Língua washo
Washo /ˈwɒʃoʊ/[2] (or Washoe; endonym wá:šiw ʔítlu)[3] é uma língua ameaçada de extinção e isolada falada pelo povo nativo Washoe na fronteira das drenagens dos rios Carson e Truckee, principalmente na área do lago Tahoe, na Califórnia e em Nevada, Estados Unidos. Há apenas 20 idosos falantes nativos da língua, mas[1] desde 1994, chegou a haver uma pequena escola de imersão que produziu uma série de jovens moderadamente fluentes. Desde então, a escola de imersão fechou suas portas e o programa de idiomas agora opera através do Departamento de Recursos Culturais da Tribo Washoe. A linguagem ainda está muito ameaçada; no entanto, houve um renascimento no movimento de revitalização da língua, já que muitos dos alunos que frequentaram a escola original de imersão se tornaram professores.
Washo | ||
---|---|---|
Falado(a) em: | Estados Unidos | |
Região: | fronteira Califórnia–Nevada | |
Total de falantes: | 20 (2008) [1] | |
Família: | Hokan (?) Washo | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
| |
ISO 639-2: | was | |
ISO 639-3: | was
|
Os falantes etnográficos de Washo pertenciam à área de cultura da Grande Bacia e eram o único grupo não Númic daquela área..[4] O idioma recebeu palavras das línguas Uto-Astecas vizinhas, Maiduan e Miwokan, da mesma área linguística (sprachbundd) da Califórnia, Grande Bacia. Washo mostra muito pouca variação geográfica. Jacobsen (1986: 108) escreveu: "Quando existem duas variantes de uma característica, geralmente uma é encontrada em uma área mais ao norte e a outra em uma área mais ao sul, mas as linhas que separam as duas áreas para as diferentes características nem sempre coincidir."
Classificação
editarO Washo é considerado conservadoramente uma língua isolada.[5] Ou seja, ele não compartilha vínculo demonstrativo com nenhum outro idioma, incluindo seus três idiomas vizinhos diretos, Paiute Stentrional (um idioma númico (das uto-astecas), Maidu (das maiduanas), e línguas Sierra Miwok ([das utianas). Geralmente é classificada como uma língua Hokana, mas essa família de idiomas não é universalmente aceita entre especialistas, nem a conexão de Washo com elas;ref name="washoetribe.us">WA SHE SHU: "The Washoe People", Past e Present. The Washoe Tribe of Nevada e California</ref>
O idioma foi descrito pela primeira vez numa "Gramática do idioma Washo" por William H. Jacobsen, Jr. em uma dissertação de doutorado em Berkeley na Universidade da Califórnia, e essa continua sendo a única descrição completa do idioma. Não há variação significativa de dialetos. (O trabalho de Jacobsen ao longo da vida com Washo é descrito no Programa de História Oral da Universidade de Nevada.)Erro de citação: Elemento de fecho </ref>
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Fonologia
editarVogais
editarExistem seis qualidades vocálicas distintas encontradas na linguagem Washo, cada uma das quais ocorre longa e curta. A qualidade do som de uma vogal depende do sua extensão e do que as mesmas precedem, assim como a tonicidade presente na vogal.[6]
Ortografia | IPA | Exemplo |
---|---|---|
á ou a á: ou a: |
/a/ /aː/ |
lak'aʔ 'um' dá:bal 'artemísia (planta)' |
é ou e é: ou e: |
/e/ /eː/ |
demémew 'costela dele' mé:hu 'menino' |
í ou i í: ou i: |
/i/ /iː/ |
dipúlul 'meu carro' sí:su 'pássaro' |
ó ou o ó: ou o: |
/o/ /oː/ |
nanhólwa ribes aureum ćidó:dokhu 'pardal' |
ú ou u ú: ou u: |
/u/ /uː/ |
gukú: 'coruja' šú:gil 'girassol' |
ɨ ɨ: |
/ɨ/ /ɨː/ |
Mášdɨmmi 'ele está se encondendo' |
As vogais marcadas com o acento agudo (´) são pronunciadas tônicas, como no Washo ćigábut (verão).
