Linha Internacional de Data
A Linha Internacional de Data (LID), também chamada de Linha Internacional de Mudança de Data ou apenas Linha de Data, é uma linha imaginária na superfície terrestre que implica uma mudança de data obrigatória ao cruzá-la. Ao cruzar a linha de oeste (direção do pôr-do-sol) para leste (direção da nascente) volta-se um dia, ou seja, é necessário atrasar um dia no calendário e, ao passar de leste para oeste ganha-se um dia, ou seja é necessário adicionar um dia no calendário.[1]
A primeira observação relacionada à LID ocorreu na expedição realizada por Fernão de Magalhães[2] (1519-1522), a primeira a circum-navegar o planeta. Os marinheiros sobreviventes, no retorno a Espanha, tinham a certeza de qual era o dia da semana, como confirmado por vários registros de navegação. Entretanto, os que estavam em terra insistiam que o dia era diferente. Embora possamos hoje entender o que ocorreu, o fenômeno causou grande surpresa na época, que fez com que fosse enviada uma delegação especial ao Vaticano para contar ao Papa a odisseia temporal ocorrida. O Papa Adriano VI achava que, assim, era possível voltar no tempo e até chegou a sondar a proibição da Linha de Data, mas no fim compreendeu tudo e aceitou a "regra".
Referências culturais
editarA linha de data é um argumento central no livro A Ilha do Dia Anterior,[3] de Umberto Eco, que mostra um protagonista repousando num navio próximo a uma ilha do outro lado da Linha Internacional de Data. Incapaz de nadar, a personagem incorre em especulações físicas, metafísicas e religiosas acerca da Linha de Data.
“ | "Meia-noite de sexta-feira, aqui no navio, é meia-noite de quinta-feira na ilha. Se da América para a Ásia viajas, perdes um dia; se, no sentido contrário viajas, ganhas um dia: eis o motivo por que o [navio] Daphne percorreu o caminho da Ásia, e vós, estúpidos, o caminho da América. Tu és agora um dia mais velho do que eu! Não é engraçado?" | ” |
Curiosamente existem duas ilhas que serviram de inspiração para Umberto Eco. A Ilha Diomedes Maior, conhecida como "Ilha do Amanhã", e a Ilha Diomedes Menor, que dista 4 km de si. No meio das 2 ilhas passa a Linha Internacional de Data. Ou seja, mesmo que a distância entre as duas ilhas seja de apenas 4 km, qualquer percurso entre elas gera uma diferença de 24 horas.
Antes de Eco, o fenômeno da mudança de data foi explorado por Júlio Verne em "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias", em que Phileas Fogg retorna a Londres após uma viagem ao redor do mundo. Viajando no sentido contrário ao de Fernão de Magalhães, o viajante pensa estar num dia posterior à data verdadeira[4] achando que havia perdido a aposta de chegar exatamente 80 dias após a sua partida (daí o título do livro). O que ocorreu foi que para ele se passaram 80 dias mas para quem estava em Londres, apenas 79 dias. Um episódio semelhante ocorre no livro "Os Vinte e Um Balões" (The Twenty-One Balloons) de William Pène du Bois.
Referências
- ↑ «International Date Line (IDL)». www.timeanddate.com (em inglês). Consultado em 31 de dezembro de 2020
- ↑ «Fernão de Magalhães». Consultado em 23 de outubro de 2008. Arquivado do original em 1 de dezembro de 2008
- ↑ Umberto Eco. Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 260
- ↑ «História com Ciência». Consultado em 23 de outubro de 2008. Arquivado do original em 31 de janeiro de 2009
Bibliografia
editar- Verne, Júlio, A Volta ao Mundo em 80 Dias
- Pigafetta, Antonio. A Primeira Viagem ao Redor do Mundo. Porto Alegre: L&PM, 1986. Coleção Descobertas. ISBN 8525414328
Ligações externas
editar- Domínio Público Download gratuito do livro "A Volta ao Mundo em 80 Dias"