Jerid
O Jerid, Djerid ou Bled el Djerid (em árabe: الجريد; literalmente "palma de tamareira"), é uma região semi-desértica situada no sudoeste da Tunísia, que se estende para as áreas contíguas na Argélia. Em termos administrativos, está associada, na Tunísia, à província (gouvernorat) de Tozeur e, pelo menos em parte e segundo algumas fontes, também às províncias de Gafsa e Kebili. Esta última integra a região de Nefzaoua, a qual por vezes se considera parte do Jerid.[1]
Jerid – Região natural – | |
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Oásis e cidade de Nefta | |
País | Tunísia Argélia |
Localidades mais próximas | Tozeur, Nefta, Tamerza, Gafsa |
Localização aproximada do centro da região do Jerid na Tunísia | |
Coordenadas | 34° 00′ 00″ N, 8° 00′ 00″ L |
A região está salpicada de oásis dispersos entre dois chotts (lagos salgados em grande parte secos na maior parte do tempo). Dentre os chotts destaca-se pela sua extensão celebridade o Chott el Jerid. Em termos económicos, a região destaca-se pela sua produção de tâmaras, nomeadamente da variedade superior deglet nour, e desde os anos 1990 que o turismo tem vindo a ganhar importância. Há ainda a referir a exploração mineira de importantes jazidas de fosfato, principalmente a norte da região (Gafsa).
População
editarA população da província de Tozeur, o núcleo central da região era estimada em 2011 em 104 800 habitantes, mais 4,5% do que em 2007 e mais 7,5% do que em 2004, concentrando-se principalmente nas cidades de Tozeur e Nefta. No mesmo ano estimava-se que a província de Gafsa, a norte, tivesse 341 600 habitantes, mais 3,5% que em 2007 e mais 5,5% do que em 2004. A estimativa para a província de Kebili, a sul, que muitos autores não incluem na região, era então de 152 200 habitantes, mais 3.9% que em 2007 e mais 6,3% do que em 2004.[2][3]
Em termos étnicos, a população resulta da mestiçagem ao longo da história entre berberes autóctones, árabes e escravos originários da África subsariana. Atualmente a os habitantes consideram-se a eles próprios árabes, tendo desaparecido quase completamente qualquer componente berbere, a qual é mesmo renegada, pois é associada ao "tempo da ignorância pré-islâmica".[4]
História
editarO Jerid já era habitado no tempo dos númida (séculos III a I a.C.). Vieram depois os romanos, que erigiram fortificações, integradas no limes da fronteira meridional da província da África Proconsular, que tinha como objetivo impedir as incursões das populações nómadas do Saara.[5]
Com a chegada do cristianismo, a região acolhe duas sedes episcopais, uma em Thusurus (Tozeur) e outra em Nepte (Nefta). Depois duma passagem fugaz dos vândalos no século V d.C., seguiu-se o domínio dos bizantinos, até à invasão dos árabes muçulmanos do Império Omíada no século VII, que ocuparam toda a Tunísia e arabizaram e islamizaram.[5]
Durante a Idade Média, as cidades do Jerid conhecem um progresso económico notável, devido principalmente à sua posição estratégica nas rotas das caravanas que ligavam a bacia mediterrânica à África subsariana. Entre os "bens" transportados figuravam numerosos escravos, que eram comprados para trabalharem nos oásis. Durante o período otomano, a região é palco de revoltas contras os impostos elevados e as incursões de nómadas. O relativo declínio da região a partir desse tempo deve-se em grande parte à perda da importância estratégica e económica do comércio transaariano.[carece de fontes]
Economia
editarO Jerid possui cerca de 1,6 milhões de tamareiras[a][carece de fontes] e é uma das regiões de produção de tâmaras mais importante da Tunísia, principalmente da variedade mais valiosa, a deglet nour.
Províncias | Totais | Deglet nour | Outras variedades | |||||||||
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2009-2010 | 2010-2011 | 2009-2010 | 2010-2011 | 2009-2010 | 2010-2011 | |||||||
Kebili | 91 000 | 56,2% | 97 000 | 55,7% | 77 500 | 70,7% | 83 000 | 69,6% | 13 500 | 25,8% | 14 000 | 25,5% |
Tozeur | 42 000 | 25,9% | 45 000 | 25,8% | 29 000 | 26,5% | 32 450 | 27,2% | 13 000 | 24,8% | 12 550 | 22,8% |
Gabès | 22 000 | 13,6% | 25 000 | 14,4% | 0 | 0% | 150 | 0,1% | 22 000 | 42,0% | 24 850 | 45,2% |
Gafsa | 7 000 | 4,3% | 7 125 | 4,1% | 3 100 | 2,8% | 3 600 | 3,0% | 3 900 | 7,4% | 3 525 | 6,4% |
Total | 162 000 | 100% | 174 125 | 100% | 109 600 | 100% | 119 200 | 100% | 52 400 | 100% | 54 925 | 100% |
Considerando a versão mais alargada do Jerid, cerca de 85% da produção total tunisina de tâmaras é proveniente da região, que em 2010-2011 produziu quase 150 000 toneladas. No mesmo ano, só 0,2% da variedade deglet nour foi produzida fora da região. Considerando que a província de Kebili não faz parte do Jerid, as percentagens descem para cerca de 30% do total e igualmente 30% de deglet nour, o que corresponde, respetivamente, a 52 125 e a 36 050 toneladas.[6]
Apesar das condições climatéricas extremas — as temperaturas máximas são próximas dos 50 °C e as precipitações anuais são muito limitadas (entre 80 e 120 mm) — os oásis do Jerid são muito produtivos devido aos seus recursos em águas extraídas atualmente de aquíferos subterrâneos muito profundos através de furos modernos.[7]
