Lesbianismo político
O lesbianismo político é um fenômeno dentro do feminismo, principalmente segunda onda do feminismo e o feminismo radical; inclui, mas não se limita a, separatismo lésbico. O lesbianismo político afirma que a orientação sexual é uma escolha política e feminista, defendendo a lesbianidade como uma alternativa positiva à heterossexualidade para as mulheres[1] como parte da luta contra o sexismo e o machismo.[2][3]
História
editarO lesbianismo político se originou no final dos anos 1960 entre as feministas radicais da segunda onda como uma forma de combater o sexismo e a heterossexualidade compulsória. Sheila Jeffreys ajudou a desenvolver o conceito quando coescreveu em 1981 "Love Your Enemy? The Debate Between Heterosexual Feminism and Political Lesbianism".[4] Elas argumentaram que as mulheres deveriam abandonar o apoio à heterossexualidade e parar de dormir com homens, enquanto encorajavam mulheres a remover os homens "de suas camas e cabeças".[5] Embora a ideia principal do lesbianismo político seja estar separada dos homens, isso não significa necessariamente que as lésbicas políticas devam dormir com mulheres; algumas escolhem ser celibatárias ou se identificam como assexuais. A definição do Leeds Revolutionary Feminist Group [en] de uma lésbica política é "uma mulher identificada como mulher que não transa com homens". Proclamaram os homens como inimigos e as mulheres que se relacionavam com eles como colaboradoras e cúmplices de sua própria opressão. O comportamento heterossexual é visto como a unidade básica da estrutura política do patriarcado, lésbicas que rejeitam o comportamento heterossexual, portanto, desafiam o sistema político estabelecido.[6]
Ti-Grace Atkinson, uma feminista radical que ajudou a fundar o grupo The Feminists, é creditada com a frase que veio a personificar o movimento: 'Feminismo é a teoria; lesbianismo é a prática'.[7][8]
Separatismo lésbico
editarO feminismo separatista é uma forma de feminismo radical que sustenta que a oposição ao patriarcado é melhor feita focando exclusivamente em mulheres e meninas.[9] Algumas feministas separatistas não acreditam que os homens possam fazer contribuições positivas ao movimento feminista e que mesmo homens bem-intencionados reproduzam a dinâmica do patriarcado.[10]
Charlotte Bunch [en], uma das primeiras membras do The Furies Collective [en], percebia o feminismo separatista como uma estratégia, um período de "primeiro passo" ou retirada temporária do ativismo convencional para atingir objetivos específicos ou aumentar o crescimento pessoal.[11] The Furies recomendam que as lésbicas separatistas se relacionem "apenas (com) mulheres que cortam seus laços com o privilégio masculino" e sugerem que "enquanto as mulheres ainda se beneficiarem da heterossexualidade, receberem seus privilégios e segurança, elas em algum momento terão que trair suas irmãs, especialmente irmãs lésbicas que não recebem esses benefícios".[12]
Construções sociais da sexualidade e crítica
editarAlgumas teorias feministas sobre a sexualidade evitavam a fixação biológica e abraçavam a construção social como base da sexualidade. No entanto, esta ideia colocou mais questões sobre o tema da sexualidade e lesbianismo, e a sustentabilidade a longo prazo de uma sociedade puramente lésbica sem homens ou crianças. Se a sexualidade pudesse ser uma construção da natureza humana, pouco espaço seria dado para a compreensão da natureza da formação histórica da natureza humana, especialmente se a natureza histórica do homem ou da mulher aumentasse a heterossexualidade.[13] A falta de clareza teórica sobre lesbianismo e sexualidade torna-se mais profunda à medida que a sexualidade é vista como muito mais do que uma escolha.[14][15]
Ver também
editar- Antinatalismo
- Bissexualidade
- Construção social de gênero
- Feminismo lésbico
- Fluidez sexual
- Homossexualidade latente
- Lesbofeminismo
- Lesbofobia
- Proponentes
Referências
- ↑ Bindel, Julie (27 de março de 2004). «Location, location, orientation». The Guardian
- ↑ Krebs, Paula. «Lesbianism as a Political Strategy». Off Our Backs 17.6. ProQuest 197156630
- ↑ Santos, Ana Cristina (novembro de 2005). «Heteroqueers contra a heteronormatividade: Notas para uma teoria queer inclusiva». Consultado em 27 de junho de 2023
- ↑ Love Your Enemy?: The Debate Between Heterosexual Feminism and Political Lesbianism (em inglês). [S.l.]: Onlywomen Press. 1981
- ↑ Bindel, Julie (30 de janeiro de 2009). «My sexual revolution». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 27 de junho de 2023
- ↑ Bunch, Charlotte. «Lesbians in Revolt». The Furies: Lesbian/Feminist Monthly. Consultado em 12 de maio de 2014
- ↑ Koedt, Anne. «Lesbianism and Feminism». Arquivado do original em 29 de abril de 2015
- ↑ "Feminism is the theory, lesbianism is the practice." (Chicago Women's Liberation Union pamphlet, Lesbianism and Feminism, 1971; Stevi Jackson, Sue Scott, Feminism and Sexuality: A Reader, Columbia University Press, 1996, p. 282)
- ↑ Skelton, Christine; Francis, Becky (17 de dezembro de 2008). Feminism and 'The Schooling Scandal' (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis
- ↑ Hoagland, Sarah Lucia (1988). Lesbian Ethics: Toward New Value (em inglês). [S.l.]: Institute of Lesbian Studies
- ↑ Davis, Flora. Moving the Mountain: The Women's Movement in America since 1960, University of Illinois Press, 1999, ISBN 0-252-06782-7, p271
- ↑ Bunch, Charlotte/The Furies Collective, "Lesbians in Revolt", in The Furies: Lesbian/Feminist Monthly, vol. 1, Janeiro de 1972, pp.8–9
- ↑ Ramazanoglu; Routledge, Feminism and the Contradictions of Oppression, Routledge, 1989. pp 84–86
- ↑ «Answers to Your Questions For a Better Understanding of sexual orientation & Homosexuality». American Psychological Association. Consultado em 13 de maio de 2014
- ↑ «Psychiatry and LGB People». Royal College of Psychiatrists. Consultado em 13 de maio de 2014