Leopoldo, Conde de Siracusa
Leopoldo de Bourbon-Duas Sicílias, Conde de Siracusa (em italiano: Leopoldo Beniamino Giuseppe di Borbone-Due Sicilie; Palermo, 22 de maio de 1813 – Pisa, 4 de dezembro de 1860), foi Príncipe das Duas Sicílias, Conde de Siracusa, Vice-Almirante da Marinha Real das Duas Sicílias e Vice-Rei da Sicília. O quinto filho do rei Francisco I e de sua segunda esposa, a infanta Maria Isabel da Espanha.[1]
Leopoldo | |
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Príncipe das Duas Sicílias Conde de Siracusa | |
Retrato por Nadar, 1858 | |
Nascimento | 22 de maio de 1813 |
Palácio Real de Palermo, Palermo, Duas Sicílias | |
Morte | 4 de dezembro de 1860 (47 anos) |
Pisa, Toscana, Itália Central | |
Sepultado em | Basílica de Santa Clara, Nápoles |
Nome completo | |
Leopoldo Beniamino Giuseppe de Bourbon-Duas Sicílias | |
Cônjuge | Maria Vitória de Saboia |
Descendência | Maria Isabel das Duas Sicílias |
Casa | Bourbon-Duas Sicílias |
Pai | Francisco I das Duas Sicílias |
Mãe | Maria Isabel da Espanha |
Religião | Catolicismo |
Biografia
editarLeopoldo foi o quinto filho de Francisco, Duque da Calábria (depois Francisco I das Duas Sicílias) e sua segunda esposa, a infanta Maria Isabel da Espanha.[2][3] Com a criação do Reino das Duas Sicílias, em 1816, Leopoldo, então com três anos de idade, recebeu o título de Conde de Siracusa.
Com a morte de seu pai, em novembro 1830, seu irmão mais velho tornou-se rei, como Fernando II, e nomeou-o seu lugar-tenente na Sicília.[4][5] Como governador em Palermo, ele comandou importantes reformas, conquistando a confiança e a estima dos liberais.[6][3] Nunca se soube os reais motivos que levaram Fernando II a convocar repentinamente Leopoldo de volta à corte, em 1835, mas é certo que até Metternich havia ouvido rumores sobre as intrigas envolvendo os liberais sicilianos com a França e a Inglaterra para tornar o príncipe, senão um rei constitucional, ao menos um vice-rei com amplos poderes.[3] Temendo sua popularidade e o desejo separatista da Sicília, o rei teria decidido destituir o irmão do posto que ocupava e enviá-lo em viagem ao exterior.[7]
Essas questões teriam sido consideradas quando aventou-se a possibilidade do casamento de Leopoldo com sua prima, a princesa Maria Cristina de Orléans, filha do rei Luís Filipe I de França.[3] O rei francês aprovava a união, tendo escrito ao príncipe de Cassaro, presidente do conselho de ministros napolitano que desejava "ir até a Sicília e lá dar o reino à sua segunda filha, como fizera na Bélgica".[3] Fernando II opôs-se firmemente ao casamento e sua relação com Leopoldo terminou por desgastar-se. Então, foram retomadas as negociações de casamento com a princesa Maria Vitória de Saboia, irmã do príncipe de Carignano.[3][8]
Leopoldo e Maria Vitória casaram-se em Nápoles, em 16 de junho de 1837, mas a união não foi feliz. Conservadora, religiosa ao extremo e habituada ao rigor da corte de Turim, a princesa não compreendia o marido e se escandalizava com seu ateísmo, seu inconformismo e sua vida dissipada.[3] O casal teve apenas uma filha, Maria Isabel, que morreu menos de um ano depois de seu nascimento, em 1838.[2] A partir de então, o casal passou a viver separadamente e Maria Vitória levava uma vida de quase reclusão no Palácio de Chiaia.[9]
Com Maria Vitória de Saboia:
- Maria Isabel Bourbon-Duas Sicílias (23 de março de 1838 - 24 de março de 1838)
