Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria
O Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria, também conhecido como O Tratado da cozinha portuguesa, do século XV[1], é um códice de receitas manuscrito que pertenceu à Infanta D.ª Maria de Portugal, infanta de Portugal e duquesa-consorte de Parma e Placência, neta de D. Manuel I, a qual o terá trazido consigo, no seu enxoval, quando se casou com o Duque Alexandre Farnésio em 1565.[2]
O códice não está datado e desconhece-se a sua autoria, crendo-se que o mesmo terá começado a ser escrito ainda durante o séc. XV.[3] É tido como o mais antigo livro de cozinha português, por oposição à obra «Arte de Cozinha» de Domingos Rodrigues, que, por seu turno, é o primeiro tratado culinário português.[1]
História
editarA existência deste códice, que se encontra presentemente à guarda da Biblioteca Nacional de Nápoles, juntamente com mais seis manuscritos quinhentistas portugueses, só se tornou do conhecimento dos estudiosos por torno de, pelo menos, 1895, altura em que o historiador hispanista Alfonso Miola os descreveu sumariamente.[4]
Subsequentemente, foram objecto de estudo de Achille Pellizzari, ainda durante o início do séc. XX., o qual descreveu o manuscrito, com um códice numerado a lápis e com algumas folhas em branco, encontrando-se sob o título Tratt.Di Cucina Spagna na lombada do encadernado e depois repetido numa das folhas brancas já sob a forma Trattato di Cucina Spagnuolo.[4]
Desconhecendo-se a sua autoria e a data da sua feitura, crê-se, dada as suas características ortográficas, que o códice contém textos que, em grande parte remontam aos fins do século XV e princípios do séc. XVI.[4]
Julga-se, em todo o caso, que a terceira receita - referente a «vinho de açúcar que se bebe no Brasil», a qual Dias Arnaut reputa como um percursor histórico da cachaça - que aparece manuscrita em cursivo na segunda folha do códice, à guisa de acrescento tardio ou interpolação posterior, poderá ser já do séc. XVII, mercê de uma alusão ao Brasil como terra já amplamente conhecida.[4]
Em 1963, Erilde Realde recapitulou as investigações anteriores de Pellizari, acrescentando-lhes alguns pormenores e rectificando algumas falhas.[3]
A primeira publicação completa ocorre em 1967, pela Universidade de Coimbra, pela mão dos então professores Giacinto Manuppella e Salvador Dias Arnaut.[3]
Composição
editar“O Livro de Cozinha da Infanta D. Maria de Portugal” é composto por 73 páginas, numeradas a grafite, onde constam 67 receitas, por seu turno distribuídas em quatro cadernos e mais seis receitas avulsas que, apesar de não incidirem sobre matéria culinária, incidem sobre matérias de uso doméstico.[1]
O primeiro caderno é o Caderno dos manjares de carne com 26 receitas (numeradas da 4 à 29); o segundo, Caderno dos manjares de ovos, com 4 receitas (numeradas da 30 à 33); em seguida encontra-se o Caderno dos manjares de leite com 7 receitas (numeradas da 34 à 40); e, por último, o Caderno das cousas de conserva com 24 receitas (numeradas da 41 à 67).[2]
Referências
- ↑ a b c «MATRIZ PORTUGUESA». web.archive.org. 16 de setembro de 2019. Consultado em 10 de setembro de 2024
- ↑ a b Dias Arnaut, Salvador (1967). O "Livro de Cozinha" da Infanta D. Maria de Portugal. Coimbra: Universidade de Coimbra. 435 páginas
- ↑ a b c Dias Arnaut, Salvador (1967). O "Livro de Cozinha" da Infanta D. Maria de Portugal. Coimbra: Universidade de Coimbra. pp. 14–15,17,73
- ↑ a b c d Dias Arnaut, Salvador (1967). O "Livro de Cozinha" da Infanta D. Maria de Portugal. Coimbra: Universidade de Coimbra. pp. 14–17