Maria Evelina de Sousa
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Maria Evelina de Sousa (1879 – 1946), foi uma educadora inovadora e jornalista micaelense prolífica na primeira metade do século XX, em Portugal. Era feminista, participou nas lutas pelos igualdade de direitos para as mulheres, foi co-fundadora da primeira organização de protecção dos direitos dos animais dos Açores e fundou vários jornais. As suas primeiras biografias omitiram que ela era abertamente lésbica. Em 2017, foi homenageada postumamente pelo governo autónomo dos Açores com a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico.
Maria Evelina de Sousa | |
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Nascimento | 1 de janeiro de 1879 Ponta Delgada |
Morte | 12 de fevereiro de 1946 (67 anos) Ponta Delgada |
Cidadania | Portugal, Reino de Portugal |
Ocupação | professora, jornalista |
Percurso
editarMaria Evelina de Sousa, conhecida como Evelina, nasceu no dia 1 de Janeiro de 1879, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, no então reino de Portugal. Ela frequentou a escola distrital de instrução de professores, fazendo os exames finais em 1900. [1]
Em 1904, de Sousa começou a ensinar na escola de Santa Clara e começou a escrever para o jornal O Campeão Escolar, dedicado a assuntos educativos. [1]
Em 1906, foi viver para casa de Maria Emília Borges de Medeiros que vivia com a sua amiga Alice Moderno desde 1893. Mais tarde, Evelina e Alice (que se vestia como um homem) viveram publicamente como um casal, vivendo juntas por mais de 40 anos, apesar do ambiente conservador da altura. [2][3][4][5][6]
Nesse mesmo ano, Evelina fundou a Revista Pedagógica, o qual dirigiu e redigiu durante a década seguinte. A revista, publicada entre 1906 e 10916, abordava questões relacionadas com o ensino, temas do interesse dos professores e o trabalho desenvolvido pela organizações feministas que iam surgindo no país. Através dela Evelina divulgava novos métodos pedagógicos, criticava o estado da educação e do ensino nos Açores e no resto do país publicando textos de colaboradores locais e nacionais. A importância deste periódico foi reconhecida pela universidade dos Açores e exercia influência sobre os círculos académicos locais e nacionais. [7][8][1][9][10]
Colaborou com o jornal republicano A Pátria, publicado em Ponta Delgada de 1918 a 1925. [7]
Evelina envolveu-se em inúmeros projectos que tinham como objectivo melhorar a educação e o ensino na ilha. Ao participar nos censos escolares, ela relatou que em 1911 apenas um quarto das crianças em idade escolar, estava inscrita numa das 4 escolas disponíveis. Alertou também que para o facto de o número de professores formados era insuficiente, eram apenas 150 enquanto a população infantil em idade escolar era composta por mais de 6000 crianças de ambos os sexos. [11]
Através de conferências a que assistiu, ficou a conhecer o Método Legográfico-Luazes para ensinar a ler e escrever desenvolvido por Amália Luazes, e concordou em ensiná-lo a outros professores, gratuitamente.[12] Ela também promoveu a cartilha e o método criado pelo pedagogo João de Deus. [13]
Ela também era a favor do decreto que proibia o ensino da doutrina religiosa nas escolas. [1][8]
Em 1909, Evelina criou a primeira biblioteca escolar da ilha, na Escola Feminina de Santa Clara, onde era professora. Esta biblioteca foi a primeira do género nos Açores e uma das primeiras de Portugal e visava o combater o analfabetismo. Os livros podiam ser levantado não só pelas alunas como por estranhos. Evelina defendeu também a criação de mais bibliotecas de maneira a facilitar o acesso a livros a todos. [1] [14]
É também em 1909 que viaja até Lisboa onde visita várias escolas da capital e contacta outras feministas como a pedagoga Ana de Castro Osório, a escritora Olga Morais Sarmento, a jornalista Virgínia Quaresma, entre outras. [13]
No mesmo ano, ela e Alice Moderno fundam a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais. [15][5][16]
Era membro de várias organizações feministas e foi homenageada por várias delas, entre elas a Associação Feminina de Propaganda Democrática que apoiava a acção politica de Afonso Costa. [7][8][16]
No inicio de 1915, Evelina trabalhou na equipa editorial do jornal A Folha, fundado em 1902 por Alice Moderno. Foi correspondente do Correio dos Açores, publicando poesia e editoriais. Ela reformou-se do ensino no dia 13 de Julho de 1940, a Escola Agostinho Machado Bicudo Correia foi a última onde trabalhou. [16][1]
