Língua quituba
O quituba (ou kituba) é uma língua franca largamente utilizada na África Central. Essa língua é baseada na língua congo e num grupo de línguas intimamente relacionadas entre si (algumas das quais não são mutuamente inteligíveis). O quituba é língua nacional na República do Congo e na República Democrática do Congo. No entanto, as diferenças entre as duas variantes são tantas que foram atribuídos códigos ISO 639-3 distintos a cada.[1][2]
Quituba | ||
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Outros nomes: | kituba, munukutuba, kikongo ya leta | |
Falado(a) em: | República do Congo República Democrática do Congo | |
Região: | África Central | |
Total de falantes: | 5-15 milhões | |
Família: | Nigero-congolesa Atlântico-Congo Volta-Congo Benue-Congo Bantoide Meridional Bantu-estreito Central H Quituba | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
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ISO 639-2: | --- | |
ISO 639-3: | ambos: mkw — Quituba (Congo-Brazavile) ktb — Quituba (Congo-Quinxassa) |
Às vezes, o quituba é tido como uma língua crioula endógena, isto é, desenvolvida sem realocações de povos,[3] mas esta denominação não é inteiramente aceita, por causa da falta da influência no substrato e superestrato típico de uma língua crioula.
Nomes
editarO quituba é conhecido por levar vários nomes entre seus falantes. Na República do Congo, é chamado munukutuba ou kituba. A primeira significa, "eu digo"; a segunda "[modo de] falar". Na República Democrática do Congo, o quituba é chamado kituba ou kikongo ya leta (língua congo da administração do estado), mas é, na maioria das vezes, chamado simplesmente de quicongo, especialmente fora da região dos congos. A constituição da República Democrática do Congo lista o congo como uma das línguas nacionais. De fato, a constituição se refere ao kikongo ya leta (isto é, kituba).[carece de fontes]
Outros nomes usados historicamente incluem kibulamatadi, kikwango, ikeleve, e kizabave. Nos círculos acadêmicos, a língua é chamada quicongo-quituba.[carece de fontes]
Distribuição geográfica
editarA maioria dos falantes do quituba vive na República Democrática do Congo. Essa língua é falada primariamente nas províncias do Congo Central, Cuango, Cuílo e em menor grau em Quinxassa, Mai-Ndombe e Cassai.
O quituba é a mais importante língua da República do Congo. É falada na metade sul do país, nas regiões Kouilou (especialmente Ponta Negra), Niari, Bouenza, Lékoumou e na capital Brazavile. O lingala é mais popular no norte.
O panorama do quituba em Angola é desconhecido. É provável que seja inteligível para alguns dos povos congos daquele país. Especialmente aqueles que viveram nos países onde o quituba é falado.
Em junho de 2024, a Google anunciou uma actualização do Google Translate, acrescentando mais 110 línguas, incluindo as línguas quituba e congo.[4]
Panorama de uso
editarA língua quituba é a língua nacional da República do Congo e da República Democrática do Congo. Na prática, a expressão "língua nacional" quer dizer que essa é a língua da administração e a ensinada na educação básica.
Uma língua nacional também pode designar a língua usada na comunicação em massa e em órgãos públicos. Rádios públicas e televisões na República Democrática do Congo e na República do Congo usam o quituba como uma das principais línguas nas notícias matinais.
História
editarO quituba surgiu no baixo Rio Congo, numa área habitada pelos congos.
Há varias teorias sobre como o quituba se tornou uma língua regional. Uma teoria afirma que, no tempo do Reino do Congo, o quituba já era uma língua simplificada dialetal de comércio, que os colonizadores europeus subsequentemente adotaram como íngua da administração regional. Uma outra teoria diz que uma língua simplificada usada para o comércio chamada kifyoti se desenvolveu na costa dominada pelos portugueses e posteriormente se expandiu com o avanço dos missionários cristãos na região entre os rios Cuango e Cassai, onde se tornou língua principal (daí o nome kikwango). Ainda, uma outra teoria enfatiza a construção da ferrovia Matadi-Quinxassa no final do século 19, que empregou mão de obra proveniente do Oeste da África, Baixo Congo, e a região vizinha de Bandundu. Os trabalhadores possuíam diversas origens linguísticas, que acabaram por dar origem a uma língua gramaticalmente simplificada.
