Ismail Xavier
Ismail Xavier (Curitiba, 9 de junho de 1947)[1] é teórico no campo de estudos cinematográficos e professor de cinema brasileiro,[2] considerado um dos mais importantes pesquisadores da sua área.[3]
Ismail Xavier | |
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Nome completo | Ismail Norberto Xavier |
Nascimento | 9 de novembro de 1947 (77 anos) Curitiba, Paraná |
Nacionalidade | Brasil |
Educação | Universidade de São Paulo |
Ocupação | Pesquisador, crítico e professor universitário |
Empregador(a) | Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo |
Publicou mais de 70 artigos em diferentes idiomas, tendo um verbete a ele dedicado no Dictionnaire de la pensée du cinéma (Paris: PUF,2012), organizado por Antoine de Baecque e Philippe Chevalier, aspectos que evidenciam a inserção internacional de seu pensamento[4].
Formação
editarGraduou-se, em 1970, em Comunicação social com habilitação em cinema, pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).[5] Ainda em 1970, também concluiu o curso de Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da USP.[6]
No ano de 1975 concluiu mestrado em Teoria literária e Literatura comparada, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), sob orientação de Paulo Emílio Salles Gomes, com a dissertação À procura da essência do cinema: o caminho da avant-garde e as iniciações brasileiras.[5]
Doutor em 1980, orientado por Antonio Candido de Mello e Souza, também pela FFLCH-USP, defendendo a tese Narração contraditória: uma análise do estilo de Glauber Rocha, 1962-1964.[5]
Em 1982, orientado por Annette Michelson, tornou-se PhD em Cinema studies, com a pesquisa de doutorado intitulada Allegories of underdevelopment: from the aesthetics of hunger to the aesthetcis of garbage, pela Universidade de Nova Iorque, Estados Unidos.[5][6] Nesse trabalho já está presente a abordagem sobre a convivência entre duas noções de tempo: o tempo teleológico profético - seria o tempo do caminho da salvação -, e o tempo catastrófico do drama barroco, que é o tempo matriz da construção do conceito de alegoria em Walter Benjamin[4]. Em 1986 concluiu pesquisa de pós-doutorado na mesma instituição.[5][6]
Em 1993 publicou o livro Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal, que teve como matriz para sua criação a tese defendida junto à Universidade de Nova Iorque[4].
Estudos cinematográficos
editarSua produção acadêmica prioriza a análise fílmica, empregada como recurso para compreender a sociedade e a história, o que delimita a originalidade de seu trabalho, o qual estabelece relações entre arte e política.
A análise de filmes não era um trabalho que estava desenvolvido no Brasil quando Ismail Xavier lança-se nessa tarefa, lidando com o cinema moderno. Seu trabalho abriu caminhos para que fosse dada maior ênfase ao conhecimento detalhado dos filmes, abordagem que contrastava com práticas vigentes voltadas sobretudo ao acúmulo de dados sobre os filmes em detrimento do exame da obra em si. Para o pesquisador, seu trabalho buscava demonstrar o valor estético do cinema moderno brasileiro - em particular de Glauber Rocha. Isso somente seria possível a partir da realização de estudos sistemáticos articulando análise estilística e interpretação. Assim, Ismail Xavier desenvolveu um trabalho em que buscou mostrar qual cinema cada cineasta inventou e as implicações de suas criações na esfera do sentido, bem como das relações entre cinema, história e política.[7]
O discurso cinematográfico, de sua autoria, é considerada a primeira obra de autor brasileiro sobre teoria cinematográfica, no sentido rigoroso do termo.[7] Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome e Alegorias do subdesenvolvimento: cinema Novo, tropicalismo, cinema marginal são obras exemplares de seu método de trabalho, além de serem produções essenciais ao entendimento da cultura brasileira da década de 1960. Em sua extensa obra, vale destacar Sétima arte: um culto moderno, uma de suas primeiras publicações que aborda teorias de cinema de vanguardas artísticas dos anos 1910 e 1920 junto à discussão sobre o contexto brasileiro desse período, contribuindo aos estudos a respeito da modernidade, modernismo e cinema silencioso no Brasil.[8]
