Isaias Raw
Isaias Raw (São Paulo, 26 de março de 1927 – 13 de dezembro de 2022) foi um médico, pesquisador e professor universitário brasileiro.
Isaias Raw | |
---|---|
Nascimento | 26 de março de 1927 São Paulo, São Paulo, Brasil |
Morte | 13 de dezembro de 2022 (95 anos) São Paulo, São Paulo,, Brasil |
Residência | Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (graduação) |
Prêmios |
|
Instituições | |
Campo(s) | Medicina e bioquímica |
Tese | Oxidação de ácido betahidroxibutírico (1957, livre-docência) |
Comendador e Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico,[1] membro titular da Academia Brasileira de Ciências,[2] Isaias era professor emérito aposentado e livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).[3]
Ex-diretor do Instituto Butantan, Isais ingressou no instituto em 1984 e foi o responsável pela criação do Centro de Biotecnologia, do Museu de Microbiologia e do Museu Histórico. Foi o idealizador da Fundação Butantan,– entidade de apoio ao instituto que contribui para a manutenção da produção de imunobiológicos da organização. Foi responsável por marcos importantes na história do instituto, como a montagem de novas fábricas de produção de soro na década de 1980, além da liderança no desenvolvimento de novas vacinas, como a da hepatite B recombinante.[3]
Como pesquisador, Isaias isolou uma das enzimas do ciclo de oxidação de ácidos graxos e concentrou suas atividades em áreas como o estudo da mitocôndria, a ação de drogas na indução de citocromos e o estudo de enzimas do metabolismo do Trypanosoma cruzi. É considerado um dos maiores cientistas do século no Brasil.[4]
Biografia
editarIsaias nasceu na capital paulista, em 1927. Cresceu no Bom Retiro, onde costumava estudar química no bondinho do bairro e coletar insetos na Praça da Luz, no centro da capital. Posteriormente, sua coleção de insetos foi doada para o Colégio Anglo Latino. Começou a se interessar por ciência depois de ler um livro de química farmacêutica de um tio, que era médico. Também lera um livro sobre a vida e a história da pesquisa de Louis Pasteur.[5]
Antes de ingressar na universidade, já frequentava aulas livres. No setor de genética conheceu André Dreyfus, que lhe emprestava livros para ler. Acompanhou a vinda de Theodosius Dobzhansky ao Brasil com apenas 16 anos. Conhecido nos corredores do edifício da Alameda Glete, era comum receber lâminas histológicas do professor Edmundo Ferraz Nonato.[4]
Em 1945 ingressou o curso de medicina da Universidade de São Paulo, sabendo que queria ser cientista desde o primeiro ano. Formou-se em 1950, dedicando-se desde seus tempos de estudante ao estudo da bioquímica. Entre os anos 1950 e 1969, fundou a Editora da Universidade de São Paulo e a da Universidade de Brasília, unificou os exames vestibulares de São Paulo junto com o professor e sanitarista Walter Leser.[4]
Foi diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec), criando também a Fundação Carlos Chagas e o Curso Experimental de Medicina da FMUSP.[4]
Ditadura militar
editarNa época do Golpe de Estado no Brasil em 1964, Isaias presidia a Fundação Carlos Chagas. Acusado de subversão e de ser comunista pelos militares, Isaias foi preso em 1964. Ficou 13 dias na carceragem e foi solto após a pressão de cientistas norte-americanos que enviaram um telegrama para o então presidente, o marechal Castello Branco exigindo sua soltura. Isaias continuou a trabalhar, a fazer pesquisa a lecionar.[6][7]
Em 1969, junto a vários outros cientistas, foi compulsoriamente aposentado pelo AI-5 e teve que deixar o país. Recebeu ajuda da Fundação Ford para se exilar, passando dez anos no exterior. Inicialmente, Isaias foi para Israel, aceitando o convite da Universidade Hebraica de Jerusalém para lecionar. Decidido a não mais trabalhar com pesquisa científica devido à perda de sua equipe, Isaias resolveu se dedicar ao ensino de ciências, mas não conseguiu deslanchar.[6][7]
Deixando Israel, foi para os Estados Unidos, onde ficou quatro anos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), trabalhando com pesquisa e ensino de ciências. Em seguida, foi para a Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard. Ao retornar ao Brasil, dois de seus filhos ficaram nos Estados Unidos e uma filha ficou em Israel. A falta de estabilidade na carreira foi um dos motivos que o levou a retornar ao país.[6]