Definido por Benedetto Croce como um "defensor constante da liberdade", Leopoldo encabeçou, antes mesmo das revoluções de 1848, uma oposição interna ao reacionarismo bourbônico.[3] Apesar de suas divergências políticas, o príncipe era apontado como o irmão preferido de Fernando II.[10] Entretanto, a reconciliação definitiva entre eles só ocorreu por volta de 1857, após a tentativa de regicídio por Agesilao Milano e as provas de afeto do rei durante a enfermidade sofrida pelo príncipe.[3]
Após a morte de Fernando II, em maio de 1859, Leopoldo passou a defender o estreitamento dos laços com o Reino da Sardenha.[11] A despeito do relacionamento frio com seu sobrinho, o rei Francisco II, e da baixa impressão sobre seu início de reinado, o príncipe incentivou-o a fazer concessões liberais e estabelecer uma aliança militar com os Saboia.[3] [12][13][14][nota 1] Finda qualquer possibilidade de entendimento com o Piemonte e frente ao avanço das tropas de Garibaldi, Leopoldo enviou duas cartas ao sobrinho, exortando-o a abandonar dignamente a coroa e evitar mais derramamento desnecessário de sangue.[3][16] Em 31 de agosto, embarcou no navio sardo Costituzione, com destino a Gênova e depois Turim.[3] Após uma breve estadia em Paris, Leopoldo estabeleceu-se em Pisa, morrendo pouco depois, em 4 de dezembro de 1860.[3]
Títulos e honrarias
editarTítulos e estilos
editar- 22 de maio de 1813 – 12 de dezembro de 1816: Sua Alteza Real, o Príncipe Leopoldo de Nápoles e Sícilia
- 12 de dezembro de 1816 - 4 de dezembro de 1860: Sua Alteza Real, o Conde de Siracusa
Honrarias
editarCavaleiro da Ilustre e Real Ordem de São Januário
Cavaleiro da Ilustre e Real Ordem de São Fernando e do Mérito
Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro
Cavaleiro da Ordem do Espírito Santo
Grã-cruz da Ordem de Carlos III
Cavaleiro da Ordem Suprema da Santíssima Anunciação
Cavaleiro da Ordem da Águia Negra
Cavaleiro da Ordem do Rei de França
Ancestrais
editarNotas
Referências
- ↑ «BORBONE DELLE DUE SICILIE». www.sardimpex.com. Consultado em 23 de março de 2022
- ↑ a b Lundy, Darryl. «Leopoldo di Borbone, Principe di Borbone delle Due Sicilie». The Peerage. Consultado em 26 de Dezembro de 2014
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Moscati, Ruggero (1971). «BORBONE, Leopoldo di, conte di Siracusa». Dizionario Biografico degli Italiani - Volume 12. Consultado em 26 de Dezembro de 2014
- ↑ Acton 1961, p. 48.
- ↑ Morea 1841, p. 370.
- ↑ Acton 1961, p. 78.
- ↑ Acton 1961, p. 79.
- ↑ «Atto Sovrano permettente al real Principe D. Leopoldo Borbone Conte di Siracusa di contrarre matrimonio colla Serenissima Principessa D. Maria Vittoria Luigia Filiberta di Savoia». Collezione delle leggi e de'decreti reali del Regno delle Due Sicilie - Anno 1837 - Semestre I (em italiano). Nápoles: Stamperia Reale. 1837. 140 páginas. Consultado em 23 de julho de 2018
- ↑ Acton 1961, p. 82.
- ↑ Acton 1961, p. 342.
- ↑ Acton 1961, p. 388.
- ↑ Acton 1961, p. 407.
- ↑ Acton 1961, p. 469.
- ↑ Acton 1961, p. 471.
- ↑ Di Fiore 2010, p. 137.
- ↑ a b Grasso, Alfonso. «La lettera del conte di Siracusa, Leopoldo di Borbone del 24 agosto 1860». Centro Culturale e di Studi Storici "Brigantino - il Portale del Sud" (em italiano). Nápoles e Palermo. Consultado em 23 de julho de 2018
Bibliografia
editar- Acton, Harold (1961). The Last Bourbons of Naples (1825-1861). Londres: St Martin's Press. ASIN B0007DKBAO
- Di Fiore, Gigi (2010). «Capítulo 4: Corruzione e cinismo». Controstoria dell'Unità d'Italia: fatti e misfatti del Risorgimento. Milão: Rizzoli. p. 137. ISBN 978-88-58-61514-0
- Morea, Giuseppe, ed. (1841). La chiave della collezione delle leggi e de'decreti reali del Regno delle Due Sicilie dal 1º gennaio 1824 al 31 dicembre 1837. Nápoles: Reale Tipografia della Guerra