Linhas de Torres Vedras

As Linhas de Torres Vedras, ou simplesmente Linhas de Torres e ainda Linhas de Defesa a Norte de Lisboa são o conjunto de 152 fortificações e outros trabalhos defensivos, construídas entre 1809 e 1812, situados na península de Lisboa. No contexto da Guerra Peninsular foram concebidas com a finalidade de impedir um exército invasor de atingir a capital do Reino de Portugal ou, em caso de derrota, permitir o embarque, em segurança, do Exército Britânico em retirada. A ordem para a sua construção foi dada em Outubro de 1809 por Arthur Wellesley, então comandante do exército anglo-luso. Na Terceira Invasão Francesa, as Linhas de Torres Vedras impediram o exército de André Masséna de atingir Lisboa e acabaram por provocar a sua retirada de Portugal.[1]

As Linhas de Torres Vedras.

Antecedentes

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A Segunda Invasão Francesa terminou com a retirada do II CE[2] do marechal Nicolas Jean de Dieu Soult para a Galiza. Wellesley tinha agora de se preocupar com o I CE do Marechal Victor, que se encontrava na Estremadura Espanhola e deu então início à Campanha de Talavera. A ameaça sobre as linhas de comunicações com Lisboa e a falta de apoio logístico por parte das autoridades espanholas obrigaram Wellesley a retirar para Portugal apesar da vitória obtida na Batalha de Talavera.

Frustrados os planos para a conquista de Portugal em 1809, Napoleão Bonaparte nomeou o marechal Massena comandante do novo “Exército de Portugal”, constituído por três corpos de exército, cerca de 65 000 homens.

Wellesley, já visconde Wellington, manteve o seu exército afastado da luta contra os franceses após a Campanha de Talavera, situação provocada pela falta de colaboração por parte das autoridades e dos generais espanhóis durante aquela campanha. A defesa da Andaluzia ficava entregue unicamente aos exércitos espanhóis. Por outro lado, Wellesley compreendia a situação de uma forma diferente das autoridades espanholas e as suas intenções tinham em conta os seguintes factoresː[3]

  • Para a defesa da Península Ibérica, considerava Portugal mais importante do que a defesa da Andaluzia e privilegiava especialmente o porto de Lisboa que proporcionava, nesta fase da guerra, as comunicações entre o seu exército e o Reino Unido;
  • Considerava que tinha melhores condições de defesa em Portugal e, nesse sentido, tinha já começado a construção das Linhas de Torres Vedras;
  • Considerava que tinha a obrigação de privilegiar a defesa de Portugal porque, ao contrário de Espanha, aquele reino colocou-se inteiramente nas mãos dos aliados e colocou todos os recursos, inclusive o exército, à sua disposição. Ao contrário do exército espanhol, o exército português tinha com ele uma relação de subordinação (Wellesley tinha recebido em Portugal, por decreto de 29 de abril de 1809, a patente de Marechal General “dos Exércitos Portugueses para dirigir as suas Operações quando combinados com o de Sua Majestade”[4]).

Por estas razões, Wellesley retirou as suas unidades para Portugal, onde se preparou para enfrentar mais uma invasão das tropas francesas.

A estratégia de Wellington

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Sir Arthur Wellesley, duque de Welington, pelo pintor britânico Thomas Phillips.
"O grande objectivo em Portugal é o domínio de Lisboa e do Tejo, e todas as medidas devem ser dirigidas para esse objectivo. Existe um outro, também relacionado com aquele primeiro objectivo, para o qual deveremos, igualmente, prestar atenção, a saber: o embarque das tropas britânicas, em caso de revés". Este texto é parte do documento em que Wellington ordenava a construção das Linhas de Torres Vedras.[5]