Em Washo, as vogais podem ter qualidades de longas ou curtas; a mais longa é notada acrescentando-se um /: / à vogal, como no exemplo acima 'míši milí: giyi' . Vogais com tal marca são geralmente pronunciadas comor duas vezes o comprimento normal. Isto pode ser visto na diferença entre as palavras móko (sapatos) mó: ko (joelho). No entanto, as vogais pronunciadas desta forma nem sempre podem ser seguidas por dois pontos.
Jacobsen descreveu em detalhes várias alternâncias de vogais que distinguiam as comunidades de fala de Washo..[7]
Consoantes
editarSequências não representadas por uma única letra Washo quase sempre tendem a ocorrer em palavras oriundas do inglês, como o nd em k'indí (candy).[8][9]
Ortografia | IPA | Exemplo |
---|---|---|
b | /b/ | bá:ćuk 'munição'; dá:bal 'artemísia (planta)' |
d | /d/ | da:bal 'artemísia (planta)'; dá:daʔ 'leito' |
g | /ɡ/ | gá:zagaza 'tipo de ave'; t'á:gim 'pinhão' |
p | /p/ | paćil 'pus'; lapɨš 'meu corpo'; dawmaʔgá:p 'local molhado place' |
t | /t/ | taniw 'miwak'; data:gil 'sua faca'; t'á:t'at 'pega (ave)' |
k | /k/ | kaŋa 'caverna'; maku 'dente arrancado'; bá:ćuk 'munição' |
p' | /pʼ/ | p'á:wa 'no vale'; dá:p'á:pɨš 'seus pulmões' |
t' | /tʼ/ | t'á:gim 'pinhão'; t'á:t'at 'pega' |
k' | /kʼ/ | k'á:ŋi 'rugido dele'; k'á:k'aʔ 'garça' |
ć | /t͡sʼ/ | ćámduʔ 'chokecherry'; dićáćaʔ 'meu queixo' |
s | /s/ | súkuʔ 'cão'; ya:saʔ 'de novo'; ʔayɨs 'antílope' |
z | /d͡z/ | gá:zagaza 'tipo de ave' |
š | /ʃ/ | šáwaʔ 'abeto'; dišášaʔ 'irmã de minha mãe'; wá:laš 'pão' |
h | /h/ | hélmeʔ 'três'; ʔa:huyi 'eles estão em pé' |
m | /m/ | má:mayʔ ' cesta d cônica, usada para pinhões '; bá:muš 'muskrat'; t'á:gim 'pinhão' |
n | /n/ | nanholwa 'groselha'; á:ni 'formiga' |
ŋ | /ŋ/ | ŋáwŋaŋ 'criança' |
l | /l/ | lak'aʔ 'um'; wá:laš 'pão'; paćil 'pus' |
w | /w/ | wá:laš 'pão; p'a:wa 'no vale'; daʔaw 'lago' |
y | /j/ | ya:saʔ 'de novo'; dayáʔ 'folha' |
Ŋ | /ŋ̊/ | dewŊétiʔ 'descida' |
M | /m̥/ | Mášdɨmmi 'ele está se escondendo' |
L | /l̥/ | madukwáwLu 'girassol' |
W | IPA w̥ | Wáʔi 'ele é quem está fazendo isso' |
Y | IPA j̊ | t'á:Yaŋi 'ele está caçando' |
ʔ | /ʔ/ | daʔaw 'lago'; dá:daʔ |
Na área em torno de Woodfords, Califórnia, o dialeto Washo local substituiu [θ] por /s/, assim, sí:su 'ave' é escrito como thithu.[10]
Notas
editar- ↑ a b Victor Golla (2011) California Indian Languages
- ↑ Laurie Bauer, 2007, The Linguistics Student’s Handbook, Edinburgh
- ↑ «The Washo Project: wá:šiw ʔítlu». The Washo Project. University of Chicago. Consultado em 9 de setembro de 2011
- ↑ d'Azevedo 1986
- ↑ Lyle Campbell. American Indian Languages: The Historical Linguistics of Native America. (1997, Oxford, pg. 125).
