Judeus de ascendência portuguesa
Os Judeus de ascendência portuguesa são um subgrupo étnico-religioso dos judeus sefarditas, oriundos de Portugal, de onde foram expulsos nos séculos XV e XVI. Juntamente com os descendentes dos judeus expulsos de Espanha sensivelmente na mesma época, constituem os sefarditas ocidentais (em inglês: Spanish and Portuguese Jews), os quais diferem dos sefarditas orientais — aqueles que foram acolhidos pelo Império Otomano. Possuem herança linguística, ritual e social próprias.[1]
Diáspora
editarApós a expulsão de 120 mil judeus da Espanha[2] pelos Reis Católicos em 1492, cerca de 60 000, que se recusaram converter-se à religião cristã emigraram para Portugal [3]. D. João II de Portugal, influenciado por judeus importantes na Corte, acolhe-os, mas impõe-lhes o pagamento de oito ducados de ouro[4], quantia deveras elevada para a época, para permanecerem em terras lusitanas. Os que não podiam pagar este valor viam metade dos seus bens confiscados para a Coroa. Pretendia-se a fixação de operários especializados, que faltavam em Portugal. Falecido D. João II, sucede-lhe D. Manuel I, monarca que se revelou tolerante para com os judeus que não podiam pagar. No entanto, em março de 1497, é imposta a expulsão da comunidade judaica de Portugal por meio de uma lei que entrou em vigor naquele mesmo ano, iniciando uma séries de medidas persecutórias.[5]
Com o pogrom de Lisboa (1506) iniciava-se nova diáspora judaica. Alguns rumaram para o norte da Europa, onde fundaram comunidades nos Países Baixos e Alemanha. Outros se dirigiram para o sul da França (Bordéus, Biarritz, Tartas) e um menor número para Inglaterra e Itália. Alguns judeus preferiram retornar ao Oriente Médio, tendo sido bem recebidos pelos turcos otomanos e assimilados nas comunidades sefarditas orientais.
Os judeus erigiram a Grande Esnoga e tornaram-se o centro de referência para a comunidade judaica. Chegaram a desenvolver um dialeto próprio, o judeu-português, que foi usado até a expansão napoleônica impor ensino secular.[6]
Os judeus portugueses também chegaram com os holandeses em Pernambuco e, consecutivamente, a toda região setentrional do Nordeste brasileiro, outrora conquistado aos portugueses pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, entre os anos de 1630 a 1654, onde fundaram no Recife, capital da Nova Holanda, a primeira sinagoga da América, a Sinagoga Kahal Zur Israel[7], sob a direção do Hakham Isaac Aboab da Fonseca, autor dos primeiros textos literários e religiosos escritos em língua hebraica na América [8]. Com a reconquista portuguesa do Nordeste setentrional do Brasil, e a proibição de praticar o judaísmo, a comunidade dispersou-se, sendo que alguns voltaram para Amesterdão, outros migraram para outras colônias holandesas na América do Sul, Central e do Norte e uma parcela permaneceu, refugiando-se nos sertões, interior do Nordeste Brasileiro onde se converteram em cripto-judeus [9].
Em Nova Iorque, que fora colônia holandesa com o nome de Nova Amesterdão, chegaram do Recife um grupo de 23 judeus em Setembro de 1654, onde fundaram a primeira comunidade judaica dessa cidade. Os Judeus da nação portuguesa fundaram outras comunidades, como Montreal, Newport, Philadelphia, Charlotte, Nova Orleães e participaram ativamente da sociedade estadunidense, formando uma elite política e cultural judia. [10]
Com a Segunda Guerra Mundial os judeus da nação portuguesa sofreram fortemente, tendo sua população diminuída, de forma considerável, em suas comunidades na Europa continental.[11]
Referências
- ↑ Katz and Serels
- ↑ Ponczek, Roberto (2009). Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos paradigmas da Física. Salvador: EDUFBA
- ↑ Payne, Stanley G. A History of Spain and Portugal, 1973. Vol 1 p.229
- ↑ um ducado equivalia a aproximadamente 3,5g
- ↑ Alvará real assinado pelo el-Rei D. Manoel 19 de março de 1497
- ↑ Strolovitch, Devon L. (2005) Old Portuguese in Hebrew Script: Convention, Contact, and Convivência. Ph.D. dissertation, Cornell University, Ithaca, NY.
- ↑ Rosa, JS da Silva Geschiedenis der Portugeesche Joden te Amsterdam 1593-1925Amsterdam: Menno Hertzberger, 1925
- ↑ |"Isaac Aboab da Fonseca" no Museu Histórico Judaico dos Países Baixos
- ↑ Wolff, Egon; Wolff, Frieda. A odisséia dos judeus de Recife. 1979
- ↑ Birmingham, Stephen. The grandees: America's Sephardic elite. 1997
- ↑ Meijer
Bibliografia
editar- Barnett, R. D., and Schwab, W., The Western Sephardim (The Sephardi Heritage Volume 2). Gibraltar Books, Northants, 1989
- Birmingham, S., The Grandees: America's Sephardic Elite. Syracuse 1971 repr. 1997 ISBN 0-8156-0459-9
- de Sola Pool, David e Tamar, An Old Faith in the New World. Nova York, Columbia University Press, 1955. ISBN 0-231-02007-4
- Dobrinsky, Herbert C.: A treasury of Sephardic laws and customs: the ritual practices of Syrian, Moroccan, Judeo-Spanish and Spanish and Portuguese Jews of North America. Revised ed. Hoboken, N.J.: KTAV; Nova York: Yeshiva University Press, 1988. ISBN 0-88125-031-7
- Gubbay, Lucien and Levy, Abraham, The Sephardim: Their Glorious Tradition from the Babylonian Exile to the Present Day. London Carnell, 1997.
- Hyamson, Moses, The Sephardim of England: A History of the Spanish and Portuguese Jewish Community 1492-1951. Londres, 1951.
- Katz and Serels (ed.), Studies on the History of Portuguese Jews. Nova York, 2004. ISBN 0-87203-157-8
- Meijer, Jaap (ed.) Encyclopaedia Sefardica Neerlandica: Uitgave van de Portugees-Israëlietische Gemeente. Amsterdam, 1949–1950 [5709A.M. ] (2 vol., em holandês).
- Poettering, Jorun, Migrating Merchants. Trade, Nation, and Religion in Seventeenth-Century Hamburg and Portugal, Berlin, De Gruyter, 2019, ISBN 978-3-11-046993-6.
- Samuel, Edgar, At the End of the Earth: Essays on the history of the Jews in England and Portugal. Londres, 2004. ISBN 0-902528-37-8
- Studemund-Halévy, Michael & Koj, P. (publ.), Sefarden in Hamburg: zur Geschichte einer Minderheit. Hamburgo, 1993–1997. (2 vol.)