Independente de sua origem, o quituba se estabeleceu nas grandes cidades, tendo sido encontrado durante o período colonial de 1885 a 1960. O quituba é falado como primeira língua em grandes cidades de maioria congo como Moanda, Boma, Matadi, Ponta Negra, Dolisie, Nkayi, e Brazavile bem como em cidades onde os congo são minoria, como Bandundu, Kikwit, e Ilebo.
Fonologia
editarVogais
editarO quituba possui cinco fonemas vocálicos: /a/, /e/, /i/, /o/, e /u/. Elas são muito similares às vogais do português. As vogais nunca são reduzidas, independente do acento. São pronunciadas da seguinte forma:
- /a/ é pronunciado como o "a" de ave
- /e/ é pronunciado como o "e" de escola
- /i/ é pronunciado como o "i" de imagem
- /o/ é pronunciado como o "o" de ovo
- /u/ é pronunciado como o "u" de urubu
Consoantes
editarbilabial | labiodental | dental | alveolar | postalveolar | palatal | velar | glotal | |
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plosiva | p, b | t, d | k, g | |||||
prenasalizada | mp, mb | mf mv | nt, nd | ns nz | ŋk, ŋg | |||
nasal | m | n | ŋ | |||||
fricativa | f v | s z | (h) | |||||
lateral | l | |||||||
aproximante | w | j |
Notas:
- A inicial prenasalizada da palavra é reduzida a uma simples consoante em alguns dialetos, por exemplo mpimpa e nkento se tornam pimpa e kento no quituba de Ponta-Negra.
- Alguns dialetos adicionam uma parada às consoantes fricativas alveolares prenazalisadas, por exemplo, Kinsasa e nzila se tornam Kintsasa e ndzila.
- Alveolares fricativas podem se tornar postalveolares antes de /i/.
Gramática
editarFonemas
editarO quituba possui pronomes de sujeito e de objeto. Os pronomes de objeto são usados no lugar dos pronomes de sujeito quando o sujeito é enfatizado.
Pessoa | Singular | Plural | ||
Sujeito | Objeto | Sujeto | Objeto | |
---|---|---|---|---|
1ª | mu | munu, mono | beto | beto |
2ª | nge | nge | beno | beno |
3ª | yá | yandi | ba | bau |
Substantivos
editarO quituba manteve uma grande parte dos casos substantives do congo com algumas modificações. As classes 9 e 11 convergiram com a classe singular com zero prefixo, e seus plurais são formados pelos prefixos plurais ba-.
singular | plural | ||||
classe | prefixo | exemplo | classe | prefixo | exemplo |
---|---|---|---|---|---|
0 | - | mama ('mãe) | 2 | ba- | bamama (mães) |
1 | mu- | muntu (pessoa) | 2 | ba- | bantu (pessoas) |
3 | mu- | mulangi (garrafa) | 4 | mi- | milangi (garrafas) |
5 | di- | dinkonde (banana) | 6 | ma- | mankonde (bananas) |
7 | ki- | kima (coisa) | 8 | bi- | bima (coisas) |
9 | n-/m- | nkosi (leão) | 2+9 | ba-n- | bankosi (leões) |
11 | lu- | ludimi (língua) | 2+11 | ba-lu- | baludimi (línguas) |
12 | ka- | kakima (doce) | 13 | tu- | tubima (doces) |
14 | bu | bumbote (deidade) | |||
15 | ku- | kubanza (pensar) |
Verbos
editarO quituba desenvolveu um sistema verbal que envolve tempo e aspecto. A maioria das formas verbais possui versões longas e curtas. As formas longas são usadas na comunicação escrita oficial enquanto a forma curta é usada na comunicação falada do cotidiano.
