João Fragoso
João Fragoso (Caldas da Rainha, 27 de abril de 1913 — Lisboa, 28 de dezembro de 2000) foi um escultor e artista plástico que se afirmou como uma das figuras mais representativas da arte portuguesa das últimas décadas do século XX, principalmente na área da escultura. Desenhador hábil, aguarelista vigoroso, ceramista e medalhista notável, escultor e poeta, foi vice-presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes.
João Fragoso | |
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Nascimento | 06 de maio de 1913 Caldas da Rainha, Portugal |
Morte | 28 de dezembro de 2000 (87 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | Portuguesa |
Prémios | Grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo |
Área | Escultura, Cerâmica, Pintura |
Formação | Escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa |
O mestre escultor João Fragoso, como era conhecido, deixou um valioso património artístico, com destaque para o Atelier-Museu João Fragoso, nas Caldas da Rainha. [1][2]
Biografia
editar- Em 1933, iniciou a frequência da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), onde foi discípulo de José Simões de Almeida (Sobrinho). Em 1936 frequentou a Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde foi o último discípulo de Teixeira Lopes.[3]
- No ano de 1940, trabalhou no projeto e decoração da Sala Camões da Exposição do Mundo Português, tendo sido condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo pelo seu trabalho.[4]
- Em 1943, defendeu a tese do Curso Superior de Escultura, com a elevada classificação de 19 valores, apresentando uma estátua de São João de Deus, sendo-lhe atribuído pela primeira vez o Prémio Rui Gameiro-Maria Helena.
- No ano de 1944, foi bolseiro do Instituto para a Alta Cultura em Espanha, onde expôs individualmente pela primeira vez em 1945, na galeria do Círculo de Belas Artes de Madrid.
- Em 1947, fundou o primeiro Estúdio-Escola de Cerâmica de Lisboa, que funcionou durante dez anos e que foi a primeira escola devotada ao ensino das artes da cerâmica a funcionar em Portugal.
- Como vice-presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes modernizou os seus serviços, criando um curso chamado Desenho Base, que foi o primeiro curso de design a funcionar em Portugal. Mais tarde, em 1970, propôs o movimento sócio-político que ficou conhecido por Lisboa 70.
Depois de ter trabalhado como professor agregado da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa durante anos, foi nomeado professor de Escultura daquela instituição, após prestação de provas públicas. Foi casado com a ceramista Maria Luísa Fragoso (1917-1985) e depois com a escultora Maria Helena Mendonça.
Exposições
editarParticipou em inúmeras exposições individuais e coletivas, nas mais variadas áreas artísticas, com obras de escultura, pintura, desenho e cerâmica. De entre essas exposições destacam-se:
- I Exposição Livre dos Alunos da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (1934);
- XXXVIII edição da Exposição de Pintura e Desenho Gravura e Escultura de Lisboa (SNBA, 1941);
- Exposicion del Escultor João Fragoso no Circulo de Bellas Artes, Direccion General de Bellas Artes y El Museo Nacional de Arte Moderno, de Madrid (1946);
- X edição da Exposição de Arte Moderna do SNI (Palácio Foz, Lisboa, 1946);
- 2.ª Exposição do Estúdio-Escola de Cerâmica (Lisboa, 1954);
- I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian realizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa (1957);
- Exposição 100 Artistas para un Centenário, Pintura, Escultura e Desenho das Galerias Skira de Madrid (1981), que incluía uma homenagem itinerante a Picasso nas principais cidades de Espanha;
- IV edição da Exposição de Artistas Caldenses do Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha (1989);
- 2.ª Bienal de Escultura e Desenho do Atelier-Museu António Duarte, Caldas da Rainha (1987);
- Exposição coletiva Arte e Poesia, do Centro Português de Serigrafia, Lisboa (2005).
