Conjuração dos Pintos

(Redirecionado de Inconfidência de Goa)

A Conjuração dos Pintos, também conhecida por Inconfidência de Goa ou Revolta dos Pintos foi revolta anticolonial que promoveu uma tentativa de derrubar o regime português em Goa, no Estado da Índia, em 1787.[1]

Vários clérigos e militares, naturais da região, sentiam-se discriminados nas promoções de carreiras, por se dar primazia aos portugueses metropolitanos. O grupo dos conspiradores era liderado pelo padre José António Gonçalves de Divar e incluía o nome de José Custódio Faria (depois conhecido como "Abade Faria").[2]

Este movimento teve como alvo os colonizadores portugueses e buscava libertar Goa do domínio português. Seus principais líderes eram membros e associados da família Pinto, originários da aldeia de Candolim, no talucá de Bardez, razão pela qual a revolta recebeu esse nome.

Denunciada a conspiração, foi exemplarmente reprimida pelas autoridades do império. O padre Divar, que conseguiu escapar, viria a morrer em Bengala. O Abade Faria escapou para a França, onde alcançaria módica fama. Dos demais implicados, a maioria dos religiosos foi mantida em detenção nos calabouços da Fortaleza de São Julião da Barra, em Portugal, durante vários anos, aguardando o transcurso em julgado e o sancionamento oficial dos autos de julgamento. Os leigos, após inquérito sumário, foram julgados por alta traição e condenados à forca, sendo os seus corpos esquartejados.[3]

Os inconfidentes

editar
  • Padre José Custódio de Faria, também conhecido como Abade Faria, foi um missionário indo-português que se destacou como um dos pioneiros no estudo da hipnose. Sua notória reputação o levou a ser retratado como o prisioneiro 'Abade Faria' na obra "O Conde de Monte Cristo", escrita por Alexandre Dumas.
  • Padre Caetano Vitorino de Faria - falecido
  • Padre Caetano Francisco do Couto
  • Padre José António Gonçalves (do Divar)
  • José da Rocha Dantas e Mendonça, Administrador do Tesouro de Goa e principal articulador da conspiração

O movimento

editar

Essas revoltas foram inspiradas pelos ideais da Revolução Francesa e, conforme é amplamente reconhecido, a disseminação dos princípios revolucionários franceses teve um impacto significativo na promoção de movimentos políticos semelhantes.[4]

José António e Caetano solicitaram ao bispo a sua nomeação, fazendo um pedido a Roma e Portugal, mas o pedido foi negado. Frustrados com essa rejeição, eles, assim como Abade Faria, organizaram uma revolta. Nesse esforço, receberam apoio de soldados cristãos, bem como de alguns padres. Organizando a revolta, buscaram o apoio de Tipu Sultan, o governante de Mysore, e lhe pediram assistência. Eles lhe prometeram que, caso conseguissem tomar Goa, ele poderia expandir seu domínio e avançar sua causa. Isso gerou preocupações entre os cristãos, pois se temia que Tipu Sultan perseguiria o cristianismo (e, por consequência, o hinduísmo) de forma severa, como já havia feito com os cristãos de língua concani em Mangalore e os hindus em Malabar.

Essa revolta foi abandonada devido a vários fatores, levando a que Goa permanecesse sob o domínio de Tipu Sultan.

As missões dos missionários portugueses (Dominicanos, Franciscanos e Jesuítas) e os serviços governamentais no século XVIII estavam frequentemente em conflito, o que contribuiu para esses eventos.

Os cristãos nativos (que praticavam suas religiões tradicionais) também enfrentaram dificuldades significativas durante esse período. Os padres goeses foram enviados em missão para Cranganore e Mylapore, em nome do bispo Kariattil, para reforçar a influência da Igreja Católica e combater as crenças locais.

Padre Kamat destacou esses eventos em sua obra. Ele descreveu como os padres locais enfrentaram a oposição das autoridades portuguesas devido à sua recusa em obedecer às diretrizes estabelecidas por eles. O livro evidenciou as disparidades nas condições de vida e nos deveres atribuídos aos nativos em comparação com os seus superiores portugueses.

