Imprensa alternativa na ditadura militar brasileira
Durante a ditadura militar brasileira, a imprensa alternativa foi um espaço importante de crítica ao governo, divulgando denúncias e promovendo o debate nas organizações de esquerda, por meio de humor, análise política ou informação. A mídia alternativa teve um papel fundamental de oposição e resistência à ditadura no Brasil.[1]
História
editarContexto
editarA imprensa considerada de esquerda, comunista, socialista e nacionalista sofreu repressão logo após o Golpe de 1964, com alguns jornais e revistas deixando de circular imediatamente. Por exemplo, o Última Hora, de Samuel Wainer, jornal de grande repercussão, nacionalista e de apoio ao Governo João Goulart, foi empastelado e entregue a grupos jornalísticos golpistas. A grande maioria dos meios de comunicação, seja a televisão, rádio ou a mídia escrita, apoiou a ditadura, submetendo-se aos ditames da censura oficial e dos patrões. Entretando, a imprensa liberal-conservadora que deu sustentação ao golpe, cerca de quatro anos depois, também se submeteu à censura, até mesmo os conservadores O Estado de S. Paulo e Tribuna da Imprensa, que foram duramente censurados, principalmente a partir de 1970.[1]
Além da censura, a ditadura também recorreu à pressão econômica a órgãos e empresas que não aderiram ao regime. Por exemplo, a rede de televisão de maior audiência da época, a TV Excelsior, foi fechada, devido ao apoio do canal ao governo Goulart. Seus equipamentos e instalações foram entregues à então recente Rede Globo. Apoiada por capital dos Estados Unidos e por farta publicidade oficial, a emissora viria a ser a porta-voz oficiosa da ditadura. Além disso, o jornal liberal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, que apoiou o regime num primeiro momento mas logo se tornou crítico, foi fechado e sua proprietária, Niomar Moniz Sodré, presa.[1]
Popularidade
editarO nome "imprenas alternativa" foi usado pela primeira vez no Brasil em 1976 por Alberto Dines na Folha de S.Paulo para descrever os jornais da Inglaterra que faziam oposição aos tabloides. O primeiro jornal brasileiro considerado da imprensa alternativa foi o Pif Paf. Inicialmente eles eram chamados de "nanicos" pelo formato físico reduzido, imaturidade e o pequeno alcance dos jornais. O termo entrou em desuso após o sucesso editorial de jornais como O Pasquim.[2]
Diversos jornalistas esquerdistas, que não queriam trabalhar para os grandes jornais comerciais devido à falta de liberdade de expressão, se organizaram para fundar pequenos jornais, geralmente em formato tabloide e mais baratos, podendo conter matérias tanto humorísticas contra o regime quanto análises políticas aprofundadas. Tais jornais formaram a chamada imprensa alternativa. Sua popularidade cresceu em poucos anos, chegando a existir centenas de jornais, ao menos 150 mais representativos, que se espalharam por todo o país. Vários jornais, revistas, boletins, panfletos e cartazes eram produzidos em outros países por exilados e seus apoiadores, em países como França, Itália, Portugal e Estados Unidos.[1]
Declínio
editarA ditadura passou a recuar, com a anistia, a volta dos líderes da oposição que estavam exilados, as grandes greves de trabalhadores, a reorganização partidária, e a reanimação dos movimentos populares. A mudança no cenário político foi rápida. A nova conjuntura já não demandava jornais generalistas, e cada partido ou tendência tratava de produzir órgãos de comunicação de massas com suas próprias propostas. Sendo assim, entre 1979 e 1981, a imensa maioria dos jornais da imprensa alternativa deixaram de existir. A grande imprensa logo recuperou sua hegemonia diante do público.[1]
Outro fator que resultou no declínio da imprensa alternativa foi uma onda de atentados a bancas de jornal, que amedontrou os jornaleiros que vendiam publicações de esquerda.[1]
Ao fim da Ditadura, mais de 160 jornais da imprensa alternativa foram publicados.[2]
Lista
editarA seguir estão alguns jornais e revistas da imprensa alternativa na época.[1][2]
- Pif Paf (1964)
- Realidade (1966—1976)
- O Sol (1967—1968)
- O Pasquim (1969—1991)
- Opinião (1972—1977)
- Coojornal (1974—1983)
- Jornal da Amazônia (1975)
- Movimento (1975—1981)
- Varadouro (1977—1981)
- O Lampião da Esquina (1978—1981)
- Rádio Rural
- Folha da Semana
- Poder Jovem
- Amanhã
- O Grilo
- Balão
- De Fato
- Repórter
- Resistência
- Maria Quitéria
- Batente
- Avesso
- Linha de Montagem
- Artiação
- O Zero
- Livrornal
- Paneiro
- Carta Geral
- Dos Confins da Terra
- O Jornalista
- Samizdat
- Bandeira 3
- Conceição do Araguaia
- Mensageiro
- Nanico
- Lamparina
- O Artista
- Arca
- Espaço Científico
- CLA Informa
- Experimento
- Teto e Chão
- Barca
- Cupim
- Grito da PA 150
- O Mandi
- Ouriço
- Folha do Povo
- Barranco
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c d e f g «Imprensa alternativa». Memórias da ditadura. 12 de novembro de 2014. Consultado em 15 de fevereiro de 2022
- ↑ a b c Portela, Michelle da Costa (22 de junho de 2009). «Varadouro - um jornal das selvas: um estudo sobre a vida no alternativo». Universidade Federal do Amazonas. Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia. Consultado em 27 de outubro de 2024