Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul
O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHG-MS) é uma instituição cultural do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul, fundado no dia 3 de março de 1978.[1] Sua sede fica localizada em um sobrado tombado da Esplanada dos Ferroviários da cidade de Campo Grande, capital do estado. Os documentos e livros de seu acervo retratam aspectos geo-históricos do estado, principalmente a respeito da construção e legitimação de uma identidade multicultural. O Instituto é considerado "a casa da memória de Mato Grosso do Sul" e principal referência da história e cultura sul-matogrossense.[2]
História
editarAntes de 1978
editarA fundação do IHG-MS foi consequência direta da divisão do estado de Mato Grosso no ano de 1977. O instituto veio, então, a substituir o papel do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso na região. Neste processo, o IHG-MS teve o importante papel de construir uma historiografia para o recém fundado estado, criando-se, assim, um "passado glorioso e um futuro promissor" que viria a legitimar a constituição e reconhecimento do Mato Grosso do Sul.[3]
Fundação
editarA origem do IGB-MS ocorreu no período de interstício do processo de implantação do estado de Mato Grosso do Sul. Segundo o historiador Carlos Magno Amarilha, os "homens de letras" da região sul do antigo estado de Mato Grosso, isto é, intelectuais sul-mato-grossenses, sócios da Academia de Letras e História de Campo Grande (ALH-CG), que foi fundada em 1972, fundaram o IHG-MS e a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras no mesmo ano, em 1978.
Pós-1978
editarCriada em 1978, tendo por base os demais Institutos Históricos e Geográficos do Brasil, a instituição possui quarenta cadeiras com os respectivos patronos. Dentre seus objetivos está a publicação de obras acerca da história e geografia do estado de Mato Grosso do Sul.[4]
As publicações do IHG-MS, selecionadas ou escritas por seus sócios, demonstraram objetivos congruentes com o processo de unificação territorial, regional e social do recém-fundado estado. Nas obras tanto literárias, quanto historiográficas, tradições (reais ou inventadas), são invocadas por meio da construção ou resgate de ícones históricos.[5]
Desde o ano de 2007, o instituto fica situado em um sobrado histórico no conjunto ferroviário no centro de Campo Grande, região tombada como patrimônio histórico, cultural e imaterial.[2]
No ano de 2019, um documentário sobre o IHG-MS foi lançado em um canal aberto da televisão regional.[2]
Atividades
editarO Instituto possibilita a atuação de pesquisadores de variadas áreas do conhecimento provenientes de universidades da região, como a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universidade Federal da Grande Dourados e Universidade Católica Dom Bosco. Além disso, oferece palestras e visitas guiadas a escolas de nível médio e fundamental, bem como a formação de professores na área de História e Geografia. Juntamente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, oficinas de conservação e salvaguarda de documentos são ministradas nas cidades de Campo Grande e Ponta Porã.[6] Recorrentemente, realiza parceirias com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.[7]
Acervo
editarO acervo de publicações do IHGMS ultrapassa o volume de 120 livros sobre a história e geografia regional para consulta em nossas dependências. Já o acervo de salvaguarda congrega obras de historiadores, escritores e memorialistas da história do estado, como Hélio Serejo, Vespasiano Barbosa Martins, Otávio Guizzo e Francisco Leal de Queiróz, entre outros. Sua hemeroteca conta com mais de 150 mil imagens de jornais, datadas desde 1927 e, atualmente, digitalizadas.[6] Todo o acervo é disponilbilizado via acesso aberto e gratuito.[2]
O instituto posui uma coleção de jornais que conta com milhares de edições, bem como um acervo de cartas. Uma coleção denominada ‘Enciclopédia das Águas’, traça um panorama detalhado a respeito dos rios, córregos e cachoeiras da cidade.[2]
