Inji Aflatoun (em árabe: إنجي حسن أفلاطون; Cairo, 16 de abril de 192417 de abril de 1989) foi uma pintora egípcia e ativista do movimento feminista.[1]

Inji Aflatoun
إنجي حسن أفلاطون

Inji Aflatoun, sem data
Nascimento 16 de abril de 1924
Cairo, Egito
Morte 17 de abril de 1989 (65 anos)
Cairo, Egito
Nacionalidade egípcia
Área Pintura
Formação Universidade do Cairo (1945)
Movimento(s) Surrealismo

Destacou-se como uma das principais porta-vozes do movimento marxista-progressista-nacionalista-feminista no final da década de 1940 e durante os anos 1950.[2] Além disso, foi uma pioneira da arte moderna egípcia[3] e é reconhecida como uma das mais importantes artistas visuais do Egito.[4]

Biografia

editar

Aflatoun nasceu no Cairo, em 1924, em uma família muçulmana tradicional que ela descreveu como "semi-feudal e burguesa".[5] Seu pai era entomólogo[6] e proprietário de terras[7], enquanto sua mãe, formada em moda na França, trabalhava como designer de roupas e fazia parte do comitê feminino da Sociedade do Crescente Vermelho Egípcio.[8]

Seu primeiro contato com o marxismo aconteceu enquanto estudava no Lycée Français du Caire.[7] Seu tutor particular de arte, Kamel el-Telmissany, foi quem a apresentou à vida e às lutas dos camponeses egípcios.[9] El-Telmissany era um dos fundadores do Grupo Arte e Liberdade, um movimento surrealista que influenciou o desenvolvimento artístico de Aflatoun.[10]

Em 1942, ela se juntou ao Iskra, um partido juvenil comunista.[8] Após se formar na Universidade do Cairo, foi cofundadora, junto com Latifa al-Zayyat, da Liga das Jovens Mulheres de Universidades e Institutos, em 1945. Nesse mesmo ano, representou a Liga na primeira conferência da Federação Internacional Democrática de Mulheres, em Paris.[7]

Em 1948, ela escreveu Thamanun milyun imraa ma'ana (Oitenta Milhões de Mulheres Conosco), seguido de Nahnu al-nisa al-misriyyat (Nós, Mulheres Egípcias), em 1949.[11] Esses panfletos políticos populares relacionavam a opressão de classe e de gênero ao imperialismo.[5] Em 1949, tornou-se membro fundadora do Primeiro Congresso do Primeiro Conselho de Paz do Egito e, em 1950, ingressou no Movimento dos Amigos da Paz.[8]

Aflatoun foi presa e mantida em segredo durante a repressão aos comunistas liderada por Gamal Abdel Nasser, em 1959.[12] Após ser libertada, em 1963, com o Partido Comunista Egípcio dissolvido, ela passou a se dedicar principalmente à pintura. Mais tarde, ela declarou: "Nasser, embora tenha me colocado na prisão, era um bom patriota."[6]

Aflatoun morreu no Cairo, em 17 de abril de 1989, aos 65 anos.[13]

Pintura

editar

Durante a escola, Aflatoun gostava de pintar, e seus pais a incentivavam.[6] Seu tutor particular de arte, Kamel el-Telmissany, a apresentou às estéticas surrealista e cubista.[6][14] Suas pinturas desse período são marcadas pela influência do surrealismo. Mais tarde, Aflatoun relembrou que as pessoas ficavam surpresas com suas obras e se perguntavam "por que uma garota de uma família rica era tão atormentada".[6]

Entre 1946 e 1948, ela parou de pintar, sentindo que suas obras já não correspondiam aos seus sentimentos. No entanto, seu interesse foi renovado após visitar Luxor, Núbia e os oásis egípcios. Durante tais viagens, teve a oportunidade de "entrar nas casas e desenhar homens e mulheres no trabalho". Aflatoun também estudou por um ano com a artista suíça de origem egípcia Margo Veillon.[8]

Nesse período, Aflatoun realizou exposições solo no Cairo e em Alexandria, além de participar da Bienal de Veneza, em 1952, e da Bienal de Arte de São Paulo, em 1956.[5] Em 1956, conheceu e tornou-se amiga do muralista mexicano David Alfaro Siqueiros. Durante o final dos anos 1940 e a década de 1950, sua obra foi fortemente influenciada pelo realismo social do muralismo mexicano.[5][15]