Evelina morreu no dia 12 de Fevereiro de 1946 e foi enterrada no cemitério de São Joaquim, na cripta comprada por Alice.[15][5][17]
Alice morreu 8 dias após a sua morte, no dia 20 de Fevereiro de 1946. [18]
Reconhecimento e homenagens
editar1912 - Ela e Alice são homenageadas em Lisboa, pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas [8]
1924 - Os seus esforços para melhorar o ensino são reconhecido no I Congresso Feminista e de Educação que se realizou em Lisboa [1][8]
2013 - O jazigo de Alice Moderno foi recuperado e o nome de Evelina de Sousa é acrescentado à placa identificativa em reconhecimento do seu trabalho cívico. [19]
2017 - O Município de Ponta Delgada, atribuí-lhe a Medalha de Ouro, no âmbito das comemorações dos 471 anos de elevação a cidade [20]
2017 - Postumamente homenageada pelo governo regional dos Açores com a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico. [21]
2020 - É uma das personalidades homenageadas no livro Vida exemplares do escritor Teófilo Braga. [22][23]
Referências
- ↑ a b c d e f g «Evelina de Sousa, Professora e Educadora, faz hoje 70 anos que faleceu | Ruas com história». web.archive.org. 28 de junho de 2017. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ Arquipélago: revista da Universidade dos Açores. Línguas e literaturas. [S.l.]: Universidade dos Açores. 1988
- ↑ «Wayback Machine» (PDF). web.archive.org. 14 de janeiro de 2019. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ «Lesbians in Twentieth-Century Portugal: Notes Towards History | Lesbian | Homosexuality». Scribd. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ a b c «Recordar ALICE MODERNO». Consultado em 22 de setembro de 2020
- ↑ Almeida, São José (14 de janeiro de 2019). «Lesbianismo e Primeira República (discurso), 100 anos da Implantação da República: Grupo das Treze a 13 de Outubro» (PDF). web.archive.org. UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ a b c «Alice moderno (1867 1946) apontamentos sobre a vida e a obra jan 2018». Issuu (em inglês). Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ a b c d e «Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa homenageadas em Lisboa». Correio dos Açores. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ María, Hernández Díaz, José (10 de outubro de 2018). La prensa pedagógica de los profesores. [S.l.]: Ediciones Universidad de Salamanca
- ↑ Arquipélago: revista da Universidade dos Açores. Línguas e literaturas. [S.l.]: Universidade dos Açores. 1988
- ↑ Claire T. Carney Library, University of Massachusetts Dartmouth (1918). Revista michaelense. [S.l.]: Ponta Delgada, S. Miguel, Azores : [s.n.]
- ↑ «Método legográfico, por Amália Luazes». casacomum.org. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ a b Esteves, João (10 de agosto de 2015). «Silêncios e Memórias: [1059.] MARIA EVELINA DE SOUSA [I]». Silêncios e Memórias. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ Silva, Lázaro Manuel Lopes da (2018). As Bibliotecas Escolares nos Açores: percepções e expectativas dos professores bibliotecários (tese de mestrado). Angra do Heroísmo: Universidade Aberta
- ↑ a b «Roteiro de alice moderno na cidade de ponta delgada versão um». Issuu (em inglês). Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ a b c Flores, Conceição (2017). «Alice Moderno o exercício das letras e da cidadania». Revista de Escritoras Ibéricas
- ↑ «Maria Evelina de Sousa (1879-1946) – Memorial...». pt.findagrave.com. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ vários (24 de fevereiro de 2014). Dicionário de Literatura Gay: 6ª edição. [S.l.]: INDEX ebooks
- ↑ «Por proposta do BE autarquia recupera jazigo de Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa em homenagem ao seu legado». Site Regional dos Açores - Bloco de Esquerda. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ «Câmara homenageia 11 personalidades e instituições no Dia da Cidade». www.cm-pontadelgada.pt. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ «Açores distinguem 30 personalidades e instituições no Dia da Região». Açoriano Oriental. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ «Vidas Exemplares - Livro Letras Lavadas». Letras Lavadas. Consultado em 23 de setembro de 2020
- ↑ Açores, RTP, Rádio e Televisão de Portugal-RTP. «Teófilo Braga fala do seu novo livro Vidas Exemplares (Som) - Cultura - RTP Açores - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 23 de setembro de 2020