Os efectivos (das tropas regulares) dos exércitos francês e anglo-luso eram semelhantes, com alguma vantagem para os franceses, mas Wellington tinha de considerar a possibilidade de outras forças francesas, vindas da Estremadura espanhola, invadirem o território português por um eixo diferente do utilizado pelo principal exército invasor. Esta possibilidade iria obrigá-lo a dividir as suas forças e, por isso, apresentar-se-ia numa situação de inferioridade numérica perante o exército de Massena. Assim, seria difícil enfrentar o exército invasor numa batalha em campo aberto, em que as condições de terreno não favorecem significativamente nenhuma das partes. Quando se dá a Batalha do Buçaco, Wellington ocupa uma posição defensiva de primeira qualidade. É desta forma, tirando partido da morfologia do terreno, que deverá enfrentar o invasor.

Os exércitos têm de ser abastecidos dos meios necessários para a luta mas também de géneros alimentares para a sobrevivência das tropas. Na falta destes, o moral das tropas baixa, os combatentes enfraquecem e as doenças surgem com mais facilidade provocando, em situações prolongadas, um número de baixas muito elevado. O exército de Wellesley recebia por mar uma grande parte do que consumia. O porto de Lisboa tinha um papel muito importante neste processo de manter o exército apto para o combate. O exército francês, embora organizasse depósitos de géneros nos itinerários em que tal era possível, adquiria os seus géneros alimentares nos territórios em que se encontrava. Por esta razão, Wellington forçou a utilização de uma “política de terra queimada”. À medida que as tropas anglo-lusas retiravam iam abandonando às forças invasoras um território em que os recursos necessários à sua manutenção tinham sido retirados ou destruídos.

Wellington esperava, com estas medidas, forçar o exército invasor a abandonar Portugal. Mas tinha também de prever a possibilidade de não conseguir conter o avanço francês e, neste caso, colocava-se o problema de preservar o exército britânico. Era necessário criar condições defensivas que permitissem, na pior das hipóteses, retardar o avanço inimigo e proteger o embarque das forças britânicas. O local desse embarque deveria ser Lisboa.

Podem resumir-se as linhas de acção de Wellington durante a Terceira Invasão Francesa, da seguinte formaː[6]

  • Não aceitar batalha em campo aberto, com o risco de ser derrotado e o seu exército destruído;
  • Tirar o máximo partido da morfologia do terreno para impedir o inimigo de avançar até Lisboa;
  • Retirar ao inimigo a possibilidade de se alimentar no território em que se encontra por períodos prolongados;
  • Manter o porto de Lisboa como porta de entrada dos abastecimentos necessários à sobrevivência das sua tropas e até da população;
  • Criar condições para retirar por mar e assim preservar o seu exército, no caso de as medidas anteriores não serem suficientes para deter o inimigo.

Com estes objectivos foram construídas as Linhas de Torres Vedras. O exército francês não deveria conseguir ultrapassar este sistema defensivo, atrás do qual se encontrava o exército anglo-luso e parte importante da população do território entre os rios Mondego e Tejo. Detido frente a este obstáculo teria, ao fim de pouco tempo, a maior dificuldade em alimentar-se. Se recebesse reforços, essa dificuldade ainda seria mais acentuada. Não restaria outra alternativa aos franceses que retirarem para poderem sobreviver. Foi isso que sucedeu.

A construção das Linhas de Torres Vedras

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Tenente-Coronel Sir Richard Fletcher.

O oficial do exército de Wellington responsável pelos trabalhos de engenharia era o Coronel Richard Fletcher. No dia 20 de Outubro de 1809, Wellington entregou-lhe um memorando em que especificava a estrutura das Linhas de Torres Vedras.