Controvérsias
editarA historiadora Marisa Bittar destaca a diferença de discurso historiográfico sobre o movimento divisionista entre as publicações do IHG-MT e o IHG-MS. Por um lado, a historiografia de Mato Grosso tratou o tema de forma abreviada e depreciativa. Por outro lado, a historiografia de Mato Grosso do Sul tendeu a exagerar a performance dos atores históricos divisionistas.[8]
O movimento divisionista foi, recorrentemente, celebrado pelos sócios do IHBG-MS em suas obras. Por meio de uma história linear, os eventos históricos em torno deste movimento foram, repetidas vezes, construídos via uma narrativa ideológica[8], cuja intenção era criar uma história fundadora de Mato Grosso do Sul e legitimar uma identidade propriamente sul-mato-grossense.[3]
Pronunciamentos
editarNo ano de 2020, o IHG-MS se pronunciou condenando o desmatamento do Parque dos Poderes da cidade de Campo Grande, região de preservação ambiental da capital do estado que é, reconhecida pela ONU por seu histórico manejo florestal urbano.[9] O Instituto possui como uma de suas atribuições o estudo e divulgação não apenas da história e geografia do estado, mas também de sua arte, estética, meio ambiente e turismo. Desta forma, em nota, relataram seu dever de manifestar-se contra a redução da área floresta da região, "em respeito à memória do confrade Francelmo de Barros, herói da saga em defesa do ambiente em nossa terra, e também por se constituir em precedente capaz de colocar por terra essa longa e permanente luta".[9]
Publicações
editarColeções
editar- Série Memória Sul-mato-grossense, 39 volumes (Obras inéditas com textos dos séculos XIX e XX).[2][7]
- Série Eu sou História, s.n. volumes, (História orail de pessoas da terceira idade).[3]
Livros
editar- Síntese de História de Mato Grosso (1992), de Lenine Campos Póvoas.
- O homem e a terra (1993), de Lélia Rita Euterpe de Figueiredo Ribeiro.
- Pioneiros da Arquitetura e da construção de Campo Grande (2000), de Ângelo Marcos Vieira de Arruda.
- História da fundação de Campo Grande (2001). Eurípedes Barsanulfo Pereira.
- História de Mato Grosso do Sul (2002), de Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães.
- A guerra do Paraguai : verdades e mentiras (2002), de Acyr Vaz Guimarães
- Fronteiras Guaranis (2002), de José de Melo e Silva.
- O municipio de Campo Grande de 1922 (2002), de Arlindo de Andrade
- O município de Campo Grande (2003), de Rosário Congro.
- Campo Grande de Outrotra (2004), de Valério D’Almeida.
- A Saga dos Rodrigues: 150 anos de História em Mato Grosso do Sul (2005).[3]
Referências
- ↑ «ESTATUTO». Instituto MS. Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ a b c d e f http://www.dothnews.com.br. «Documentário sobre Instituto Histórico e Geográfico de MS estreia na TV ALMS». www.acritica.net. Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ a b c d Amarilha, Carlos Magno Mieres (30 de novembro de 2006). «Os intelectuais e o poder: história, divisionismo e identidade em Mato Grosso do Sul». Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ Institucional do IHG-MS. «História». Consultado em 11 de janeiro de 2010
- ↑ Amarilha, Carlos Magno (2013). «Os intelectuais em ação: a história e a literatura dos homens de letras nos meandros do poder em MS 1978-1988.» (PDF). ANPUH. XXVII Simpósio Nacional de História. Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ a b «INSTITUCIONAL». Instituto MS. Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ a b «Livros que resgatam a história de MS são lançados em Campo Grande – Portal do Governo de Mato Grosso do Sul». www.ms.gov.br. Consultado em 16 de agosto de 2021
- ↑ a b BITTAR, Marisa. Geopolítica e separatismo na elevação de Campo Grande a capital. Campo Grande: Ed. UFMS, 1999. 157 p. (Coleção Fontes Novas).
- ↑ a b Yukio, Carlos (8 de fevereiro de 2020). «Instituto Histórico e Geográfico de MS se pronuncia sobre desmatamento no Parque dos Poderes». Jornal Midiamax. Consultado em 16 de agosto de 2021