Jacobina Felice
Jacobina Felice, também conhecida como Jacobina Felice de Almania, nasceu em Florença na Itália, por volta de 1280 e exerceu medicina em Paris no inicio do século XIV. Em 1322, foi acusada de praticar medicina ilegalmente e levada a tribunal, pelo reitor da Faculdade de Medicina de Paris. [1][2][3][4][5][6]
Jacobina Felice | |
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Nascimento | Jacobina Felice século XIII Florença |
Morte | Desconhecido |
Ocupação | médica |
Carreira
editarAo referir-se a ela própria como nobilis mulier domino, Jacobina, indicava que era de uma classe social alta. [4][7][8]
Embora defendesse que uma mulher devia examinada por outra porque era impróprio um homem apalpar os seios e o abdómen das mulheres e tenha usado este argumento na sua defesa no seu julgamento, ela tratava homens e mulheres sem fazer distinção. [9][10][11][4][12][13]
Os tratamentos que prescrevia tinham a reputação de serem bem sucedidos, os doentes iam ter com ela com o mais variado tipo de maleitas desde febre a paralisias. A maioria das vezes faziam-no, quando os tratamentos prescritos por outros médicos falhavam ou quando estes os consideravam incuráveis recusavam-se a tratá-los. [9][4][14]
Embora não se tenha formado numa universidade, por as mulheres estarem proibidas de o fazer e consequentemente tenha aprendido a ser médica em aulas privadas e por conta própria, Jacobina utilizava nas suas consultas as mesmas técnicas e métodos que os médicos com formação académica. Nas suas consultas ela examinava a urina, apalpava o corpo do paciente, sentia o pulso, passava receitas, entre outros métodos de diagnóstico e tratamento, o que somado ao facto de ela só cobrar o tratamento caso o doente se curasse, levou a que ganhasse a animosidade dos médicos licenciados e dos representantes da igreja.[3][9][11][4][12][7][15][9]
Julgamento
editarEm 1322, Jacobina Félicie foi processada e levada a tribunal pela Faculdade de Medicina da Universidade de Paris que a acusava de praticar medicina sem licença para tal. Foi julgada juntamente com dois homens e três mulheres.[9] [2][8][12][15][4][6][13]
Foi acusada de visitar os doentes e de utilizar métodos e técnicas como sentir a pulsação, examinar a urina, tocar no corpo, ou seja, de recorrer a procedimentos ensinados na universidade sem licença; de passar receitas, de acordar ser paga pelo serviço se o tratamento resultasse; de exercer medicina sem ter uma formação académica numa universidade autorizada, entre outras acusações.[12]
Durante o julgamento, foram ouvidas oito testemunhas, apenas uma não era sua paciente, que testemunharam a seu favor embora tenham sido chamadas pela acusação. Disseram que ela era uma médica e uma cirurgiã melhor que muitos dos médicos formados na universidade. Também testemunharam que ela só cobrava os seus tratamentos quando estes levavam à cura, se por um lado isto jogava a favor da sua reputação enquanto médica, surtiu o efeito contrário no julgamento. [3][10][7][8][12]
A acusação assentou todo o caso no facto de ela não ter tido uma formação formal numa universidade e embora a defesa tenha argumentado que mesmo sem ter frequentado a universidade e sem ter licença, ela havia salvo várias vidas, não foi feito qualquer esforço para testar o seu conhecimento em medicina.[3][9][4][12][10]
Apesar dos testemunhos de que ela era capaz de curar pessoas que outros médicos, muitos deles com formação académica, desistiam de curar ou recusavam tratar por os considerarem incuráveis, o tribunal concluiu que era óbvio que um homem devido ao seu género percebia muito mais de medicina que uma mulher. Para isto contribuiu o testemunho de Jean de Pádua que alerta que praticar medicina sem licença é perigoso mas que ao sê-lo feito por uma mulher o risco é ainda maior. Para além disto, tiveram em conta o facto de que se as mulheres estavam na altura proibidas de praticarem advocacia também não deviam exercer medicina. [3][9][16][4][12]
No final do julgamento, foi considerada culpada, proibida de ser médica e ameaçada com a excomunhão se fosse apanhada a praticar medicina novamente, teve também de pagar uma multa de 60 libras parisienses. Não se sabe se ela continuou a exercer depois do julgamento ou não. [3] [9][17][8][15][4][7][12][14]
Notas
editarReferências
editar- ↑ thestoryofpsychology (4 de março de 2016). «Natural Scientists: The Lost Voices». TheStoryOfPsychology (em inglês). Consultado em 22 de julho de 2020
- ↑ a b c Rosser, Sue Vilhauer (2008). Women, Science, and Myth: Gender Beliefs from Antiquity to the Present. Atlanta: ABC-CLIO. pp. 23,24. ISBN 978-1598840957
- ↑ a b c d e f g «Jacqueline Felice de Almania». Order of Medieval Women (em inglês). Consultado em 22 de julho de 2020
- ↑ a b c d e f g h i Pairet, Montserrat Cabré; Muñiz, Fernando Salmón (1999). «Poder académico versus autoridad femenina: la Facultad de Medicina de París contra Jacoba Félicié ( 1322 )». Dynamis: Acta Hispanica ad Medicinae Scientiarumque Historiam Illustrandam. 19: 55–78. ISSN 2340-7948
- ↑ Casado, María José (18 de outubro de 2012). Las damas del laboratorio: Mujeres científicas en la historia (em espanhol). [S.l.]: Penguin Random House Grupo Editorial España
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- ↑ a b c d Green, Monica (2006). «Getting to the Source: The Case of Jacoba Felicie and the Impact of the Portable Medieval Reader on the Canon of Medieval Women's History». Medieval Feminist Forum. doi:10.17077/1536-8742.1057. Consultado em 24 de julho de 2020
- ↑ a b c d e f g h «Women in medicine: the trial of Jacoba Felicie de Almania» (em inglês). 16 de junho de 2020
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- ↑ Wickersheimer, Ernest (1979). Dictionnaire biographique des médecins en France au Moyen âge (em francês). [S.l.]: Librairie Droz
- ↑ a b Garcia-Ballester, Luis; French, Roger; Arrizabalaga, Jon; Cunningham, Andrew (1994). Practical Medicine from Salerno to the Black Death (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press