O estudo do terreno em volta de Lisboa, com a finalidade de organizar posições defensivas que protegessem a capital do Reino e seus arredores, remonta, pelo menos, ao início do século XVII. Num trabalho publicado em 1608 considerava-se necessário implementar o sistema de defesa afastada de Lisboa interceptando as estradas que passavam em Cabeço de Montachique e em Mafra. Em 1807, Jean-Andoche Junot encarregou o coronel de engenharia Vincent de estudar a defesa de Lisboa e, na execução dessa tarefa, esteve presente o major de engenharia José Maria das Neves Costa, do Exército Português. Após a expulsão das tropas francesas foram feitas diligências pelas autoridades portuguesas no sentido de fazer o levantamento topográfico que servisse de base aos trabalhos da defesa de Lisboa. Nesta comissão estava novamente o major Neves e Costa.[7] Estes trabalhos, ainda muito incompletos, foram consultados por Wellington.[8]

Após a Batalha de Talavera, Wellington examinou com o coronel Fletcher os documentos que já existiam sobre a defesa de Lisboa e percorreu as principais posições que eram indicadas para a sua defesa. Após este reconhecimento escolheu a linha principal de defesa, como sendo a que passa por Forte da Casa (do lado do Tejo), Serra de Serves, Cabeço de Montachique, Mafra e foz do rio Safarujo (do lado do oceano Atlântico). Ficava assim definida uma linha de defesa com cerca de 40 quilómetros. Além desta linha foram organizadas posições à volta da Fortaleza de São Julião da Barra, com o objectivo de, guarnecidas por tropas portuguesas, protegerem o embarque das tropas britânicas no caso de não conseguirem deter as tropas francesas. Esta linha tinha cerca de 2 700 metros de comprimento.[9]

Além destas duas linhas defensivas, foram construídas obras avançadas que possibilitavam o controlo das principais vias de comunicação que conduziam a Lisboa: as posições de Castanheira, as de Monte Agraço e as de Torres Vedras. Estas obras apoiavam a entrada do exército de Wellington na linha de defesa que passava em Mafra e Montachique. O memorando de 20 de Outubro previa ainda a colocação de efectivos elevados naquelas posições (4 000 homens em Monte Agraço, 5 000 em Torres Vedras) assim como a colocação de forças em apoio da retirada destas tropas.[10] Aquele memorando continha também referências à distribuição das forças, das linhas de retirada, prioridades de construção, criação de obstáculos, pontos de sinalização (para as comunicações), e outras. Wellington marcou um certo número de posições, deixando ao critério de Fletcher a escolha das demais.[11]

Como o exército francês demorou mais tempo que o previsto a iniciar e executar a invasão, Welligton mandou construir mais obras entre as que se destinavam a formar apenas os postos avançados, de forma que acabou por se constituir uma nova linha de defesa. Assim, a primeira linha de defesa tinha início em Alhandra, passava por Monte Agraço, Torres Vedras e terminava na foz do rio Sizandro. A segunda linha, que inicialmente tinha sido pensada como linha principal, era a que nascia em Vialonga e se estendia, passando por Montachique e Mafra, até à foz do rio Safarujo. Manteve-se a linha à volta do Forte de São Julião e considera-se também como fazendo parte deste dispositivo, um conjunto de obras ao sul do Tejo, redutos e linhas de defesa contínuas, com cerca de 1 300 metros de comprimento, destinadas a evitar que forças inimigas que conseguissem posicionar bocas de fogo de artilharia na margem sul pudessem prejudicar o embarque das forças britânicas.

Em primeiro lugar, iniciaram-se as obras que deviam proteger o embarque das tropas britânicas. A seguir, tiveram início as obras de Torres Vedras e as de Monte Agraço. Outras, como a de Castanheira, só foram iniciadas em Janeiro de 1810. À medida que se iam construindo, as obras eram numeradas, o que nos permite conhecer a sequência da sua construção. Milhares de trabalhadores portugueses, de milícias e ordenanças, esforçaram-se para completarem estas obras. Este trabalho foi pago: os camponeses chegaram a receber, na altura de maior trabalho, 10 vinténs por dia e as milícias recebiam um terço deste valor.[12]