Prémios e Distinções
editarFoi condecorado com diversos prémios e distinções e recebeu diversas medalhas de mérito e homenagens variadas, salientando-se:
- o Prémio Ruy Roque Gameiro – Maria Helena, com o tema São João de Deus;
- o Prémio Nacional de Escultura Mestre Manuel Pereira, aquando da XI Exposição de Arte Moderna do SNI;
- a medalha de bronze na Exposição Internacional de Bruxelas, Bélgica;
- o Prémio de Aquisição na Bienal de Cerâmica de Genebra, Suíça;
- o 1.º Prémio em concurso público para o troféu, medalha e diploma do Prémio Caravela Portuguesa do Fundo de Fomento de Exportação;
- o 1.º Prémio no concurso para os grupos escultóricos da Praça D. João I, no Porto;
- o Prémio de Mérito Absoluto do Ministério do Equipamento Social pelo projeto do Monumento ao 25 de Abril;
- o Prémio anual da Academia Nacional de Belas-Artes Aquisição/1990 (Escultura);
- o 1.º Prémio de desenho na Exposição do Conselho da Europa, em Nice;
- a Medalha de Mérito Municipal (Portugal) – Grau Ouro da Câmara Municipal de Oeiras (Portugal).
É autor do monumento em homenagem a Álvaro Martins Homem,[5] inaugurado a 17 de julho de 1960 na Praça Velha em Angra do Heroísmo e, em 1984, removido e instalado na rotunda das Avenidas Novas, onde se encontra.
O seu trabalho dividiu-se em três grandes fases:
- Fase figurativa (Modernismo) — iniciada em 1938, marca o arranque da atividade profissional de João Fragoso, altura em que trabalhou na Exposição do Mundo Português entre 1938 e 1940, no projeto e decoração da Sala de Camões, pelo que lhe foi conferido o grau de oficial da Ordem Militar de Cristo.[4] Desde logo manifestou apetência para a temática marítima, ora na interpretação de figuras e cenas piscatórias, ora na estatuária de exaltação aos navegadores portugueses, utilizando uma linguagem própria da 2ª geração modernista que era à época o estilo oficial do Estado Novo;
- Fase Mar (Abstração) — nesta fase, iniciada no ano de 1954, João Fragoso inicia um período marcado por uma profunda alteração do seu programa artístico. O contacto com novas correntes estéticas abre horizontes no seu trabalho, impondo mudanças que representam uma emancipação da arte oficial do Estado Novo. Desenvolve uma linguagem dominada pelo abstracionismo e pela evidente influência marítima, que se traduziu na utilização de uma gramática ligada aos barcos, às caravelas, às redes, aos instrumentos náuticos, à flora marítima. Percorre o seu trabalho um sentido nostálgico e mitificado do Mar Português onde funde a harmonia dos volumes, ora com a expressividade texturada das superfícies dos bronzes, ora no tratamento suave da superfície do mármore;
- Fase minimalista (arte conceptual) — o ano de 1959 marca o início de nova viragem nas suas opções estéticas denotando uma sintonização surpreendente com as mais ousadas correntes artísticas internacionais, onde a Arte Conceptual começava a ter presença e voz, sobretudo na América do pós-Guerra. Sem que haja uma ruptura com a fase anterior a nível temático, uma vez que, nas suas construções continua a predominar uma relação íntima com o mar, os métodos e as práticas modificam-se dramaticamente. Aproveita fragmentos de madeira, cordas, ou metais, provindos de naufrágios para realizar as suas assemblages, compondo esculturas que se destacam pela sua aproximação à Arte Povera italiana. Recolhe também seixos nas praias que utiliza em peças de grande depuração formal e onde existe uma grande contenção na forma como as manipula, preferindo a composição de esculturas fragmentadas ou organizações espaciais que se aproximam do que hoje designamos de instalações.[6]
Referências
- ↑ «João Fragoso». Centro de Arte Moderna. Consultado em 14 de novembro de 2022
- ↑ «Obra do escultor João Fragoso». Consultado em 14 de novembro de 2022
- ↑ «CPS / Artistas/ João Fragoso». www.cps.pt. Consultado em 14 de novembro de 2022
- ↑ a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "João Fragoso". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 18 de julho de 2019
- ↑ Obra autorizada pelo Decreto n.º 42 384, de 14 de julho de 1959.
- ↑ LDA, Zactics Managed Services. «Atelier Museu João Fragoso». portugaldigital (em inglês). Consultado em 14 de novembro de 2022
Publicações
editar- Atelier - Museu João Fragoso. Caldas da Rainha: Centro de Artes / CMCR, [s. d.].