João Ítalo
João Ítalo (em italiano: Giovanni Italo; em latim: Johannes Italus; em grego: Ἰωάννης ὁ Ἰταλός; n. 1025 - m. 1082) foi um humanista, filósofo bizantino, aluno de Miguel Pselo (c. 1049), sucessor de seu mestre na Universidade de Constantinopla por volta de 1055 e amigo íntimo do imperador bizantino Miguel VII Ducas (1059-1090). Deu aulas para Teodoro de Esmirna (1050-1012) em Constantinopla. Participou junto com seu pai de uma campanha militar na Sicília antes de partir para Constantinopla em 1049 onde se dedicou ao estudos de Platão e dos neoplatonistas[1][2] Filósofo bizantino do século XI, era natural da Calábria, e seu pai era um militar e mercenário. Como Pselo, hospedou-se durante algum tempo em um mosteiro da Bitínia.
João Ítalo | |
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Nascimento | 1025 Calábria, Império Bizantino |
Morte | 1082 Constantinopla, Império Bizantino |
Alma mater | Universidade de Constantinopla |
Ocupação | Humanista, embaixador, filósofo e professor universitário italiano. |
De certa feita entrou em conflito com Romano IV Diógenes e foi condenado em 13 de Março de 1082[3] pelo patriarca Cosme I de Constantinopla por heresia.
Vida
editarJoão Ítalo nasceu na Calábria, Itália, de onde seu nome é derivado. Era filho de um mercenário[4] italiano insatisfeito, junto com alguns militantes sicilianos, com a submissão ao imperador bizantino, e levou o seu filho, ainda criança, que passou os seus primeiros anos, não numa sala de aula, mas em campos de batalha. Quando o comandante bizantino Jorge Maniaces, se revoltou contra Constantino X Ducas no ano de 1042, o pai de Ítalo fugiu de volta para a Itália levando seu filho, que depois de algum tempo partiu para Constantinopla. Ele já tinha feitos alguns conhecimentos, particularmente em relação à lógica. Em Constantinopla fez seus estudos com diversos professores, e por último teve aulas com Miguel Pselo, com quem, todavia, teve uma discussão, não conseguindo, segundo a historiadora Ana Comnena, penetrar nas sutilezas da sua filosofia, e notabilizando-se pela sua arrogância e espírito competitivo. Ele é descrito como uma figura de comando, sendo moderadamente alto e com largo tórax, cabeça grande, testa proeminente, amplas narinas e pernas bem torneadas.
Ele conquistou os favores do imperador Miguel VII Ducas (1071-1078) e de seus irmãos; e o imperador, ao contemplar a reconquista da parte bizantina da Itália, que contava com Ítalo em seu destacamento, e esperando tirar vantagens dos seus conhecimentos desse país, o enviou para Dirráquio; mas tendo-o observado em alguns atos de deslealdade, mandou que fosse retirado. Ítalo, ao saber disso, fugiu para Roma, de onde, com fingido arrependimento, obteve permissão do imperador para retornar a Constantinopla, onde ele se fixou no Monastério de Pege, atual Igreja de Santa Maria da Fonte, em Istambul. Com a expulsão de Pselo da capital, e a sua entrada forçada para a vida monástica, Ítalo conseguiu o título de Hypatos ton Philosophon, ou principal professor de filosofia; e exerceu a função com grandes destaques de conhecimento; embora tivesse mais habilidade em lógica e filosofia aristotélica do que em outros aspectos da ciência, e tinha pouca familiaridade com gramática e retórica. Ele era um apaixonado, e rude nos debates, não se abstendo sequer da violência pessoal; mas sabia reconhecer a sua impetuosidade, e pedir perdão quando necessário, desde que não houvesse mais sinal de embate. A sua escola era repleta de alunos, a quem ele expunha os escritos de Proclo e Platão, Jâmblico, Porfírio, e Aristóteles. A sua turbulência de espírito e arrogância parece ter sido infecciosa; pois Anna Comnena declara que muitas pessoas tiranas e sediciosas surgiram entre seus alunos; mas seus nomes não puderam ser declinados, eram, todavia, anteriores a ascensão de Aleixo I Comneno.
As perturbações que ocorreram com os ensinamentos de Ítalo atraíram a atenção do imperador aparentemente logo depois de sua ascensão; e ordenou que Ítalo, depois de um exame preliminar feito por Isaac Comneno (1005-1061), tio de Aleixo, fosse citado diante de uma corte eclesiástica. Embora protegido pelo patriarca Eustrácio Garidas, de quem ganhara simpatia, por pouco ele escapou da morte devido à violência da multidão de Constantinopla, e ele foi forçado, em público e de cara limpa, em 13 de Março de 1082 a se retratar e a anatematizar onze proposições, que corporificavam os sentimentos de que sentia possuir. Ele era acusado de ensinar a transmigração das almas,[5] e de sustentar algumas opiniões errôneas com suas idéias, e ridicularizar o uso de imagens durante a adoração; e segundo relatos, ele conseguiu difundir suas heresias entre muitos dos nobres e oficiais do palácio, para grande tristeza do imperador ortodoxo. Não obstante a sua forçada retratação, ele continuou a inculcar seus sentimentos, até ser definitivamente excomungado e banido para o Monastério de Pege, apesar das tentativas do imperador de refrear seus impulsos. Porém, como demonstrou ele arrependimento, o anátema não foi pronunciado publicamente, nem em todo seu contexto. Posteriormente ele renunciaria a seus erros, e manifestaria a sinceridade de sua renúncia a tudo que acreditava.
Esses acontecimentos foram relatados por Ana Comnena, cuja ansiedade de exaltar a reputação do seu pai, e sua tendência em depreciar os povos da Europa Ocidental, impede que depositemos nela toda nossa confiança em suas declarações.
Obras
editarAlgumas obras de Ítalo foram perdidas:
- Ἐκδόσεις εἰς διάφορα Ζητήματα, Expositiones in varias quas varii proposuerunt Quaestiones, Capp. xciii. s. Responsa ad xciii. Quaestiones philosophicas Miscellaneas. As questões foram propostas principalmente pelo imperador Miguel Ducas e seu irmão Andronicus.
- Ἕκδοσις εἰς τὰ Τοπικά, Expositio Topicorum Aristotelis
- Περὶ διαλεκτικῆς, De Dialectica
- Μέθοδος ῥητορικῆς ἐκδοθεῖσα κατὰ σύνοψιν, Methodus Synoptica Rhetoricae, uma preciosidade da qual Anna Comnena faz inúmeras depreciações.
- Epitome Aristotelis de Interpretatione
- Orationes
- Synopsis quinque vocum Porphyrii
Ver também
editarReferências
editar- ↑ Vasiliev A. Aleksander (1952) História do Império Bizantino, 2a Edição em Inglês, Imprensa da Universidade de Wisconsin, EUA, vol. 2, p. 474
- ↑ Merry Bruce (2004) Encyclopedia of modern Greek literature, Greenwood Press, USA, p. 57
- ↑ «The Byzantine Empire in the 11th Century». Consultado em 7 de junho de 2012. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2009
- ↑ The Byzantine background to the First Crusade, by Paul Magdalino
- ↑ Was there life beyond the Life Beyond? Arquivado em 2 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. - Byzantine Ideas on Reincarnation and Final Restoration.