O sistema de distribuição de água de irrigação, nos palmeirais antigos, que remontam à Antiguidade, segundo a tradição local, foi reorganizado de forma racional no século XIII em Tozeur e, parcialmente, em Nefta, por Ibn Chabbat, um polímata natural de Tozeur. O sistema, essencial para a agricultura em áreas desérticas, é constituído por pequenos canais (seguias) que recolhem a água de milhares de fios de água ressurgente e a junta em ribeiras artificiais, chamadas localmente oueds (uede ou uádis). A água é em seguida distribuída, recorrendo a pequenas barragens em forma de pente, alimentando assim os milhares de hortas do palmeiral. Atualmente as nascentes naturais estão praticamente secas e foram substituídas por furos profundos. O sistema de distribuição foi progressivamente substituído por um mais moderno, mais eficaz na limitação das perdas por infiltração e evaporação.[7]
A riqueza produzida pela agricultura é repartida de forma muito desigual entre grandes proprietários, que muitas vezes nem sequer residem na região, e numerosos pequenos caseiros (khammes), cujo salário é um décimo da colheita e só é pago quando esta é vendida. Devido a este facto, é comum que os khammes tenham que pedir empréstimos para sobreviver ao longo do ano e que, em anos de piores colheitas não consigam pagar a totalidade desses empréstimos, na prática ficando perpetuamente reféns dos seus patrões. Após a independência, na década de 1950, o governo tentou combater essa situação criando sindicatos de khammes, mas estes não mostraram muito entusiasmo em associar-se, alegadamente por atribuírem a sua pobreza ao clima e às más colheitas e não à exploração dos seus patrões.[8]
O aumento do número de poços e furos, o crescimento demográfico local e o afluxo de turistas têm vindo a conduzir a uma sobre-exploração das reservas de água. A diminuição do nível dos Lençóis freáticos ameaça a sustentabilidade da agricultura local e o sustento dos agricultores.[7]
Notas e referências
editar- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Jérid», especificamente desta versão.
- [a] ^ Este número de tamareiras possivelmente refere-se apenas à província de Tozeur.
- ↑ Morris 2001, p. 297.
- ↑ «Données générales sur la population - Répartition de la population par gouvernorat». www.ins.nat.tn (em francês). Instituto Nacional de Estatística da Tunísia. 4 de junho de 2012. Consultado em 7 de setembro de 2012. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2012
- ↑ «Résultats du Recensement 2004 - Population, ménages et logements par unité administrative». www.ins.nat.tn (em francês). Instituto Nacional de Estatística da Tunísia. 17 de março de 2006. Consultado em 7 de setembro de 2012. Arquivado do original em 6 de setembro de 2012
- ↑ Battesti 2009, p. 551-582.
- ↑ a b Puig 2004, p. 32.
- ↑ a b «Production dattes 2010-2011». www.gifruits.com (em francês). Groupement Interprofessionel des fruits - Ministério da Agricultura da Tunísia. 4 de outubro de 2010. Consultado em 7 de setembro de 2012. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2012
- ↑ a b c Battesti 2012, p. 77-96.
- ↑ Morris 2001, p. 312.
Bibliografia
editar- Battesti, Vincent; Puig, Nicolas (1999). «Le sens des lieux, Espaces et pratiques dans les palmeraies du Jérid (Sud-ouest tunisien)». JATBA, revue d’ethnobiologie (em francês). XLI (2): 19-44. ISSN 0183-5173. Consultado em 7 de setembro de 2012
- Battesti, Vincent (junho 2005). Jardins au désert, Évolution des pratiques et savoirs oasiens, Jérid tunisien (em francês). [S.l.]: Éditions IRD. 440 páginas. ISBN 2-7099-1564-2. Consultado em 7 de setembro de 2012
- Battesti, Vincent (junho 2009). «Tourisme d'oasis, les mirages naturels et culturels d'une rencontre?» (PDF). EHESS. Cahiers d'Etudes Africaines (em francês). XLIX (1-2) (193-194): 551-582. Consultado em 7 de setembro de 2012
- Battesti, Vincent (março 2012). «The Power of a Disappearance: Water in the Jerid region of Tunisia». Paris, Jacarta: UNESCO / Springer. Water, Cultural Diversity an Global Environmental Change: Emerging Trends, Sustainable Futures? (em inglês): 77-96. doi:10.1007/978-94-007-1774-9_6. Consultado em 7 de setembro de 2012
- Morris, Peter; Jacobs, Daniel (2001). The Rough Guide to Tunisia (em inglês) 6ª ed. Londres: Rough Guide. 503 páginas. ISBN 1-85828-748-0
- Mrabet, Abdellatif (2004). L'art de bâtir au Jérid : étude d'une architecture vernaculaire du Sud Tunisien (em francês). Tunes: Faculté des lettres et des sciences humaines,
- Puig, Nicolas (2004). Bédouins sédentarisés et société citadine à Tozeur (Sud-Ouest tunisien) (em francês). Paris: Karthala. 282 páginas. ISBN 9782845864733. Consultado em 7 de setembro de 2012
Ligações externas
editar- Battesti, Vincent (21 de novembro de 2008). «Présentation générale : Jérid, gouvernorat de Tozeur». vbat.org (em francês). vbat.org anthropoasis. Consultado em 7 de setembro de 2012. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2012