Este sistema defensivo tem sido descrito como um dos mais baratos investimentos e um dos segredos mais bem guardados na História Militar.[13] As construções eram conhecidas não apenas pelos militares que se encontravam por perto como por todos os que colaboraram na sua construção. O que quase ninguém tinha era a noção da dimensão do conjunto. O tenente Rice Jones, um dos engenheiros de Fletcher, numa carta dirigida ao pai, fala das obras a Norte de Lisboa mas a leitura da carta demonstra que ele não tinha ideia da extensão que as linhas viriam a ter.[14]

Descrição das Linhas de Torres Vedras

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A norte do Tejo foram, portanto, organizadas três linhas defensivas. Não se tratava de uma barreira contínua como a Muralha de Adriano ou a Grande Muralha da China. Era, antes, um misto de obras defensivas e de formações naturais do terreno. Ao todo eram 153 fortificações que, estando completamente guarnecidas, implicavam a utilização de 39 475 homens e 628 bocas de fogo de artilharia. Este conjunto de três linhas estava dividido em 8 distritos, cada um com o seu comando militarː[15]

  • A Primeira Linha era guarnecida por 18 683 homens e 319 bocas de fogo. Estava dividida em quatro distritos:
Distrito Guarnição
Homens Bocas de fogo de Artilharia
Distrito nº 1 - desde a posição (1)[16] na linha assente sobre o Tejo, que atravessa a planície de Alhandra, até ao Moinho do Céu (11), por cima da estrada da Arruda. 6 280 96
Distrito nº 2 - desde o forte do Passo (12), na escarpa rochosa por cima da estrada da Arruda, até ao forte avançado, à direita da estrada que segue para o Sobral (152). 3 090 55
Distrito nº 3 - desde o reduto para artilharia de campanha (151) na Patameira até ao reduto sul (29), perto de Enxara do Bispo. 1 900 24
Distrito nº 4 - desde o Forte Novo da Ordasqueira (149), por cima de Matacães, para defender a estrada de Runa, até à posição (113) na foz do Sizandro. 7 413 144
  • A Segunda Linha era guarnecida por 15.442 homens e 215 bocas de fogo. Estava dividida em três Distritos:
Distrito Guarnição
Homens Bocas de fogo de Artilharia
Distrito nº 5 - desde o reduto do Salgado (33), na margem do Tejo, à direita da posição de Vialonga, até ao reduto (19) na Serra da Ajuda. 3 502 72
Distrito nº 6 - desde a plataforma para artilharia, à direita (49), no desfiladeiro do Freixial, até ao reduto (73), na estrada de Mafra, Casal do Conto.[17] 5 640 73
Distrito nº 7 - desde Casal da Pedra (74), no desfiladeiro de Mafra, até ao reduto de S. Julião (97), junto à costa atlântica, a sul da Ericeira. 6 300 70
  • A Terceira Linha constituía um único distrito, o Distrito de Oeiras, e era guarnecida da seguinte forma:
Distrito Guarnição
Homens Bocas de fogo de Artilharia
Distrito nº 8 - desde a fortificação principal conhecida como "Alto Algueirão" (98), onde se encontra o actual quartel-general da NATO, até à posição (110), na linha que se estende para a direita do Forte das Maias. 5 350 94

As duas primeiras linhas estavam, assim, concebidas para barrar os quatro eixos definidos pelas quatro estradas que as atravessavam e por onde poderiam avançar as tropas francesas: Torres Vedras-Mafra, Torres Vedras-Montachique, Sobral-Bucelas e a estrada ao longo da margem do Tejo, passando por Alhandra. Fora destes itinerários, tornava-se impossível, em muitas extensões de terreno, a passagem da artilharia e de carros de apoio, ou mesmo da cavalaria.[18]

 
Mapa com representação das Linhas de Torres Vedras (Primeira e Segunda Linhas) e das posições ocupadas pelo exército de Wellington[19]

Os trabalhos foram cuidadosamente localizados, de forma a tirar vantagem do terreno rochoso, muito irregular e, por vezes, constituindo só por si um obstáculo. Os redutos variavam em tamanho e forma, de acordo com a importância que era dada à sua utilização e à morfologia do terreno em que se situavam. Esta grande adequação ao terreno mostra uma extraordinária adaptabilidade por parte dos engenheiros britânicos.[20]