Retorno ao Brasil
editarPara ser reintegrado ao trabalho em seu antigo cargo, Isaias precisava de um documento dizendo que aceitava o perdão do Estado, o que ele não tinha. Já aposentado, ele acabou indo para o Instituto Butantan. Na época, o instituto não realizava pesquisas nem tinha alunos e não havia integração com a Universidade de São Paulo.[6]
Sob sua gestão, o instituto pode contratar dez professores e implantou uma política de pesquisa e produção tecnológica voltada para as necessidades sociais. Os edifícios foram reconstruídos, equipamentos foram trocados e o instituto, que antes não produzia vacina, tornou-se líder nesse segmento.[6] Isaias fez parte da equipe que desenvolveu uma vacina contra a dengue.[8]
Trouxe também pesquisadores russos para o desenvolvimento local da vacina de hepatite B recombinante no Instituto Butantan e firmou o primeiro acordo de transferência de tecnologia com a Sanofi Pasteur para trazer a vacina da influenza sazonal e também para segurança do país no caso de um surto de gripe.[4] É considerado figura central no desenvolvimento do Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan.[9]
Em 2015, foi homenageado com o nome de uma Cadeira no International Centre for Theoretical Physics.[10]
Morte
editarIsaias morreu em 13 de dezembro de 2022, na capital paulista, aos 95 anos.[11]
Títulos
editar- Médico - Universidade de São Paulo, USP - 1950.
- Mestrado - USP - 1950.
- Ph.D. (Bioquímica) - USP - 1954.
- Livre-docente - USP - 1957.
- Professor catedrático (Bioquímica) - Faculdade de Medicina da USP, FM/USP - 1964.
- Professor visitante - Universidade Hebraica de Jerusalém - 1969/1970.
- Professor visitante - Massachusetts Institute of Technology, MIT - 1970/1974.
- Professor visitante - Harvard University School of Public Health - 1973/1974.
- Professor - Center Biomedical Education, City College of New York - 1974/1979.
- Professor Emérito da Faculdade de Medicina da USP-1975.
Condecorações, Medalhas e Prêmios
editar- 1995 - Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico
- 2001 - Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico
- Troféu José Pelúcio Ferreira - FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos/Dez 2006
- Medalha - Instituto Butantan do Governo do Estado de São Paulo/2000
- Faculty Research Award - City College of New York/1975
- Faculty Research Award - City College of New York/1977
- Faculty Research Award - City College of New York/1978
- Prêmio FCW de Ciência e Cultura de 2004 (Ciência Geral)
- Fundação Conrado Wessel/Jun/2005
- Fundação Bungue - Saúde Pública/Medicina Preventiva/ 2010.
Referências
- ↑ a b c «Agraciados pela Ordem Nacional do Mérito Científico». Canal Ciência. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ «Isaias Raw». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ a b «Isaías Raw, médico, pesquisador e ex-diretor do Instituto Butantan, morre em SP aos 95 anos». G1. 14 de dezembro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022
- ↑ a b c d e «Morreu o professor e pesquisador Isaías Raw, um dos maiores cientistas do século no Brasil». Jornal da USP. 14 de dezembro de 2022. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ Claudia Izique e Neldson Marcolin, ed. (2005). «Isaias Raw: Cientista bom de briga». Revista Pesquisa FAPESP. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ a b c d e «Isaias Raw: entrevista». Revista Brasileira de Psicanálise. 41 (3). 2007. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ a b «Isaias Raw, um herói brasileiro». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ «FAPESP Na Mídia». namidia.fapesp.br. Consultado em 19 de dezembro de 2020
- ↑ «Entrevista com o Professor Isaias Raw sobre o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan» (PDF). Instituto Butantan. Consultado em 15 de dezembro de 2022
- ↑ «ICTP-SAIFR homenageia Isaias Raw». International Centre for Theoretical Physics. Consultado em 19 de dezembro de 2020
- ↑ «Isaías Raw, pesquisador, professor e ex-diretor do Butantan, morre aos 95 anos». GaúchaZH. Consultado em 15 de dezembro de 2022