José Carlos Meirelles
José Carlos dos Reis Meirelles Júnior (Ribeirão Preto, 1948) é um sertanista e indigenista brasileiro.
José Carlos Meirelles | |
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José Carlos Meirelles (2013) | |
Nascimento | 1948 Ribeirão Preto |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | indigenista |
Distinções |
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Meirelles largou a engenharia em 1970 para trabalhar na FUNAI. A partir de 1988, tornou-se um dos principais mentores da política de preservar o isolamento dos povos indígenas não interessados no contato com os "branco". Essa opção sucedeu às tradicionais posturas de antropólogos e governos, baseadas no contato para "proteger", "aculturar" e "integrar" os indígenas.[1]
Meirelles integrou a Coordenadoria de Índios Isolados da FUNAI desde a sua criação, em 1987, por iniciativa do indigenista Sydney Possuelo,[2] e coordenou a Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira (FPERE), no Acre, com sede da cidade de Feijó.
Na sua atividade passou por vários perigos: levou uma flechada no rosto em 2004[3] e, nos anos 1980, seu grupo foi atacado por indígenas isolados. Meirelles matou um deles para impedir que seu sogro fosse morto, o que considera um dos grandes traumas de sua vida.[4]
Biografia
editarMeirelles nasceu em Ribeirão Preto, numa família de desbravadores de mato e criadores de gado. Foi criado na pequena cidade de Santa Rita do Passa Quatro (SP). Quando jovem, decidiu abandonar os estudos de Engenharia e se mudar para São Paulo. Passou num concurso para indigenista da Funai e, após um rápido curso introdutório, foi enviado ao Maranhão para trabalhar com os Urubu-Kaapor e posteriormente aos Awá (Guajá), com quem havia feito os primeiros contatos.[1]
Em 1976, assumiu a chefia de um posto da Funai no Acre, na região do alto rio Iaco. Ali, entre os povos Manchineri e Jaminawa, ele iria passar dez anos de sua vida. Meirelles idealizou e fez aprovar a Terra Indígena de Mamoadate, em 1975, e foi o responsável pela transferência dos Manchineri, que estavam no seringal Guanabara, onde havia um conflito intenso entre extrativistas e os novos donos das terras. Afinal os indígenas foram retirados e conduzidos até a Terra Indígena, que só seria demarcada como reserva em 1987.[1]
Na década de 1980 eram frequentes e graves os conflitos entre povos isolados e integrantes dos grupos Kaxinawá e Ashaninka, respectivamente dos rios Jordão e Envira. Em decorrência de roubos e conflitos armados, as lideranças Kaxinawá e Ashaninka passaram a reivindicar junto à Funai a criação de uma frente de atração para "amansar os brabos". Meirelles foi demitido da Funai em 1980, juntamente com outros companheiros que se opunham à política indigenista do governo, mas foi readmitido em fins de 1982, prosseguindo seu trabalho com as populações indígenas do Acre. Voltou ao Maranhão com a família entre 1984 e 1986 para localizar e resgatar Awa-Guajá "brabos" (isolados) que estavam ilhados nos igapós do rio Pindaré. Em 1986, regressou ao Acre.
Até 1988, a política do Estado brasileiro em relação aos povos indígenas isolados era de contatá-los. A partir daquele ano, a política passa a ser a de proteger essas populações e seus territórios, sem a necessidade do contato.[5] No mesmo ano, depois de uma longa viagem de reconhecimento pelos rios acreanos, Meirelles começa a instalação da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira (FPERE), onde, por mais de duas décadas, trabalhou na proteção das terras ocupadas por índios voluntariamente isolados[6] nas cabeceiras do Envira, no município de Feijó. Nesse período, o sertanista e seus colaboradores implantaram um sistema de cooperativas indígenas que teve importância decisiva no processo de emancipação das tribos acreanas e de todo o sul da Amazônia.[1]
Seu trabalho consistia em uma delicada diplomacia que envolvia interesses e velhas rivalidades de índios isolados, índios aldeados, fazendeiros, madeireiros, governos, plantadores de coca e narcotraficantes. Três dos seus cinco filhos foram iniciados pelo pai no sertanismo. Artur Meirelles é seu sucessor na coordenação da FPERE. Mais recentemente, o sertanista levou sua experiência para a chefia da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’Kuana, em Roraima.
Em 2010, José Carlos Meirelles pediu demissão da Funai. Atualmente trabalha na Assessoria Indígena do Governo do Estado do Acre.[7]
Prêmios e honrarias
editarEm reconhecimento ao seu trabalho, a Assembléia Legislativa do Estado do Acre concedeu-lhe o título de Cidadão Acreano em 2006. No ano seguinte, o sertanista ganhou o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente na categoria "liderança individual".[8]
Em 2014, José Carlos Meirelles foi agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural pelo governo brasileiro, através do Ministério da Cultura.[7]
Referências
- ↑ a b c d PARALELO 10 (catálogo informativo sobre o filme de Silvio Da-Rin)
- ↑ VAZ, Antenor. ISOLADOS NO BRASIL - Política de Estado: da tutela para a política de direitos – uma questão resolvida?. Fevereiro de 2011, p. 14
- ↑ Anais do Senado Federal. Atas da 72.ª à 81.ª sessão da 2ª Sessão legislativa ordinária da 52.ª Legislatura, v.. 28 n° 24, 7 de junho a 14 de junho de 2004, p. 49.
- ↑ Como Meirelles matou índio em "situação dramática". Por Bob Fernandes. Terra Magazine, 23 de maio de 2008.
- ↑ Governo aprova R$ 5 milhões para proteção aos índios isolados Arquivado em 25 de julho de 2015, no Wayback Machine.. Por Altino Machado. Terra, 1 de agosto de 2014.
- ↑ Índios isolados são fotografados pela 1ª vez no AC. Por Altino Machado. Terra Magazine, 23 de maio de 2008.
- ↑ a b Sertanista José Meirelles recebe prêmio nacional de cultura. Por Maria Meirelles. Agência de Notícias do Acre, 5 de novembro de 2014.
- ↑ Ministério do Meio Ambiente. Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente – Edição 2007
Ligações externas
editar- Áudio: Índios isolados que viviam reclusos na mata revelam-se à sociedade envolvente. Entrevista com José Carlos Meirelles. Por Beth Begonha. Rádios EBC . Rádio Nacional da Amazônia (Tabatinga, Amazonas). Programa Amazônia Brasileira, 17 de outubro de 2014.