Ivan Ivanovich Betskoi (ou Betskoy; 14 de fevereiro de 1704 - 11 de setembro de 1795), foi um reformista educacional russo que se tornou conselheiro da imperatriz Catarina II na área da educação e presidente da Academia Imperial das Artes durante trinta anos entre 1764 e 1794. A criação do primeiro sistema de educação pública na Rússia é considerada a sua maior realização em toda a sua longa carreira.

Ivan Betskoy
Ivan Betskoy
Ivan Betskoy por Alexander Roslin
Nascimento 14 de fevereiro de 1704
Estocolmo, Suécia
Morte 11 de setembro de 1795 (91 anos)
Rússia
Sepultamento Igreja da Anunciação do Alexander Nevsky Lavra
Nacionalidade russa
Cidadania Império Russo
Progenitores
  • Ivan Trubetskoy
Parentesco Ivan Trubetskoy
Baronesa de Wrede
Filho(a)(s) Anastasiya Sokolova
Irmão(ã)(s) Anastasia Ivanovna Trubetskaya
Ocupação educador, político, militar
Distinções
 
Ivan por Alexander Roslin.

Os pais de Ivan Betskoy eram o príncipe Ivan Trubetskoy, um marechal-de-campo russo, e a sua amante sueca, a baronesa de Wrede. O seu apelido é uma abreviação do do seu pai.

Ivan nasceu em Estocolmo, onde o seu pai tinha sido feito prisioneiro durante a Grande Guerra do Norte, e foi depois enviado para Copenhaga para ter a sua educação militar, tendo-se juntando ao regimento de cavalaria dinamarquês. Foi enquanto prestava serviço militar na Suécia que sofreu uma queda de cavalo que o iria forçar a retirar-se da vida militar. Uma vez que o seu pai não tinha mais filhos varões, Ivan regressou à Rússia em 1729. No início prestou serviço como ajudante-de-campo do seu pai, mas depois passou a integrar várias missões diplomáticas que o levaram a várias capitais europeias.

Ivan esteve fortemente envolvido no golpe de estado que colocou a imperatriz Isabel Petrovna no trono russo. Como sinal de agradecimento, a imperatriz promoveu-o a general-major e pediu-lhe que servisse a duquesa Joana Isabel de Holstein-Gottorp, cuja filha Catarina tinha sido escolhida para noiva do sobrinho e herdeiro da imperatriz, o grão-duque Pedro. Na verdade, Ivan já conhecia Joana Isabel há duas décadas e a intimidade que partilhava com ela fez com que surgissem rumores que ele era o pai biológico de Catarina.

Depois de Joana Isabel ser expulsa da Rússia em 1747, Ivan decidiu deixar os seus cargos diplomáticos na Rússia e mudou-se para Paris, onde passou os quinze anos que se seguiram a trabalhar de perto com os autores da Enciclopédia e Jean-Jacques Rosseau. Ivan foi apresentado aos membros mais altos da aristocracia francesa através da sua única irmã, Anastásia Ivanovna, que se tinha casado com o conde de Hesse-Homburg depois da morte do seu primeiro marido, o príncipe Dimitrie Cantemir da Moldávia.

Pedro III da Rússia voltou a chamar Ivan à corte e encarregou-o da gestão dos palácios e jardins imperiais. Quando chegou a São Petersburgo, Ivan aproximou-se imediatamente da esposa do czar, a sua suposta filha Catarina, ajudando-a a depor Pedro III em 1762. O estadista tinha grandes esperanças de beneficiar da sua ajuda na conspiração. Na sua autobiografia, a princesa Catarina Vorontsova-Dashkova, relembra uma ocasião em que Ivan fazia perguntas como: "Não fui eu quem incentivou os guardas? Não fui eu quem atirou dinheiro às pessoas na rua?", à imperatriz.

Apesar de não ter tido qualquer posição política de relevo até 1764, quando Catarina o nomeou presidente da Academia Imperial das Artes, Ivan tornou-se um pilar do sistema russo. A sua posição na corte de Catarina não é fácil de classificar. Alguns historiadores dizem que a sua função era de "secretário pessoal", outros consideram-no um "ministro da educação não-oficial". Era uma das poucas pessoas que teve acesso ilimitado à imperatriz durante a maioria do seu reinado. Foi por sugestão sua que Étienne Maurice Falcone foi escolhido para esculpir o Cavaleiro de Bronze e foi ele que escolheu Georg von Veldten para fazer a vedação de ferro do Jardim de Verão.