Os portugueses, ao observarem a recusa dos goeses em colaborar com eles, retiraram suas tropas de Damão e Diu em 1739 para reforçar seus contingentes na África Oriental Portuguesa. Em consequência disso, o vice-rei português de Goa emitiu um decreto em 1760 ordenando que os cachorros (sunnem) fossem eliminados em Goa.


Consequências

editar

Após esses eventos, houve uma mudança significativa no exercício do poder e uma série de transformações ocorreram. O controle administrativo passou para as mãos dos britânicos, que implementaram novas políticas e reformas. Muitos direitos foram revogados e, como resultado, 47 líderes locais foram presos e 17 padres e 7 soldados foram executados pelo governo britânico.

Na encosta sul, perto da aldeia de Topal, fica a fortaleza de São Tomé. Este forte costumava ser uma residência fortificada e sua construção remonta a tempos antigos. Suas paredes foram reforçadas com torres militares. As torres possuíam canhões que foram usados para proteger a costa de possíveis invasões inimigas. No entanto, durante o período de domínio colonial, foram instalados quinze canhões de artilharia na fortaleza.

Padre Gonçalves liderou várias revoltas contra o domínio britânico e acabou perdendo a vida em um confronto com as forças britânicas. Abade Faria, um abolicionista francês, também estava envolvido, e seus esforços ao lado dos rebeldes resultaram em retaliações cruéis das autoridades francesas e portuguesas, deixando muitos inocentes em sofrimento.

Sob o reinado de Tipu Sultan, muitos cristãos de língua concani de Mangalore foram submetidos a uma perseguição severa e muitos perderam suas vidas. Esses cristãos eram goeses. Durante o governo colonial francês, Tipu Sultan e os franceses estavam em cooperação mútua contra os interesses britânicos na região. No entanto, quando os britânicos conseguiram ganhar vantagem sobre Tipu, ele passou a perseguir os cristãos, forçando-os a abandonar sua fé sob ameaça de morte. Muitas atrocidades foram cometidas sob o governo francês também. O Padre Faria, um defensor fervoroso da identidade goesa e um crítico do governo colonial francês, foi perseguido por suas atividades e acabou sendo executado.

A contenda entre os Goanenses e os missionários goeses, juntamente com o governo britânico na Índia, se intensificou devido à oposição dos missionários aos esforços dos britânicos para abolir o Padroado Goês. O governo britânico e sua administração na Índia, vendo os goeses como aliados portugueses, agiram contra eles e seus inimigos (como Tipu Sultan), muitas vezes exacerbando as tensões já presentes. Esta é uma parte crucial da história de Goa.

Conjurações contemporâneas em domínios portugueses

editar

Referências

  1. Goa and the Revolt of 1787.
  2. Roberts, Margaret (maio de 2016). «Abbé Faria (1756-1819): From Lucid Sleep to Hypnosis». American Journal of Psychiatry (em inglês). 173 (5): 459–460. ISSN 0002-953X. doi:10.1176/appi.ajp.2016.16010035. Consultado em 26 de agosto de 2018 
  3. A colónia goesa em LISBOA E O IDEÀRIO DA Conspiração dos Pintos (1787)
  4. Disney, A. R. (2009). A History of Portugal and the Portuguese Empire - From Beginnings to 1807 Volume 2. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-40908-7 

Bibliografia

  • Rivara, Joaquim Heliodoro da Cunha. Goa and the Revolt of 1787, New Delhi: Concept Publ. Company, 292 pgs., 1996. (O autor foi o secretário-chefe português do Governo de Goa de 1855 a 1877)
  • Borges, C. J. Goa and the Revolt of 1787, 1996, 290 pp. ISBN 81-7022-646-5
  • Kamat, P. Some Protesting Priests of Goa, in T.R. de Souza (ed.), Essays in Goan History, New Delhi, Concept Publication Co., 1989: 103-117.

Ligações externas

editar
  Este artigo sobre História de Portugal é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.