Jus sanguinis
Jus sanguinis ou ius sanguinis (Latim:AFI: [juːs ˈsaŋ.ɡwi.nis]), que significa "direito de sangue", é o princípio da lei da nacionalidade pela qual a nacionalidade é determinada ou adquirida pela nacionalidade de um ou de ambos os progenitores. As crianças à nascença apenas podem ser nacionais de um determinado Estado se um ou ambos os pais tiverem a nacionalidade desse Estado. Pode também aplicar-se a identidades nacionais de origem étnica, cultural ou de outras origens. Ao abrigo do Direito de Retorno, a nacionalidade por jus sanguinis também pode ser aplicada a crianças cujos pais pertencem a uma diáspora e não eram cidadãos do Estado que confere a nacionalidade. Este princípio diverge do jus soli ou ius soli ("direito de terra"), que se limita ao local de nascimento.[1][2][3][4][5][6]
No século XXI, quase todos os Estados aplicam alguma combinação de jus soli e jus sanguinis nas suas leis de nacionalidade em graus variados, em contraste com as formas amplamente puras de ambos, tal como utilizadas nos séculos XIX e XX. Historicamente, a aplicação mais comum do jus sanguinis é o direito da criança à nacionalidade do pai. Hoje, a maioria dos países estende este direito em igualdade de circunstâncias à mãe. Alguns aplicam este direito independentemente do local de nascimento, enquanto outros podem limitá-lo aos nascidos no Estado. Alguns países preveem que uma criança adquira a nacionalidade da mãe se o pai for desconhecido ou apátrida, e alguns independentemente do local de nascimento. Algumas destas crianças podem adquirir a nacionalidade automaticamente, enquanto outras podem necessitar de requerer previamente a nacionalidade dos pais. A aquisição da nacionalidade pelas crianças é supervisionada por diversas leis para evitar as transgressões.[7][8][9][10][11]
Aplicação
editarO direito de sangue é aplicado na Europa Central e oriental, Norte de África (especialmente Argélia e Marrocos)[12] e Ásia (por exemplo, no sistema Millet e no Japão). Era também o direito romano inicial.[13] As primeiras aplicações do direito (parcial) de solo datam de Clístenes e se desenvolveram no mundo romano, quando a cidadania foi estendida a todos os habitantes livres do Império.
Europa
editarO direito de sangue foi atribuído aos descendentes de europeus principalmente em consequência das grandes emigrações europeias dos séculos XIX e XX, visando a dar um abrigo legal aos descendentes dos emigrantes nascidos fora do território de determinada nação.
Países como Itália, Portugal, Espanha, França,[14] Inglaterra, Japão, Austrália, Alemanha[14] e Holanda[15] adotaram o jus sanguinis.
- Portugal
Em Portugal adota-se a regra do jus sanguinis, pelo qual critério é atribuído a nacionalidade originária às crianças através do direito de sangue, ou seja, se um dos seus pais ou avôs possuir a nacionalidade portuguesa, conforme a Lei da Nacionalidade Portuguesa.[16]
Américas
editarNo continente americano prevalece o direito de solo. Isto ocorre justamente em função do impulso à colonização exercido pelos países do Novo Mundo, com grandes áreas pouco povoadas.
- Brasil
O Brasil adota o critério do jus soli[17] mitigado por critérios do jus sanguinis, chegando a doutrina a afirmar que o país adota um sistema misto ou híbrido.
Ásia
editarA maioria dos países asiáticos (incluindo China, Coreia do Sul, Japão, Filipinas e Tailândia) aplica uma versão do direito de sangue. A aquisição da nacionalidade por naturalização também é difícil e rara.
Ver também
editar- nacionalidade
- cidadania múltipla (abrange a dupla nacionalidade)
- nacionalidade brasileira
- nacionalidade portuguesa
Referências
- ↑ HarperCollins. «"jus sanguinis"». CollinsDictionary.com
- ↑ «Definition of JUS SANGUINIS». www.merriam-webster.com (em inglês). Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ «International Migration Law No. 34 - Glossary on Migration» (em inglês). 19 de junho de 2019. ISSN 1813-2278. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ «Birthright Citizenship». obo (em inglês). Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Kostakopoulou, Dora (8 de maio de 2008). The Future Governance of Citizenship (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press
- ↑ Vink, Maarten Peter; De Groot, Gerard-René (2010). «Birthright Citizenship. Trends and Regulations in Europe» (em inglês). Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Solodoch, Omer; Sommer, Udi (2020). «Explaining the birthright citizenship lottery: Longitudinal and cross-national evidence for key determinants». Regulation & Governance (em inglês) (1): 63–81. ISSN 1748-5991. doi:10.1111/rego.12197. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Safran, William (1 de julho de 1997). «Citizenship and Nationality in Democratic Systems: Approaches to Defining and Acquiring Membership in the Political Community». International Political Science Review (em inglês) (3): 313–335. ISSN 0192-5121. doi:10.1177/019251297018003006. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ «ius sanguinis - European Commission». home-affairs.ec.europa.eu (em inglês). Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ «Jus soli | Definition, Citizenship, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 23 de novembro de 2024. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ McGuire, Kim (setembro de 2022). «Jus Sanguinis, "Effective Nationality" and Exclusion: Analysing Citizenship Deprivation in the UK». Genealogy (em inglês) (3). 62 páginas. ISSN 2313-5778. doi:10.3390/genealogy6030062. Consultado em 2 de dezembro de 2024
- ↑ Identité et transmission du lien national au Maghreb : étude comparée des codes de la nationalité
- ↑ «jus sanguinis» (em inglês). Encyclopedia Britannica. Consultado em 11 de março de 2023
- ↑ a b «jus sanguinis» (em inglês). Oxford University Press. Consultado em 11 de março de 2023
- ↑ «Nederlander worden» (em neerlandês). Rijksoverheid. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ «How to apply for Portuguese citizenship» (em inglês). Expatica. 3 de fevereiro de 2023. Consultado em 14 de março de 2023
- ↑ «O que é naturalização?». Ministério da Justiça e Segurança Pública. Consultado em 15 de março de 2023