Mesmo durante sua prisão, ela continuou a pintar. Suas primeiras obras na prisão eram retratos, enquanto as posteriores focaram em paisagens. Após sua libertação, Aflatoun realizou exposições em Roma e Paris, em 1967, e em Dresden, Berlim Oriental, Varsóvia e Moscou, em 1970, além de Sófia, em 1974, Praga, em 1975, e Nova Délhi, em 1979.[8]

Seus trabalhos são conhecidos por "pinceladas vivas e cores intensas", que lembram a alguns observadores artistas como Van Gogh ou Pierre Bonnard.[16] Nas últimas fases de sua carreira, suas obras passaram a usar espaços brancos maiores em torno das formas. Uma coleção de suas pinturas está em exibição no Palácio Amir Taz, no Cairo, enquanto outra pode ser encontrada na Fundação de Arte Barjeel, em Sharjah.[17]

Legado

editar

Um Google Doodle em 16 de abril de 2019 comemorou o 95º aniversário de Aflatoun.[18]

Referências

  1. Radwan, Nadia. «Inji Efflatoun». Mathaf: Arab Museum of Modern Art. Consultado em 29 de dezembro de 2024 
  2. Daly, M. W. (1998). The Cambridge history of Egypt. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 330. ISBN 978-0-521-47211-1 
  3. Mattar, Philip (2004). Encyclopedia of the Modern Middle East & North Africa: D-K. [S.l.]: Macmillan Reference USA. p. 762. ISBN 978-0-02-865771-4 
  4. «Permanent art exhibition of activist Inji Aflatoun opens at Amir Taz Palace». Ahram Online. 16 de agosto de 2011. Consultado em 29 de dezembro de 2024 
  5. a b c d LaDuke, Betty (1992). «Inji Efflatoun: Art, Feminism, and Politics in Egypt». Art Education. 45 (2): 33–41. ISSN 0004-3125. JSTOR 3193323. doi:10.2307/3193323 
  6. a b c d e LaDuke, Betty (1989). «Egyptian Painter Inji Efflatoun: The Merging of Art, Feminism, and Politics». National Women's Studies Association Journal. 1 (3): 474–493. ISSN 1040-0656 
  7. a b c Smith, Bonnie G. (2000). Global feminisms since 1945. [S.l.]: Psychology Press. p. 25. ISBN 978-0-415-18491-5 
  8. a b c d e Goldschmidt, Arthur (2000). Biographical dictionary of modern Egypt. [S.l.]: Lynne Rienner Publishers. p. 17. ISBN 978-1-55587-229-8 
  9. Zuhur, Sherifa (1998). Images of enchantment: visual and performing arts of the Middle East. [S.l.]: American University in Cairo Press. p. 167. ISBN 978-977-424-467-4 
  10. «Egyptian Surrealism». Broomberg & Chanarin. Consultado em 29 de dezembro de 2024 
  11. Badran, Margot; Cooke, Miriam (2004). Opening the gates: an anthology of Arab feminist writing. [S.l.]: Indiana University Press. ISBN 978-0-253-34441-0 
  12. Nelson, Cynthia (1996). Doria Shafik, Egyptian feminist: a woman apart. [S.l.]: American University in Cairo Press. p. 292. ISBN 978-977-424-413-1 
  13. «Inji Aflatoun». The African Studies Centre. Consultado em 29 de dezembro de 2014 
  14. Stuhe-Romerein, Helen (24 de agosto de 2011). «Egypt's Museums: Amir Taz Palace relates story of artist and activist Inji Aflatoun». Almasry Alyoum. Consultado em 29 de dezembro de 2024 
  15. Nugent, Gabriella (2022). Inji Efflatoun and the Mexican Muralists: Imaging Women and Work between Egypt and Mexico. [S.l.]: Sharjah Art Foundation. ISBN 978-1-915656-00-1 
  16. Images. [S.l.]: Dav-al-hilal. 1969 
  17. «Inji Efflatoun». Barjeel Art Foundation. Consultado em 29 de dezembro de 2024 
  18. «Inji Aflatoun's 95th Birthday». Google. 16 de abril de 2019. Consultado em 29 de dezembro de 2024