As estradas que conduziam às linhas e as que estavam traçadas paralelamente a estas, foram destruídas, assim como as pontes que nelas se situavam. Todos os vales e passagens foram bloqueados com represas, abatises ou até muros de pedra. Em algumas colinas, a aproximação já íngreme foi transformada, tornando-se quase vertical, pela remoção de muitas centenas de toneladas de terra. Muitas colinas ficaram com o seu perfil alterado.

Para facilitar os movimentos das tropas e as comunicações laterais foram construídas estradas em algumas contra-encostas, protegidas da vista do inimigo. Estas estradas permitiam o rápido movimento de forças e dos abastecimentos entre qualquer ponto das linhas, do Tejo ao Atlântico. A transmissão de mensagens estava também assegurada por um conjunto de estações semafóricas que permitia enviar informação, entre qualquer ponto das linhas e o quartel general de Wellington, num curto espaço de tempo.[21]

A utilização das Linhas de Torres Vedras

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O exército anglo-luso entrou nas linhas entre 9 e 11 de outubro de 1810. No dia 11 todas as tropas encontravam-se ao abrigo deste sistema defensivo. As tropas de milícias e também de ordenanças guarneceram as diferentes obras de defesa e aí receberam treino de manobras defensivas. Nos quartéis-generais, onde se encontrava o comando de cada Distrito, foram estabelecidos depósitos de abastecimento. Aí foram também colocados dois oficiais de engenharia com a finalidade de explicar a natureza e o objecto das diversas posições preparadas para que, assim, as tropas as ocupassem e utilizassem da forma mais conveniente. Foi também montado um sistema de guias a cavalo para dirigirem as colunas de tropas que iam entrando nas linhas para as áreas que lhes estavam destinadas.[22]

As tropas do exército anglo-luso foram utilizadas como uma força móvel e não como guarnição as posições defensivas. Desta forma, estariam sempre disponíveis para se movimentarem para qualquer ponto das linhas onde a ameaça francesa viesse a colocar em perigo a integridade da defesa. Tendo em consideração os eixos segundo os quais um eventual ataque por parte dos franceses seria mais provável e mais perigoso, Wellington dispôs o seu exército, com excepção da 3ª Divisão (Picton), em dois blocos: um em frente ao Sobral, entre Monte Agraço e Runa; o outro, na região de Alhandra.[23] O quartel-general de Wellington ficou colocado na Quinta do Barão de Manique e o de Beresford no Casal Cochim, em Pêro Negro. As unidades do seu exército foram distribuídas da seguinte forma:

  • a 3ª Divisão (Picton) foi colocada na região de Torres Vedras;
  • as 1ª, 4ª e 5ª Divisões (Spencer, Cole e Leith), a Divisão Ligeira (Craufurd) e uma Brigada Independente portuguesa (Pack) ficaram na região em redor do Sobral, entre a Cadriceira e a Arruda;
  • a 2ª Divisão (Hill), a Divisão Portuguesa (Hamilton) e uma Brigada Independente portuguesa (Lecor) ficaram na região de Alhandra;
  • o grosso da cavalaria de Welligton encontrava-se em Vialonga;
  • uma Brigada de Infantaria britânica (Anson) e um destacamento de cavalaria encontravam-se em Mafra;
  • as tropas espanholas de La Romana (cerca de 8 000 homens) foram colocadas na região a sul da Enxara do Bispo.

Estas tropas, as que ocupavam as obras defensivas, a população de Lisboa e arredores e toda uma multidão que tinha sido transferida da região a sul do Mondego, viviam agora neste espaço da península de Lisboa. Não era possível, num espaço tão pequeno, obter alimentação para tanta gente e os abastecimentos que chegavam a Lisboa, por mar, iam essencialmente para as tropas. Estima-se que 2% da população portuguesa (de 40 000 a 50 000 pessoas) tenha perdido a vida devido à fome e às doenças.[24] Esta situação prolongou-se até Fevereiro de 1811, quando os Franceses começaram a retirar.

