Les Parents terribles

filme de 1948 dirigido por Jean Cocteau

Les Parents terribles é um filme francês de 1948 escrito e dirigido por Jean Cocteau, que adaptou para o cinema peça teatral própria homônima. Cocteau usou o mesmo elenco que conseguira êxito nos palcos de Paris em 1946 quando do relançamento do espetáculo. Em inglês ficou conhecido também com o título The Storm Within. A peça teve outra adaptação, feita para a TV francesa em 1980, dessa vez com Jean Marais no papel de Georges.

Les Parents terribles
O Pecado Original[1] (BRA)
 França
1948 •  pb •  100 min 
Género drama
Direção Jean Cocteau
Roteiro Jean Cocteau
Elenco Jean Marais
Yvonne de Bray
Gabrielle Dorziat
Marcel André
Josette Day
Idioma francês

Elenco

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Bastidores

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A peça de Cocteau Les Parents terribles foi apresentada pela primeira vez em Paris em 1938, mas as temporadas sofreram com várias atribulações, primeiro pela ação da censura e depois devido a Guerra. Em 1946 foi relançada com uma produção que apresentava muitos atores que Cocteau originariamente pensara para os papeis, principalmente o trio formado por Yvonne de Bray, Gabrielle Dorziat e Jean Marais. Cocteau disse que escolheu filmar essa peça por várias razões: "Primeiro, para deixar gravado as atuações de atores incomparaveis; segundo, poder se misturar e ver as faces deles de perto enquanto representavam, ao invés de distante do palco. "Eu queria olhar pelo buraco da fechadura e surprendê-los com as lentes de cinema", disse[2].

Sinopse

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Em um enorme apartamento o casal de meia-idade Yvonne e Georges mora com o filho deles de 22 anos de idade, Michel. Com eles vive a irmã de Yvonne, Léonie ("Léo"), que fora namorada de Georges antes dele trocá-la por Yvonne e se casar com ela. Yvonne é uma reclusa semi-inválida, dependente de insulina, com um amor possessivo pelo filho (que a chama de "Sophie", demonstrando também grande afeição por ela); Georges é deixado de lado e se distrai trabalhando em invenções excêntricas. Quem acaba por manter uma certa ordem familiar é Léo que descreve a moradia como uma tenda cigana ("la roulotte"). Certo dia Michel chega em casa e avisa que se apaixonou por uma jovem de 25 anos, Madeleine. Isso causa grande hostilidade em seus pais, principalmente por parte de Georges que percebe que Madeleine é a mulher que se tornara sua amante meses antes. Ele confessa a Leo sobre o problema e a mulher decide ajudá-lo num plano para forçar Madeleine a deixar Michel, o que também conta com o apoio de Yvonne que não quer perder as atenções do filho.

Produção

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Cocteau tomou a importande decisão de fazer com que o filme fosse fiel a peça, sem desvios para a adaptação (como ele tinha aceitado fazer antes em L'Aigle à deux têtes). Não foram escritos diálogos adicionais mas houve podas no texto teatral, para maior concentração dramática [3]. Ele contudo reiventou a forma da atuação teatral para o cinema, utilizando-se corajosamente e com frequência, de grandes close-ups dos atores. E aproveitou bastante a câmera móvel que vagava pelos diferentes cômodos do apartamento, enfatizando a atmosfera claustrofóbica do cenário [4]. A mudança do teatro para o cinema foi um desafio apreciado por Cocteau. Ele escreveu: "O que é excitante no cinema é que não existe a sintaxe. Você tem que inventar uma a medida que os problemas aparecem. Que liberdade para os artistas e que resultados se pode conseguir!" [5].

Outra significativa contribuição para a atmosfera do filme foi dada pela direção artística de Christian Bérard que preencheu os espaços do apartamento com objetos e peças decorativas - móveis pesados e estranhos, pilhas de enfeites e ornamentos, quadros tortos nas paredes, roupas amontoadas, camas desfeitas e muita poeira - que demonstravam o modo que viviam os personagens [3].

Cocteau, contudo, refutou alguns críticos que consideraram o filme como realista, alegando que nunca conhecera uma família como a que mostrara, e insistia que foi uma "pintura daquelas de tipo mais imaginativo" [6].

As filmagens foram realizadas entre 28 de abril e 3 de julho de 1948 no Estudio Francœur. O assistente de direção de Cocteau foi Raymond Leboursier, que foi auxiliado por Claude Pinoteau (não creditado).

No momento da filmagem da cena final (quando o apartamento vai sendo deixado à distância), alguns trancos da câmera deixaram a imagem tremida. Apesar da cena ter sido refilmada, Cocteau viu uma virtude no problema e preferiu ficar com a cena original, adicionando o rangido de rodas de carruagem acompanhado de algumas palavras (ditas por ele mesmo) para sugerir um efeito deliberado:[7] "E a caravana continua em seu caminho. Os ciganos não param". ["Et la roulotte continuait sa route. Les romanichels ne s'arrêtent pas."].

Recepção dos críticos

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Após a estreia do filme na França em dezembro de 1948, a crítica especializada foi esmagadoramente favorável a Cocteau que foi repetidamente congratulado por ter conseguido um filme original a partir de uma peça teatral: por exemplo "Isto é que é conhecido como puro cinema...A correspondência entre imagem e texto nunca fora tão completa, tão convincente" [8].