Marianne Mithun. The Languages of Native North America (1999, Cambridge, pg. 557) - ↑ The Washo Project: Vowels
- ↑ William H. Jacobsen, Jr. 1978. "Washo Internal Diversity and External Relations," Selected Papers from the 14th Great Basin Anthropological Conference. Ed. Donald R. Tuohy. Ballena Press Publications in Archaeology, Ethnology and History 11. Socorro, New Mexico. Pages 115-147.
- ↑ The Washo Project: Consonants
- ↑ Washoe Language Lessons
- ↑ Caitlin Keliiaa. 2012. "Washiw Wagayay Maŋal: Reweaving the Washoe Language," University of California, Los Angeles MA thesis.
Bibliografia
editar- Bright, William O. “North American Indian Languages.” Encyclopædia Britannica 2007: 762-767.
- Campbell, Lyle. (1997). American Indian languages: The historical linguistics of Native America. New York: Oxford University Press. ISBN 0-19-509427-1.
- d'Azevedo, Warren L. (1986). "Washoe" in Great Basin, Warren L. d'Azevedo, ed. pp. 466–498. Volume 11 in Handbook of North American Indians, William C. Sturtevant, general editor. Washington, DC: Smithsonian Institution. ISBN 0-16-004578-9/0160045754.
- Goddard, Ives (Ed.). (1996). Languages. Handbook of North American Indians (W. C. Sturtevant, General Ed.) (Vol. 17). Washington, D. C.: Smithsonian Institution. ISBN 0-16-048774-9.
- Greenberg, Joseph H. Language in the Americas (Stanford: Stanford University Press, 1987).
- Jacobsen, William Jr. (1964). A Grammar of the Washo Language. Berkeley: University of California Press. Consultado em 27 de setembro de 2016
- Jacobsen, William H. (1986). "Washoe Language" in Great Basin, Warren L. d'Azevedo, ed. pp. 107–112. Volume 11 in Handbook of North American Indians, William C. Sturtevant, general editor. Washington, DC: Smithsonian Institution. ISBN 0-16-004578-9/0160045754.
- Jacobsen, William H. 1996. Beginning Washo. Occasional Papers 5: Nevada State Museum.
- Kaufman, Terrence. 1988. "A Research Program for Reconstructing Proto-Hokan: First Gropings." In Scott DeLancey, ed. Papers from the 1988 Hokan–Penutian Languages Workshop, pp. 50–168. Eugene, Oregon: Department of Linguistics, University of Oregon. (University of Oregon Papers in Linguistics. Publications of the Center for Amerindian Linguistics and Ethnography 1.)
- Mithun, Marianne. (1999). The languages of Native North America. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-23228-7 (hbk); ISBN 0-521-29875-X.
- The Washo Project. The University of Chicago, 2008. Web. 4 May 2011
- Yu, Alan C. L. “Quantity, stress and reduplication in Washo.” Phonology 22.03 (2006): 437.
- Dangberg, Grace. 1927. Washo texts. University of California Publications in American Archaeology and Ethnology 22:391-443.
- Kroeber, Alfred L. 1907. The Washo language of east central California and Nevada. University of California Publications in American Archaeology and Ethnology 4:251-317.
Ligações externas
editar- University of Chicago Washo Revitalization Project
- Reno Linguist Foremost Expert on Washoe Language
- Washo basic lexicon at the Global Lexicostatistical Database
- Washo language overview at the "Survey of California and Other Indian Languages"
- OLAC resources in and about the Washo language
- Washo em Omniglot.com
- Washo em Native Languages
- Washo em Linguistics Berkeley
- Washo em Ethnologue