Incidente de Mainila
O Incidente de Mainila (em finlandês: Mainilan laukaukset) ocorreu em 26 de novembro de 1939, quando a artilharia soviética disparou contra a pequena localidade russa de Mainila (situada a norte de São Petersburgo), e os líderes soviéticos culparam a Finlândia de ter causado o ataque, alegando perdas militares e civis. A União Soviética utilizou este incidente como pretexto (casus belli) para iniciar a invasão da Finlândia quatro dias depois.[1][2]
Incidente de Mainila | |
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Parte de Guerra de Inverno | |
Tipo | Operação de bandeira falsa |
Localização | Mainila, Rússia |
Planejado por | Grigory Kulik |
Objetivo | Pretexto para a invasão da Finlândia |
Alvo | Localidade de Mainila |
Data | 26 novembro 1939 |
Executado por | Exército Vermelho |
Resultado | Guerra de Inverno |
Baixas | Nenhuma |
Antecedentes
editarA União Soviética havia assinado tratados mútuos de não agressão com a Finlândia: o Tratado de Tartu, em 1920, o Pacto de não agressão soviético-finlandês, em 1932 — que foi renovado em 1934 —, e a Carta da Sociedade das Nações.[2] O governo soviético tentou seguir uma tradição de legalismo e precisou de um "casus belli" para dar início à guerra. Anteriormente no mesmo ano, a Alemanha Nazista empreendeu um ataque parecido, o Incidente de Gleiwitz, cujo objetivo era criar um pretexto para abandonar seu pacto de não agressão com a Polônia.[1] Além disso, os jogos de guerra soviéticos nos anos 1938 e 1939 baseavam-se em um cenário onde incidentes de fronteira, na localidade de Mainila, teriam desencadeado o conflito.[3]
O incidente
editarSete tiros foram disparados, e a queda de seus projéteis foi detectada por três postos de observação finlandeses. Essas testemunhas relataram que os projéteis detonaram a aproximadamente 800 metros dentro do território soviético.[4] A Finlândia propôs uma investigação neutra acerca do incidente, mas a União Soviética recusou e cortou suas relações diplomáticas com a Finlândia em 29 de novembro.[5]
Materiais encontrados nos arquivos particulares do dirigente do Partido Comunista da União Soviética, Andrei Zhdanov, sugerem fortemente que o incidente foi todo orquestrado a fim de retratar a Finlândia como um agressor e lançar uma ofensiva.[6] Os finlandeses negaram veementemente que tivessem disparado contra a localidade; asseguraram que tinham retirado a sua artilharia da fronteira com o objetivo de prevenir um ataque acidental, pelo que Mainila tinha ficado fora de alcance.[7]
Não obstante, isto não acalmou a União Soviética, que renunciou ao pacto de não agressão assinado com a Finlândia e em 30 de novembro de 1939 iniciou a Guerra de Inverno.
Consequências
editarOs finlandeses conduziram imediatamente uma investigação, que concluiu que suas artilharias ou morteiros não possuíam capacidade de atingir a localidade de Mainila. O marechal Mannerheim havia ordenado que todas as armas de seu país ficassem fora de alcance.[4] Guardas de fronteira da Finlândia que testemunharam o caso atestaram ter ouvido o som de fogos de artilharia vindo do lado soviético da fronteira.[2]
O historiador russo Pavel Aptekar analisou documentos militares soviéticos, que foram tornados públicos, e, com base nos relatórios diários de tropas localizadas na região, constatou que não houve perdas humanas durante o período em questão, o que o levou a concluir que os disparos contra tropas soviéticas foi uma encenação.[8]
Anos após o incidente, o primeiro-ministro da União Soviética, Nikita Khrushchev, declarou que os bombardeios contra Mainila foram organizados pelo marechal da artilharia, Grigory Kulik.[9] Em 1998, o Presidente da Rússia Boris Yeltsin aceitou que a guerra com a Finlândia não tinha sido defensiva, mas uma agressão.[10]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Edwards, Robert (2006). White Death: Russia's War With Finland 1939-40. Londres: Phoenix. 105 páginas. ISBN 9780753822470
- ↑ a b c Turtola, Martti (1999). «Kansainvälinen kehitys Euroopassa ja Suomessa 1930-luvulla». In: Leskinen, Jari; Juutilainen, Antti. Talvisodan pikkujättiläinen. [S.l.: s.n.] pp. 44–45
- ↑ Leskinen, Jari (1997). «Suomenlahden sulku ja Neuvostoliitto» [Bloqueio do Golfo da Finlândia e a União Soviética]. Vaiettu Suomen silta [A Ponte Silenciosa da Finlândia] (em finlandês). Helsinki: Hakapaino Oy. pp. 406–407. ISBN 951-710-050-7
- ↑ a b Trotter, William R. (2000). A Frozen Hell: The Russo-Finnish Winter War of 1939-1940. Chapel Hill, C.N.: Algonquin Books. 21 páginas. ISBN 9781565122499
- ↑ Heikkonen, Esko; Ojakoski, Matti; Väisänen, Jaako (2008). Suomen historian käännekohtia (em finlandês) Muutosten maailma 4 ed. Porvoo: WSOY. p. 125. ISBN 9789510339190
- ↑ Manninen, Ohto: Molotovin cocktail-Hitlerin sateenvarjo, 1995
- ↑ Leskinen, Jari – Juutilainen, Antti (edit.): Talvisodan pikkujättiläinen, ISBN 978-951-0-23536-2, WSOY, 2006
- ↑ Pavel Aptekar no artigo Casus Belli utiliza relatórios de perdas humanas como fontes (Там же Оп.10 Д.1095 Л.37,42,106.130,142) (em russo)
- ↑ Trotter, William R. (2000). A Frozen Hell: The Russo-Finnish Winter War of 1939-1940. Chapel Hill, C.N.: Algonquin Books. 22 páginas. ISBN 9781565122499
- ↑ Nevalainen, Pekka (novembro de 2001). «Many Karelias» (em finlandês). Virtual Finland. Consultado em 28 de março de 2016. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2009.
Conferência de imprensa de Boris Yeltsin com o presidente finlandês Martti Ahtisaari no Kremlin, em 18 de maio de 1994.
Bibliografia
editar- Edwards, Robert (2006). White Death: Russia's War on Finland 1939–40. Londres, UK: Weidenfeld & Nicolson. ISBN 978-0-297-84630-7
- Leskinen, Jari; Juutilainen, Antti, eds. (1999). Talvisodan pikkujättiläinen (em finlandês) 1st ed. Porvoo: Werner Söderström Osakeyhtiö. 976 páginas. ISBN 951-0-23536-9
- Trotter, William R. (2002) [1991]. The Winter war: The Russo-Finnish War of 1939–40 5th ed. Nova Iorque/Londres: Workman Publishing Company (Great Britain: Aurum Press). ISBN 1-85410-881-6.
Publicado inicialmente nos Estados Unidos sob o título "A Frozen Hell: The Russo-Finnish Winter War of 1939–40"