Discípulo de Paulo Emílio Salles Gomes, seu orientador no mestrado, Ismail afirma considerá-lo
a maior referência, podemos dizer, da crítica no Brasil, poço de erudição, inteligência e sagacidade política. Um privilégio tê-lo como orientador e amigo.[7]
Para ele, a política era matriz essencial das preocupações de Paulo Emílio Salles Gomes, portanto, o contato direto com seu orientador tinha uma dimensão política bastante evidente, a qual participou dos contornos de sua formação. Antonio Candido também foi mestre de Ismail Xavier, orientando-o no doutorado, exercendo grande influência em sua formação e produção. Logo, o pesquisador considera que os cursos que fez com Antonio Candido configuram a maior referência ao seu trabalho de análise, marcando profundamente sua formação.[7][8]
Carreira
editarÉ professor no Departamento de Cinema Rádio e Televisão da ECA-USP, desde 1971, contribuindo à formação de várias gerações de pesquisadores e estudiosos dos mais diversos temas na área do Cinema.[9][4]
Nos anos de 1995, 1998 e 1999, foi professor visitante na Universidade de Nova Iorque,[10] na Universidade de Iowa e na Université Paris III - Sorbonne Nouvelle[11][6] respectivamente.
Depois atuou como professor visitante na Universidade de Chicago, Estados Unidos, em 2008, na Universidade Nacional de La Plata, Argentina, no ano de 2009[9], e na Universidad de Buenos Aires (UBA), Argentina, em 2011.[5]
No período de julho de 2007 a junho de 2010, foi membro do Comitê Assessor do CNPq, assessorando no processo de julgamento de pedidos de bolsa e auxílios ao CNPq.[5]
Participou da coordenação da Coleção Cinema, Teatro e Modernidade, livros editados pela Cosac Naify, e foi responsável pela reformulação da Revista Filme Cultura, do Ministério da Cultura.[12] Além disso, já foi membro do conselho consultivo da Cinemateca Brasileira.[13]
Faz parte do conselho editorial das seguintes revistas:
Livros publicados
editar- 2004: Nelson Rodrigues e o Cinema - em parceria com Eugenio Puppo (Centro Cultural Banco do Brasil)[5]
- 2003: O olhar e a cena: Hollywood, melodrama, cinema novo, Nelson Rodrigues ISBN 9788575032312 (Editora Cosac & Naify)
- 2001: O cinema brasileiro moderno ISBN 8521903952 (Editora Paz e Terra)[6]
- 1997: Allegories of underdevelopment: aesthetics and politics in brazilian modern cinema ISBN 0816626766 (University of Minnesota Press)[6]
- 1996: O cinema no século ISBN 8531205271 (organização) (Imago Editora)[6]
- 1993: Alegorias do subdesenvolvimento - cinema novo, tropicalismo, cinema marginal ISBN 8511220291 (Editora Brasiliense)[6]
- 1985: O desafio do cinema ISBN 8585061332 (em colaboração com Jean-Claude Bernardet e Miguel Pereira, (Editora Jorge Zahar)[6]
- 1984: D.W.Griffith, o nascimento de um cinema (Editora Brasiliense)[6]
- 1983: A experiência do cinema ISBN 8570380666 (organizador, Editora Graal)[6]
- 1983: Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome ISBN 9788575036372 (Editora Brasiliense)[6]
- 1978: Sétima arte: um culto moderno[20] (Editora Perspectiva)[6]
- 1977: O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência ISBN 9875001201 (Editora Paz e Terra)[6]
Prêmios e Honrarias
editar2017 - Professor Emérito, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.[9]
2013 - Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: Prêmio Especial de Preservação. Academia Brasileira de Cinema.[21]
2012 - Ordem do Mérito Cultural (Classe Comendador), Ministério da Cultura.[22]
2011 - Carte Blanche à Ismail Xavier - Journée d'études "L'allégorie au cinéma: entre l'histoire et la théorie", CRECI - Centre de Recherche en Esthétique du Cinéma et des Images - Université de Sorbonne - Paris III[23][5]