A influência de Ivan continuou a ser forte até ao final da década de 1780, quando as ideias iluministas de Catarina começaram a desvanecer e se dizia dele que "estava a voltar à infância" devido à sua idade avançada. Tinha noventa e dois anos quando morreu, depois de um longo período de incapacidade e cegueira. Ivan nunca se casou e deixou as suas propriedades a uma filha bastarda sua que era muito chegada à imperatriz Catarina. Esta filha viria a casar-se com José de Ribas, um aventureiro espanhol que fundou a cidade de Odessa.

Reformas Educacionais

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Ivan ao lado de Catarina num monumento em São Petersburgo.

Em 1763, Ivan apresentou a Catarina o Estatuto Para a Educação dos Jovens de Ambos os Sexos, um documento cheio de citações de Comenius, John Locke e Rosseau e apresentava uma proposta para educar os jovens russos de ambos os sexos nas escolas do estado com o objectivo de criar "uma nova raça de homens". Ivan apresentou uma série de argumentos a favor da educação geral das crianças em vez de uma formação mais especifica: "oferecendo aos nossos jovens uma educação nestes princípios, iremos criar (...) novos cidadãos." Devia ser dada uma maior atenção aos internatos devido à ideia de Rosseau de que "isolar os alunos faz com que os professores os consigam proteger dos males da sociedade."[1]

A imperatriz apoiou esta ideia e criou a Sociedade Para a Formação de Jovens Bem-Nascidas, tendo Ivan como administrador. Esta associação criou uma escola, o Instituto Smolny, que se tornou a primeira instituição para a educação de mulheres na Rússia e uma das primeiras da Europa. O Smolny deveria tornar-se um centro de formação das ideias de Rosseau sobre a educação: as jovens - consideradas as futuras bases educacionais das suas famílias - eram protegidas de todas as influências negativas e tiveram uma educação mais moral do que intelectual. A imperatriz manteve correspondência com várias das alunas, considerando a escola a sua maior contribuição para a sociedade russa.[2]

Ivan e Catarina escreveram em conjunto um manual para ser usado nesta escola intitulado "Considerando os Deveres do Homem e do Cidadão". Este ensaio não só discutia os deveres das alunas para com Deus e a sociedade, mas tinha também conselhos práticos sobre saúde, higiene e outros assuntos quotidianos. Uma longa colecção dos manuais de Ivan foi publicada em Amesterdão em 1775. A edição que escreveu com Catarina foi revista e aumentada para dois volumes entre 1789 e 1791.

Tendo nascido fora de um casamento, e desejoso de reduzir a elevada taxa de infanticídios, Ivan viu nas crianças bastardas e orfãs uma oportunidade de aplicar as suas teorias educacionais. Foi por sugestão sua que foram abertas duas casas de acolhimento, a primeira em Moscovo, em 1764, e a segunda em São Petersburgo em 1770. A Casa de Acolhimento de São Petersburgo foi uma precursora da actual Universidade de Herzen.[3] Não menos importante foi o seu encorajamento da educação de filhos de mercantes. Ivan deplorava o facto de "termos apenas duas classes na nossa sociedade: os camponeses e os nobres", e tentou promover o desenvolvimento da classe média através da criação de uma escola comercial em Moscovo.

Bibliografia

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  • A.S. Lappo-Danilevsky. I.I. Betskoy and His System of Education. SPb, 1904.
  • P.M. Maykov. Ivan Ivanovich Betskoy: A Biography. SPb, 1904.

Referências

  1. David Ransel, "Ivan Betskoi and the Institutionalization of Enlightenment in Russia", in Canadian-American Slavic Studies 14, no. 3 (1980), page 327–238.
  2. Loren R. Graham. Science in Russia and the Soviet Union: A Short History. Cambridge University Press, 1994. ISBN 0-521-28789-8. Page 28.
  3. 210 years of Herzen University
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Ivan Betskoy», especificamente desta versão.
 
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