André Bazin escreveu uma resenha detalhada do filme tomando como base a ideia do "puro cinema" e analisou a forma como Cocteau tinha conseguido ser bem-sucedido ao criar a partir de um material dos mais anti-cinematográfico imagináveis. Bazin aponta três pontos que permitiram essa transição: Primeiro, a confiança e a harmonia existente entre os atores, que atuaram juntos com os mesmos papeis antes e muitas vezes no palco, hábeis para fazer dos personagens uma segunda natureza própria que lhes permitissem conseguir manter a intensidade das atuações mesmo com a fragmentação característica do processo de filmagem. Segundo, Cocteau demonstra liberdade incomum nas escolhas das posições e movimentos da câmera, raramente recorrendo ao convencional uso dos ângulos inversos para as cenas de diálogos, preferindo introduzir close-ups ou filmagens de longe com mão segura que nunca perturba o andamento da cena; o espectador é sempre colocado na posição de testemunha da ação (como na plateia do teatro) e não um participante, assim como um voyeur, graças a intimidade conseguida com o "olhar" da câmara. Terceiro, Bazin nota a sutileza psicológica de Cocteau na escolha das posições da câmera para dar respostas ao seu "espectador ideal". Ele cita como exemplo a cena em que Michel conta a Yvonne sobre a moça que ama: os rostos são colocados um sobre o outro e ambos voltados para a audiência, assim como no palco; mas no filme Cocteau usa um close-up que mostra apenas os olhos de Yvonne em baixo e a boca falando de Michel, em cima, concentrando a imagem para um grande impacto emocional. Em todos esses aspectos, a teatralidade da peça não só foi preservada mas intensificada [9].

O proprio Cocteau considerava Les Parents terribles como seu melhor filme, do ponto de vista da técnica utilizada [10]. Essa opinião é frequentemente endossada por críticos e historiadores de cinema [11][12].

Referências

  1. O Pecado Original no CinePlayers (Brasil)
  2. Francis Steegmuller, Cocteau: a biography. (London: Constable, 1986.) p.474
  3. a b Gérard Lieber, "La Mise-en-scène des voix dans Les Parents terribles", in Le Cinéma de Jean Cocteau... actes du colloque...: textes réunis par Christian Rolot... (Montpellier: Centre d’études littéraires françaises du XXème siècle, Université Paul-Valéry, 1994.) pp.51-52
  4. Jean Cocteau, Entretiens sur le cinématographe: édition établie par André Bernard et Claude Gauteur. (Paris: Belfond, 1973.) p.56: "Tout en me promenant à travers des chambres, je conservais l'atmosphère enfermée de la pièce".
  5. Jean Cocteau, in Écran français, 18 de maio de 1948; citado em Claude-Jean Philippe, Jean Cocteau. (Paris: Seghers, 1989.) p.164: "Ce qu'il y a de passionant au cinéma, c'est qu'il n'y a pas de syntaxe. On est obligé de l'inventer au fur et à mesure que les problèmes se posent. Quelle liberté pour l'artiste et quels résultats on peut obtenir!"
  6. Jean Cocteau, Entretiens sur le cinématographe: édition établie par André Bernard et Claude Gauteur. (Paris: Belfond, 1973.) p.57: "D'abord, Les Parents terribles ne sont pas un film réaliste puisque je n'ai jamais connu aucune famille vivant de la sorte. C'est la peinture la plus imaginative qui soit "
  7. Jean Marais, Histoires de ma vie. (Paris: Albin Michel, 1975.) p.308.
  8. "...c'est aussi ce qu'il est convenu d'appeler du cinéma pur... La correspondance entre l'image et la parole n'a jamais été aussi complète, aussi probante." - Robert Chazal, in Cinémonde, 6 de dezembro de 1948. Veja também Henri Magnan, em Le Monde, 2 de dezembro de 1948, e François Chalais, em Carrefour, 8 de dezembro de 1948. Todas as citações são de Claude-Jean Philippe, Jean Cocteau. (Paris: Seghers, 1989.) p.165.
  9. André Bazin, "Du théâtre transformé par la magie blanche et noire en pur cinéma", em L'Écran français, 1948; republicado em René Gilson, Jean Cocteau, cinéaste. (Paris: Éditions des Quatre-Vents, 1988.) pp.121-124.
  10. "Je dois admettre que les Parents terribles sont, cinématographiquement parlant, ma grande réussite." ["Eu devo admitir que Les Parents terribles é, cinematograficamente falando, meu maior êxito".] - Jean Cocteau, Entretiens sur le cinématographe: édition établie par André Bernard et Claude Gauteur. (Paris: Belfond, 1973.) p.55.
  11. "This is generally considered by connoisseurs Cocteau's greatest technical accomplishment in cinema...": Francis Steegmuller, Cocteau: a biography. (London: Constable, 1986.) p.474.
  12. Georges Sadoul, Le Cinéma français 1890/1962. (Paris: Flammarion, 1962.) p.106: "Durant l'après-guerre, son meilleur film avait été les Parents terribles..." ["Após a Guerra, o melhor filme dele foi Les Parents terribles...]"
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