2009 - Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, concedido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM. Categoria: Maturidade Acadêmica.[24]
1978 - Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.[5]
Referências
- ↑ «Ismail Xavier: Biografia». Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. 28 de novembro de 2005. Consultado em 21 de dezembro de 2011
- ↑ Fernandez, Alexandre Agabiti (12 de março de 2003). «As faces poéticas do político». Revista Cult. Revista Cult. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Ismail Xavier, um crítico sem fronteiras do cinema nacional». Estadão. 4 de novembro de 2002. Consultado em 21 de dezembro de 2011
- ↑ a b c d Kornis, Mônica Almeida; Morettin, Eduardo (junho de 2013). «Entrevista com Ismail Xavier». Estudos Históricos (Rio de Janeiro) (51): 213–238. ISSN 0103-2186. Consultado em 19 de abril de 2021
- ↑ a b c d e f g h i j k l «Currículo Lattes - Ismail Norberto Xavier». CNPq. CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n Xavier, Ismail Norberto. «Memorial: Ismail Norberto Xavier» (PDF). Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ a b c d Pinto, Pedro Plaza; Baltar, Mariana; Moraes, Fernando; Ramos, Lécio Augusto (17 de junho de 2003). «Ismail Xavier: O cinema e os filmes ou doze temas em torno da imagem». Revista Contracampo (08). ISSN 2238-2577. doi:10.22409/contracampo.v0i08.486. Consultado em 20 de abril de 2021
- ↑ a b Kornis, Mônica Almeida; Morettin, Eduardo (junho de 2013). «Entrevista com Ismail Xavier». Estudos Históricos (Rio de Janeiro) (51): 213–238. ISSN 0103-2186. Consultado em 20 de abril de 2021
- ↑ a b c Prado, Luiz (16 de novembro de 2017). «Ismail Xavier é agraciado com título de Professor Emérito». Jornal da USP. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ Mayara Teixeira (2 de maio de 2011). «Ismail Xavier é tema de jornada na Universidade de Sorbonne». Escola de Comunicações e Artes. Consultado em 21 de dezembro de 2011
- ↑ «Funarte debate cinema brasileiro em BH». Funarte. 7 de dezembro de 2010. Consultado em 21 de dezembro de 2011
- ↑ Cristo, Verônica. «Ismail Xavier recebe o título de professor emérito da ECA | ECA - Escola de Comunicações e Artes». www3.eca.usp.br. Escola de Comunicações e Artes ECA/USP. Consultado em 18 de março de 2021
- ↑ «A Cinemateca Brasileira pede socorro em carta que traz assinatura de cineastas e ex-gestores | Revista de Cinema». Consultado em 18 de março de 2021
- ↑ «Novos estud. - CEBRAP - Editorial board». www.scielo.br. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Equipe Editorial | Literatura e Sociedade». www.revistas.usp.br. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Equipe Editorial | ALCEU». revistaalceu.com.puc-rio.br. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Equipe Editorial». bib44.fafich.ufmg.br. DEVIRES - Cinema e Humanidades. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Equipe Editorial | MATRIZes». www.revistas.usp.br. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Equipe Editorial». revistas.pucsp.br. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Sétima arte, um culto moderno : o idealismo estético e o cinema». Worldcat. Consultado em 21 de dezembro de 2011
- ↑ «Grande Prêmio do Cinema Brasileiro anuncia finalistas e votação popular». G1 Cinema. Globo. 23 de outubro de 2013. Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Ordem do Mérito Cultural – Secretaria Especial da Cultura». Consultado em 15 de março de 2021
- ↑ «Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 - L'allégorie au cinéma : entre l'histoire et la théorie». www.univ-paris3.fr (em francês). Consultado em 18 de março de 2021
- ↑ «Beltrão 2009 vai para Ismail Xavier e Biblioteca Nacional». Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdiciplinares da Comunicação. Consultado em 21 de dezembro de 2011
Ligações externas
editarProdução intelectual de Ismail Xavier cadastrada no Repositório da Produção USP