma escadaria monumental de 68 degraus, mas, em contrapartida, não restaram muitas coisas do Colégio.
Segundo o "Atlas mundial de la arquitectura barroca" (uma publicação da UNESCO em 2001), a fachada da Igreja da Madre de Deus, juntamente com a Igreja de S. José, é um exemplo único da arquitectura barroca na China. Foi classificada, em 2009, como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.
História
editarA Igreja da Madre de Deus, também chamada de Igreja de São Paulo, foi construída pelos jesuítas em Macau no ano de 1565, em anexo ao Colégio de São Paulo, a primeira instituição universitária de tipo ocidental no Oriente.
Em 1595 um incêndio causou algumas danificações à Igreja e ao Colégio. O colégio foi rapidamente reconstruído, mas a igreja só acabou de ser reparada em 1602. Após as grandes reparações, ela tornou-se numa bela e grandiosa igreja. A igreja, excepto a fachada, era construída em taipa e madeira. De acordo com vários registos, ela estava ricamente decorada e mobilada. Naquela altura, ela era a maior igreja católica do Extremo Oriente e era muitas vezes chamada de "Vaticano do Oriente". Uma inscrição em latim, à esquerda da base da fachada, confirma esta data de reconstrução: "Ano de 1602, Macau dedica à Santíssima Virgem Maria". Em 1603, entrou de novo em serviço. Os jesuítas foram forçados a abandoná-la em 1762, quando foram expulsos pelas autoridades portuguesas, durante a supressão da Companhia de Jesus. Em 1835, entre as 18h00 e as 20h15, um violento incêndio, começado nas cozinhas do Colégio, alastrou-se rapidamente, destruindo completamente o Colégio e a Igreja. Apenas a fachada e a escadaria de granito conseguiram escapar à destruição. Alguns dizem que o facto de a fachada conseguir escapar à destruição foi um autêntico milagre de Deus. A Igreja nunca mais foi reconstruída.
Descrição da fachada
editarA grandiosa e elegante fachada de granito foi trabalhada, durante muitos anos, por cristãos japoneses exilados e artistas locais, sob a orientação do jesuíta italiano Carlo Spinola. Tem 23 metros de largura e 25,5 metros de altura. Esta fachada foi construída com base no conceito clássico da divina ascensão, por isso está dividida em 5 níveis horizontais encimados por um frontão triangular. Cada nível da fachada representa um determinado estado da caminhada espiritual ascendente do crente ao Paraíso, que é o último estado desta longa caminhada cristã e o lugar onde vão todos os homens que, resistindo à tentação do Diabo, conseguiram fazer a caminhada toda e alcançar a santidade. Por isso, o frontão (o quinto e último nível) simboliza a Santíssima Trindade, que vive no Paraíso.
A fachada, imponente e magnífica, é de estilo maneirista/barroco, mas também apresenta estilos da ordem jónica, da ordem coríntia e da ordem compósita. É ricamente decorada com imagens bíblicas, representações mitológicas, símbolos do Paraíso e do Mistério pascal, inscrições religiosas em chinês, crisântemos japoneses, uma caravela portuguesa, leões chineses, esculturas e estátuas de bronze com imagens dos fundadores da Companhia de Jesus (Santo Inácio de Loyola, São Francisco de Borja, São Francisco Xavier e São Luís Gonzaga), da Virgem Maria, do Menino Jesus, de anjos e de demónios. As imagens da Virgem Maria ocupam uma posição central nesta fachada, justamente porque esta fachada pertence a uma igreja que se chama "Madre de Deus" (ou "Mãe de Deus", ou seja, a Virgem Maria).
Esta fachada reflecte o estilo arquitectónico dos jesuítas e uma fusão de influências à escala mundial, regional e local. Ela é uma peça arquitectónica muito rara e apresenta elementos de influência europeia, chinesa, japonesa e de outras partes da Ásia. É considerada um verdadeiro sermão e síntese doutrinal em pedra, porque ensina as pessoas, através de imagens e de algumas inscrições em chinês e em latim, a doutrina católica e os principais ensinamentos defendidos na Contra-Reforma católica, como a transubstanciação, o papel especial da Virgem Maria na salvação, a graça, a missa, a questão da justificação, os santos, etc. Actualmente, a fachada de São Paulo é um dos símbolos e centros turísticos de Macau. Funciona também simbolicamente como o altar da Cidade.
Ver também
editar- Ruínas de São Paulo (Macau)
- Diocese de Macau
- Colégio de São Paulo (Macau)
- Igreja de São Paulo (outros significados)
- Igreja da Madre de Deus (outros significados)
- Catolicismo na China
Referências
editar- Cidade do Santo Nome de Deus, Percurso histórico da Igreja em Macau. Editado pela Associação de Leigos Católicos de Macau, no ano de 2005.