A conjugação irregular do verbo kuvanda ou kuvuanda (ser) é apresentada na tabela abaixo. É o único verbo irregular do quituba.
Tempo | Forma longa | Forma curta | Exemplo | Tradução |
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Presente e futuro imediato | kele | ke | Yau kele nkosi. | Isso é um leão. |
Futuro | kele/ata kuv(u)anda | ke/ta v(u)anda | Mu ta vuanda tata. | Eu serei um pai |
Presente progressivo | kele kuv(u)andaka | ke v(u)andaka | Nge ke vuandaka zoba. | Você está sendo estúpido |
Futuro progressivo | ata kuv(u)andaka | ta v(u)andaka | Beno ta vuandaka ya kukuela. | Você será casado |
Pretérito | v(u)andaka | Yandi vuanda kuna. | Ele estava aqui | |
Passado progressivo | v(u)andaka | Beto vuandaka banduku. | Nós era-mos amigos | |
Pretérito perfeito | mene kuv(u)anda | me v(u)anda | Yandi me vuanda na Matadi. | Ele estivera em Matadi. |
Pretérito perfeito progressivo | mene kuv(u)andaka | me v(u)andaka | Yandi me vuandaka mulongi. | Ela têm sido uma professora |
Todos os outros verbos são conjugados com verbos auxiliares. A conjugação do verbo kusala (fazer) é apresentada na tabela abaixo.
Tempo | Forma longa | Forma curta | Exemplo | Tradução |
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Presente e futuro imediato | kele kusala | ke sala | Yandi ke sala. | Ele trabalha /Ela trabalhará. |
Presente progressivo | kele kusalaka | ke salaka | Yandi ke salaka. | Ele está trabalhando |
Pretérito | salaka | salaka | Yandi salaka. | Ele trabalhou |
Pretérito imediato | mene sala | me sala | Yandi me sala. | Ele trabalhou. |
Pretérito imediato progressivo | mene salaka | me salaka | Yandi me salaka. | Ele têm trabalhado. |
Pretérito progressivo | vuandaka kusala | va sala | Yandi vuandaka kusala. | Ele esteve trabalhando |
Narrativo | sala | sala | ||
Futuro | ata sala | ta sala | Yandi ta sala. | Ele trabalhará. |
Futuro progressivo | ata salaka | ta salaka | Yandi ta salaka. | Ele estará trabalhando |
Léxico
editarA maior parte do vocabulário do quituba vem do congo. Outras línguas bantus influenciaram léxico quituba, incluindo kiyaka, kimbala, kisongo, kiyansi, lingala, e suaíli. Em adição, muitas palavras foram emprestadas do francês, português e inglês. Isso inclui:
- sandúku (Suaíli. sanduku)
- matáta (Suaíli. matata)
- letá (Fr. l'état)
- kamiyó (Fr. camion)
- sodá/solodá (Fr. soldat)
- masínu (Fr. machine)
- mísa (Port. missa)
- kilápi (Port. lápis)
- katekisimu (Ing. catechism)
- bóyi (Ing. houseboy)
- sapatu (Port. sapato)
- mesa (Port./Sp. mesa)
Referências
- ↑ «Kituba (A language of Congo)». Ethnologue
- ↑ «Kituba (A language of Democratic Republic of the Congo)». Ethnologue
- ↑ Arends, Jacques (2008) [1994]. «The socio-historical background of creoles». In: Mysken, Pieter; Singler, J. V. Pidgins and Creoles: An Introduction. 15. [S.l.]: John Benjamin. p. 17
- ↑ «Google Tradutor faz a maior atualização de sempre com 110 novas línguas. Português (de Portugal) incluído». SAPO. 28 jun 2024. Consultado em 12 de novembro de 2024