Lista de Fortes e Baterias e Outras Obras Militares

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  • Forte da Boa Vista (inclui Monumento Comemorativo das Linhas de Torres Vedras)
  • Forte da Serra do Formoso
  • Bateria dos Melros
  • Forte da Calhandriz ou do Chão da Oliveira
  • Forte da Quintela Pequena ou Pequeno de Quintela
  • Forte da Quintela Grande
  • Forte da Vinha ou da Abrunheira
  • Forte da Casa ou Reduto da Serra da Albueira
  • Forte Reintrante da Serra da Albueira ou da Rua Nova
  • Forte da Serra da Aguieira
  • Forte da Portela Grande
  • Forte da Portela Pequena
  • Forte 1º da Subserra
  • Bateria Nova da Subserra
  • Forte 2º da Subserra ou dos Sacos
  • Bateria do Casal da Entrega ou Forte do Policarpo
  • Forte Novo da Costa da Freira ou de Francisca Louro
  • Forte do Moinho Branco ou dos Sinais ou de Maria Joana
  • Forte de Os Dois Moinhos de Sarnadas ou Reduto das Sarnadas
  • Forte Novo da Serra do Formoso
  • Forte 1º da Calhandriz ou dos Borgados/Borgadas
  • Forte 2º da Calhandriz ou do Cabeço ou Mato Cabeço ou de Santa Catarina
  • Forte 3º da Calhandriz ou do Casalado ou do Cartaxo
  • Forte Novo do Cabo da Serra da Albueira ou do Cabo ou da Arroteia
  • Estrada Militar de Ajuda-Bucelas
  • Forte do Moinho da Boca da Lapa ou do Moinho Velho
  • Bateria do Viso da Serra ou do Viso
  • Forte do Mosqueiro-Cabeço de Montachique ou Reduto do Mosqueiro
  • Forte do Tojal ou Bateria da Espadarinha
  • Bateria da Barba do Picoto (vestígios)
  • Forte 4º da Calhandriz
  • Escarpamento dos Picotinhos
  • Estrada Militar de Alrota
  • Bateria da Oliveira
  • Reduto do Freixal Alto ou de Ribas
  • Bateria 2ª da Serra do Galvão (vestígios)
  • Forte da Carvalha
  • Forte Pequeno da Senhora da Ajuda ou Reduto da Ajuda Pequeno
  • Forte do Arpim
  • Estrada Militar de Ribas
  • Forte do Passo
  • Estrada Militar de Serves
  • Forte Grande da Senhora da Ajuda ou Reduto da Ajuda Grande
  • Forte 1º de Montachique ou Reduto da Achada 1
  • Forte de São Sebastião da Ajuda ou Forte do Cego
  • Bateria da Cachada
  • Bateria do Penedo
  • Forte 2º de Montachique ou Reduto da Achada 2
  • Forte do Picoto ou Reduto do Quadradinho
  • Forte do Moinho ou Reduto do Moinho
  • Escarpamento de Ribas
  • Escarpamento de Serves
  • Forte do Outeiro do Vale ou Reduto de Montachique
  • Forte do Moinho do Céu
  • Forte do Monte Agraço ou do Alqueirão (incluindo troço da Estrada Militar)
  • Forte da Retaguarda ou do Alto dos Galhofos ou Novo
  • Forte da Direita ou do Trinta
  • Reduto da Patameira (vestígios)
  • Forte da Frente ou do Machado
  • Forte da Esquerda ou do Simplício

[1]

Classificação como Monumento Nacional

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O conjunto das fortificações das Linhas de Torres Vedras foi declarado património nacional pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) no dia 01 de Março de 2018, sendo classificado como Monumento Nacional em 21 de Março de 2019. A proposta de classificação foi aprovada na reunião do conselho diretivo da DGPC de 21 de fevereiro de 2018 , tendo como objectivo, salvaguardar este património, mais precisamente 114 das 128 estruturas militares contempladas na candidatura, nomeadamente, fortes e estradas militares da primeira e segunda linhas defensivas. Além da classificação, foi criada uma zona especial de proteção em torno de cada uma destas estruturas.[25][1]

As fortificações a sul do Tejo

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Na margem esquerda do Tejo foi criada uma linha de redutos que ia da Costa da Caparica a Almada. Esta linha de defesa foi concebida com o objectivo de impedir que uma força francesa, que eventualmente atingisse aquela região, tivesse a possibilidade de, com a sua artilharia, ameaçar Lisboa ou a armada ancorada no rio. Esta linha destinava-se a ser guarnecida com marinheiros e fuzileiros navais britânicos, milícias e corpo de voluntários de Lisboa, um total de 7 500 homens. Dispunha também de 86 peças de artilharia. Perto da actual localização do monumento a Cristo-Rei foi montado um posto de sinais, para comunicar facilmente com Lisboa.

Ver também

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Bibliografia

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  • CÉSAR, Victoriano José, Invasões Francesas em Portugal, 3ª parte, Invasão Francesa de 1810, Lisboa, Tipografia da Cooperativa Militar, 1910.
  • FLETCHER, Ian (2003), The Lines of Torres Vedras, 1809–1811 [As linhas de Torres Vedras, 1809–11], Fortress (em inglês) (7), Osprey .
  • HUGHES, Quentin (1991), Military Architecture: the art of defense from earliest times to the Atlantic wall (em inglês), Great Britain: Beaufort Publishing .
  • JONES, Colonel John Thomas (1829), Memoranda relative to the lines thrown up to cover Lisbon in 1810 (em inglês), Londres .
  • NORRIS, AH & BREMNER, RW, As Linhas de Torres Vedras, as três primeiras linhas e as fortificações ao sul do Tejo, Câmara Municipal de Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, Outubro de 2001.
  • OMAN, Sir Charles Chadwick (2004), A History of the Peninsular War (em inglês), III, Greenhill Books .

Referências

  1. a b c «DGPC | Pesquisa Geral». www.patrimoniocultural.gov.pt. Consultado em 11 de março de 2021 
  2. Deve ler-se «Segundo Corpo de Exército»
  3. OMAN, p. 109
  4. COSTA, p. 67
  5. NORRIS & BREMNER, p. 29.
  6. FLETCHER, p. 17
  7. Dias, Maria Helena, José Maria das Neves Costa (1774-1841), PT: Instituto Camões .
  8. CÉSAR, p. 136 a 138.
  9. CÉSAR, p. 138 e 139
  10. NORRIS & BREMNER, p. 31 a 33.
  11. CÉSAR, p. 140.
  12. FLETCHER, p. 28
  13. FLETCHER, p. 6.
  14. FLETCHER, p. 14
  15. NORRIS & BREMNER, p. 97 a 113.
  16. Os algarismos colocados entre parênteses indicam o número atribuído à obra. Esse número está incluído no mapa que representa as duas primeiras linhas.
  17. Embora sejam estes os limites definidos para o Distrito nº 6 (2ª linha), conforme está descrito em CESAR, pp. 150-152, englobava os redutos avançados (62) a (71).
  18. FLETCHER, p. 17.
  19. de acordo com FLETCHER, p. 10-11
  20. HUGHES, p. 59.
  21. FLETCHER, p. 28.
  22. SORIANO, p. 215.
  23. OMAN, p. 434.
  24. FLETCHER, p. 25.
  25. Vedras, Câmara Municipal de Torres. «Linhas de Torres Vedras são monumento nacional». www.cm-tvedras.pt. Consultado em 11 de março de 2021 
 
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Ligações externas

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